Em
entrevista, a secretária de Cultura minimizou tortura e ditadura
As atitudes da secretária nacional
de Cultura, Regina Duarte, que cantou a marcha da ditadura e desdenhou das
mortes e torturas praticadas durante o regime militar, em entrevista à CNN
Brasil, causou controvérsia e repercutiu nas redes sociais. Enquanto o ministro
do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e o general Eduardo Villas Boas, ex-chefe
do Exército, saíram em defesa da atriz, ex-colegas artistas postaram críticas
às posições dela.
Marcelo Álvaro Antônio irritou-se
ao ser perguntado sobre o assunto. “Acho que a gente precisa focar mais naquilo
que é relevante para o Brasil. A Regina participou de uma entrevista que eu
acho que foi feita de uma forma inadequada. Não precisava daquele tom, daquele
nível. Vou me abster de fazer comentários.”
O general Eduardo Villas Boas
elogiou a postura da atriz pelas redes sociais. “Fiquei encantado com a Regina
pela demonstração de humanismo, grandeza, perspicácia, inteligência, humildade,
segurança, doçura e autoconfiança que nos transmitiu”, escreveu nas redes
sociais. E prosseguiu: “Apreciei a firmeza com que reagiu à desleal tentativa
(dos jornalistas) de confrontá-la com a artista Maitê Proença”.
Perplexa: Entre colegas, as críticas
inundaram a internet. Maitê Proença, cujo vídeo com perguntas a Regina
desencadeou o “chilique” (como a própria secretária se referiu ao ataque que
teve ao vivo), participou de uma live, ontem, com a diretora e produtora Adriana
Dutra e contou o que aconteceu.
“A CNN me pediu, como a Regina foi
lá conversar, para ver como ficava a situação da Cultura, porque acho que está
na hora de fazer alguma coisa como classe. Acho que ela não quis ouvir.
Presumiu que era coisa do passado”, explicou. No vídeo que seria passado para
Regina e que está nas redes sociais de Maitê, a atriz afirma que “a Cultura
está perplexa” com a falta de informações.
“Estamos sobrevivendo de
vaquinhas. Até quando isso vai se sustentar. São poucos os que têm reserva
financeira para milhares que estão à míngua. Enquanto isso, morrem gigantes
como Rubem Fonseca, Moraes Moreira, Aldir Blanc e Flávio Migliaccio, e nenhuma
palavra do presidente e nenhuma palavra da secretária. Fale com sua classe,
Regina, precisamos de você”, diz, no vídeo. Na live de ontem, Maitê lamentou
que não exista diálogo com o governo. “O que tem é cala boca para cá e cala
boca para lá”, criticou.
Filha de Regina Duarte, a atriz
Gabriela Duarte recebeu uma enxurrada de apelos de internautas para que
interdite a secretária. Outros artistas também se manifestaram nas redes. A
cantora Anitta fez duras críticas no perfil da secretária no Instagram. “Uma
pessoa que aceita assumir a Secretaria de Cultura está aceitando trabalhar para
o povo. Isso significaria escutar também os lados que pensam diferente da
senhora e colocar sua posição sobre a questão. Se recusar a ouvir uma opinião
contrária logo depois de enaltecer os tempos de ditadura me causa muito medo”,
postou.
Walcyr Carrasco, escritor e dramaturgo,
lamentou a transformação da atriz em secretária. “Regina, você foi minha amiga
e abriu portas no início da minha carreira. Por isso, dói muito vê-la neste
novo papel de secretária. Fiquei chocado quando, na entrevista, você
simplesmente achou normais as mortes e chancelou a tortura. O que aconteceu com
você, Regina?”, indagou.
O ator Bruno Gagliasso postou uma
foto da entrevista e escreveu que não dá para desculpar o deboche com os
torturados pelo Estado, a arrogância ao dar de ombros às minorias, o silêncio,
a falta de projetos e a forma como a secretária trata os trabalhadores do
audiovisual brasileiro. “Não dá para desculpar sua falta de diálogo com a
categoria, a sua estupidez com jornalistas e ex-colegas de trabalho. Não dá
para desculpar a preferência que a senhora tem por ditadores, genocidas,
irresponsáveis.”
"Fiquei encantado
com a Regina pela demonstração de humanismo, grandeza, perspicácia,
inteligência, humildade, segurança, doçura e autoconfiança que nos
transmitiu" (Eduardo Villas Boas, ex-comandante do Exército)
Por Simone Kafruni - Ingrid Soares - Foto: Isac Nóbrega - PR. - Correio Braziliense