De acordo com a chefe de doenças emergentes da Organização Mundial
da Saúde, Dra. Maria Van Kerkhove, novas pesquisas indicam que a transmissão de
covid19 por assintomáticos pode ser muito mais baixa do que se imaginou até
então. Com isso, faz-se necessária a reflexão sobre o significado de uma gestão
de crise, isto é, aquele gestor que simplesmente adere ao que diz a suposta “ciência”
se preocupa realmente com seus representados ou apenas quer livrar o próprio
pescoço de eventuais responsabilizações? Agora, sem a muleta de uma falsa ciência, ser gestor significa algo mais. Significa buscar a integração funcional.
Por Victor Dornas
O Brasil contou com o privilégio de antever os efeitos da
covid19 tendo o tempo que nenhum dos outros países com extensão continental
teve. Com isso, embora nós tenhamos sofrido em alguns estados os efeitos da escassez
de unidades de terapia intensiva no ambulatório público, a curva de fato
achatou. Uma das pretensões do isolamento, como todos sabem, era de impedir o
colapso dos hospitais e tal feito no Brasil. Ocorre que, assim como um bom
remédio que inibe um mal, porém provoca outros efeitos colaterais, a previsibilidade
que possibilitou ao nosso país achatar essa curva de contágio nos impôs um
período de clausura maior, de modo que enquanto o mundo inteiro ensaia a
readaptação, o pico no Brasil parece estar se comportando de um modo diferente,
a despeito de todos os nossos problemas de aferição.
Em suma, o achatamento também impõe um período de clausura
maior, no modelo que até então vinha sendo tratado como consenso científico em
todas as suas nuances.
A pergunta que deveria ter sido feita é a seguinte: O Brasil
estava preparado para arcar com um período de clausura maior? Evidentemente,
não. Por isso, diante da cizânia entre o presidente, governadores e prefeitos o
país adota uma espécie de esquizofrenia normativa, com aval do Supremo, onde
cada região faz aquilo que quiser e, a despeito dos registros, muitas vezes interpreta
que fim do isolamento não seria mais uma opção e sim uma urgência.
Ocorre que se o país não estava preparado para ficar tanto
tempo “fechado” pois, ao contrário dos grandes varejistas que estão “muito bem,
obrigado”, nós afundamos na informalidade e somos formados por pequenos comerciantes,
a adoção de um modelo diverso seria uma opção? De acordo com a OMS, não. Assim
como a organização negou inicialmente que as máscaras tivessem efeito positivo
na luta contra a pandemia e depois tiveram que mudar sua posição, ela sempre
foi a voz protagonista contra a sugestão de modelos alternativos, ou ainda, na
divulgação de modelos alternativos que deram certo em alguns países.
Não se fala aqui de um “libera geral” ou da “gripezinha”
aventada pela desastrosa condução publicitária da gestão de crise do governo federal,
mas sim de um diálogo que nunca houve.
Um país como o nosso, com previsão deficitária impensável
para este ano, talvez se beneficiasse bastante de um modelo alternativo que tivesse
como base a informação de que pessoas assintomáticas não transmitem o vírus com
recorrência determinante. A China não está nem um pouco interessada nisso, pois
lá o ser humano não é dotado de alma. Num regime como uma ditadura, onde
direitos individuais pouco importam, é muito mais fácil simplesmente isolar o
local e abafar as repercussões do ato, pois não há imprensa livre.
Mas aqui, a OMS agora, depois de tanto tempo, decide falar
aquilo que precisávamos ouvir.
A grande mídia, receosa em admitir impropérios de sua militância e insurgência política partidarizada, ainda
sopesa a questão da interferência política desastrada na divulgação de dados
pelo Ministério da Saúde como se fosse mais importante do que essa constante
revisão de postura de um órgão formado por sei lá quem que detém o poder de se
conclamar como porta voz da ciência.
Não há nada mais crucial para a nossa situação do que essas
revisões da OMS.
Evidente que esses dados exigiriam uma coordenação de esferas
políticas que nós aqui, nessa guerra institucional, nunca tivemos. Porém, com
uma voz dissonante vinda de fora, talvez nós tenhamos agora mais munição para
que os homens públicos deixem suas rixas de lado e passem a trabalhar com coordenação
buscando modelos mais inteligentes de restrição social.
O mal gestor, no início da pandemia, só se preocupava mesmo é
com a própria integridade física e com uma simples canetada proibitiva chancelada
pelo Supremo. Agora, entretanto, com essas declarações conflituosas da OMS a
gestão pública se tornou mais complexa. Agora o gestor, no caso, principalmente os governadores,
terão que raciocinar com mais cautela pois não há mais a tal “ciência” para
corroborar todos os seus atos de um modo tão simplório como, por exemplo, uma
canetada proibitiva que se faz em duas linhas.
Sem a tal ciência, que nunca existiu de fato, a única saída
para o Brasil é a paz. A coordenação institucional. É crucial que a imprensa como um
todo reconheça o armistício imperioso na política. Não há mais tempo para brigas inúteis.
(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas , fotos ilustração: Blog-Google..
(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas , fotos ilustração: Blog-Google..