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A DIREITA BOB JEFF (Coluna Victor Dornas)


Por Victor Dornas 
Muito se fala em liberdade de imprensa, porém nada se diz sobre algo tão importante quanto que é o seguinte fenômeno: Quando não há debate verdadeiro ou pluralidade de ideias na mídia influenciadora, ela automaticamente se transforma num ente político sedento por decidir eleições. Deixa de ser imprensa e vira uma espécie de braço de atuação de políticos ou monopolistas em seus interesses particulares.

Dito isso, uma vez que existam dois lados, nada impede que um articulista busque não se filiar a qualquer um deles. Até mesmo pelo motivo desses lados se ramificarem em inúmeros outros tipos de agrupamento de ideias. Por mais confuso que pareça na prática, a essa coisa feia e poluída dá-se o nome de democracia. É feia, porém é de longe o melhor que nós temos.

Dessa ramificação nasceu, por exemplo, no Brasil, no seio ideológico do governo bolsonarista uma direita que gosta de dialogar com qualquer pessoa que elogie o seu líder ou até mesmo profira comentários razoáveis nesse sentido. Na visão de um político experiente como Bob Jeff, que também atende pela alcunha de Roberto Jefferson, isso não é apenas uma oportunidade mas, acima de tudo, um filet mignon. Jeff sabe tudo sobre os bastidores da política. 

Ele viu Gilmar Mendes estagiando. E sabe também como cravar frases lacradoras, tipo “você desperta em mim meus instintos mais primitivos.”. Jeff, no meio dessa garotada, deita e rola. Quando um moleque entrevista um político experiente, não há entrevista e sim comício. E é justamente isso que Bob vem fazendo nesses nichos de direita. Comício. Bob agora é cristão, militante pela família cristã tradicional, contra o aborto, etc. Assimilou a cartilha em minutos.

O comício em questão tem por objetivo legitimar a aproximação de Bolsonaro com os caciques do Legislativo, que embora ainda não detenham as rédeas do poder, uma vez que Bolsonaro normalmente vende cargos submetidos à pessoas de sua confiança, sabem que o governo sangra diariamente por não ter muito apoio midiático com boa formação intelectual e pelas próprias aberrações promovidas por Bolsonaro, como por exemplo ter feito suas visitinhas nas cidades satélites do Distrito Federal que hoje estão inflamadas por COVID 19 de modo que alguns sites já nos colocam como o epicentro virulento mundial.

Não me aquiesce a ideia de que o político responde pela ignorância do povo e sim o contrário. Ainda assim, é inegável que Bolsonaro deu o mal exemplo e essas cidades que ele visitou, formadas em grande parte por pessoas que não podem se dar ao luxo do “fique em casa”, também desprezaram as máscaras e desde o início da pandemia parecem não acreditar em nada disso. Ou seja, ele no mínimo reforçou a burrice de muita gente e também por isso sangra na mídia dia a dia, além dos escândalos familiares típicos do nepotismo.

Nossa democracia incipiente não tem propriamente uma direita e uma esquerda. Basta comparar nas redes sociais as postagens de Bolsonaro e Donald Trump. Quando Trump posta qualquer coisa, por ser o líder político mais odiado pela mídia global, vem uma enxurrada de críticas, porém críticas articuladas, com frases e comentários bem construídos. Já Bolsonaro, ao postar qualquer coisa, o que se vê são memes, ameaças de morte, comentários de adultos que escrevem como crianças, ou seja, ali se percebe bem que a média intelectual brasileira ainda é baixa demais para se pensar num debate político polarizado.

Antigamente se via gente como Paulo Francis tentando estabelecer um contraponto na alta mídia brasileira. Hoje percebemos grupinhos sem muito estudo que se curvam diante de um astrólogo com delírios de grandeza que se diz incrédulo sobre o formato da Terra e que fazem palanque pra uma figura tão aberrante como Bob Jeff. É essa porcaria aí que se chama direita no Brasil e disso não se deve esperar mesmo nada melhor do que Jair Bolsonaro.

A ideia é trabalharmos com aquilo que temos. Sonhando com dias melhores e que quando um brasileiro seja chamado ao New York Times, que seja alguém com ao menos um mínimo de vocabulário que seja, ou que não tenha como currículo um canal de mídia destinado a fazer graça pra tirar dinheiro de criança. Essa dicotomia direita e esquerda no Brasil é uma piada de mal gosto. De um lado, Bob Jeff fazendo comício e de outro, militantes pedindo a morte do presidente. Não é isso que garantirá que tenhamos ao menos bons nomes para nos ancorar.

Ainda falta muito. Ainda falta o básico. Bob Jeff nem é gente.



(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google

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