Cristovam
Buarque (Cidadania), ex-governador do DF e ex-senador
Recentemente, o senhor fez uma
postagem no Twitter em que questionava: “onde erramos?”. O senhor escreveu um
livro sobre isso. No post, houve críticas tanto da esquerda quanto da direita.
Por que isso incomodou tanto? Na sua visão, a ascensão de políticos como
Bolsonaro ao poder é, de fato, culpa dos políticos do campo progressista? Incomodou porque cada grupo joga culpa nos outros.
A autocrítica não é um dom dos políticos, sobretudo dos que se julgam donos da
verdade, sejam de esquerda, sejam de direita. Por isso, criticam sem ler nem
mostrar quais os erros do livro: Por que falhamos: O Brasil de 1992 a 2018.
Qual a principal falha? Foi mais
grave perder a capacidade de se comunicar com parte da população ou
decepcioná-la? Coloco 24
falhas. A primeira: a divisão do PSDB e do PT. Colocaram as eleições municipais
na frente do Brasil. Segunda: não apresentamos uma utopia nova, que para mim
teria sido o Brasil ter uma educação de qualidade e o filho do pobre na mesma
escola no filho do rico. Um dos piores erros foi alguns caírem na corrupção e
muitos fecharem os olhos para corrupção dos correligionários. Foi um erro
acreditar em narrativas falsas de que estávamos mudando o Brasil.
É possível se recuperar desses
erros? Claro que vamos nos recuperar.
Mas, para isto, é preciso reconhecer os erros, pedir desculpas ao povo pelos
erros, mostrar as coisas boas que fizemos e oferecermos um programa novo para o
futuro.
Ao fazer essa autocrítica, onde o
senhor considera que errou? Eu sou parte desse conjunto. Um erro pessoal foi não ter conseguido
convencer o Presidente Lula da importância da educação de base e da necessidade
da federalização.
Arrepende-se do voto a favor do
impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff? Não posso me arrepender de um gesto que me senti
obrigado a fazer, por coerência. Falei dois anos que a presidente Dilma cometia
crime de responsabilidade, alertei das consequências, que vieram. Eu seria
incoerente se votasse diferente do que eu falara. Se foi um erro político, foi
um acerto moral. Sempre coloquei a moral na frente da política. Fiquei meus
anos na política zelando por esta coerência, e não a perdi. Apesar de perder
amigos, eleitores, ser agredido na rua e ver até a minhas netas de 10 e 6 anos
sendo agredidas. O Gabinete do Ódio já existia antes. Felizmente, naquele
momento eu tive coragem para continuar coerente. Hoje, era capaz de eu ser mais
pragmático e menos coerente.
O senhor foi ministro da Educação,
como vê a sucessão de crises no MEC? Há esperanças com o novo escolhido? O problema da educação não está no ministro, mas no
presidente. Ministro não manda e se tenta mandar, cai. Sobretudo se carrega o
celular em viagem. O atual governo vai cometer o triste milagre de piorar a
educação, que já era ruim quando ele chegou.
Como o senhor, que também foi
governador, tem avaliado a gestão de Ibaneis? Depende do dia.
Mas como o senhor vê a condução da
crise nestes últimos dias pelo governador? Acha que ele acerta ao reabrir todo
o comércio? Esta pergunta é para os médicos.
Pelo que eu ouço no noticiário sobre outras cidades brasileiras e o resto do
mundo, acho que ele comete um erro. Sabemos das dificuldades da população,
nossas crianças estão traumatizadas e muitas nunca vão recuperar plenamente a
educação, vemos as notícias de empresas encerrando atividades, mas todas as
informações são no sentido de que precisamos agir como deu certo em outras
partes “distanciamento, graças ao isolamento”. Onde os governos cederam às
pressões e optaram pelo mais fácil de ignorar o vírus, este terminou vencendo.
E a popularidade do governante junto aos eleitores foi paga com a morte de seus
familiares.
Alexandre de Paula – Coluna “Eixo
Capital” – Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press – Correio Braziliense
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À QUEIMA-ROUPA