Adeus a um pioneiro das obras da
capital. Engenheiro que construiu Brasília, Hilderval Teixeira, 88 anos, morreu
de covid-19, após 14 dias internado. Ele atuou no projeto da Catedral, do
Palácio Itamaraty e do Alvorada
Aos 88 anos, o pioneiro Hilderval
Teixeira perdeu a luta contra a covid-19, após ficar internado 14 dias na
unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Sírio-Libanês, na Asa Sul.
Segundo a filha caçula, Adriana Novais Teixeira, 54 anos, ele foi diagnosticado
com o novo coronavírus e chegou ao hospital em 6 de julho. Por causa das
limitações impostas pela pandemia, não houve velório. Ele foi sepultado na Ala
dos Pioneiros, no Cemitério Campo da Esperança, no Plano Piloto. Hilderval
Teixeira deixou a mulher, três filhos, cinco netos e uma bisneta, que está para
nascer.
Maria do Carmo e Hilderval
Teixeira: 60 anos de casamento
Familiares lembraram com bastante
carinho a pessoa alegre e de bem com a vida que era Hilderval. “Tudo era motivo
de brincadeira. Mesmo nos momentos difíceis, ele nos fazia sorrir. Todo mundo
que o conheceu fala que o meu pai era de um coração enorme”, conta a filha
Adriana.
O mineiro chegou a Brasília em
1958, para trabalhar como engenheiro da Companhia Urbanizadora da Nova Capital
(Novacap) em várias edificações importantes na futura capital do país. Atuou na
construção da Catedral, do Palácio Itamaraty e do Palácio da Alvorada. Além
disso, foi o engenheiro responsável por fixar a obra Os Guerreiros, também
conhecida como Dois Candangos, na Praça dos Três Poderes. Também participou da
obra do prédio da Imprensa Nacional, do Colégio Elefante Branco e do Jardim de
Infância 21 de abril.
Hilderval viu a capital do Brasil
nascer, e o amor pela cidade foi tão grande, que ele trouxe boa parte dos
familiares para Brasília. Casou com Maria do Carmo Gonçalves Novais Teixeira em
1959, em uma cerimônia no interior de Minas Gerais. Porém, os filhos tinham de
nascer na capital. E assim foi. Maria do Carmo, 82, lembra com carinho do
marido, com o qual ficou casada por mais de 60 anos. “É um momento difícil, mas
a gente sabe que ele partiu e deixou bons frutos. Levou uma vida muito bonita.
Fomos muito companheiros, viajamos muito. Ele deixou uma saudade imensurável”,
relata. (Hilderval, deixa a esposa, tres filhos, cinco netos)
No baú de memórias, Maria lembra
do dia em que Hilderval a chamou para tirar uma fotografia com Bruno Giorgi,
artista que criou o monumento Os Guerreiros. “Estava na minha primeira
gravidez, e ele me levou para tirar essa foto. Algum tempo depois, alguém
pegou, carregou a fotografia. Ele ficou tão bravo. Eu disse para não ligar para
isso, o que importa é que temos no coração essa imagem”, conta. Atencioso,
Hilderval construiu a primeira casa do casal, onde hoje fica a Vila Planalto.
“Eu estava grávida, e ele deixou um amigo de prontidão, com o jipe na frente de
casa, para quando eu entrasse em trabalho de parto ou precisasse de qualquer
emergência”, relata.
Para Maria do Carmo, Hilderval
transmitia alegria, gostava de cantar e era festeiro, além de companheiro para
todos os momentos. Os dois conheceram-se quando trabalhavam na Novacap, e a
paixão pela cidade e pelo trabalho também era compartilhada pelos dois. No fim
da década de 1980, ele foi diagnosticado com mal de Parkinson e se aposentou.
Há pouco tempo, também começou a tratar um câncer na próstata. No ano
passado, o casal comemorou bodas de diamante. “Na lembrança, demos para os
convidados uma representação da escultura dos Dois Candangos”, diz Maria do
Carmo.
O amigo e pioneiro Paulo Janot
Borges, 90 anos, lamenta a morte do engenheiro. “É uma perda lamentável para o
grupo de pioneiros de Brasília. É uma amizade que vai deixar saudade”,
ressalta.
Cibele Moreira – Fotos:
Arquivo/Família – Correio Braziliense
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