Por Victor Dornas
Decotelli de fato
enganou a todos. Foi linchado por racismo? Não, uma vez que o escândalo não
apenas ilustra a farra da mitomania dos diplomas no Brasil mas demonstra que
ele não era um técnico e sim uma indicação do centrão, além de não ter tido
sequer a dignidade de ser a quase figura pública que notadamente mais falsificou
o Lattes (e vejam que a concorrência é vasta, em todas as esferas aliás, desde
Dilma Roussef ao advogado supremo e “não juiz” Alexandre de Moraes que também
mentiram na plataforma indicando que eram doutores).
A falsificação do
Lattes deveria ser crime de falsidade ideológica, contudo o STJ (sempre as
esferas maiores protelando também os maiores avanços) diz que não, legitimando
por óbvio essa prática nefasta de cafajestagem acadêmica que serve para nomear
incompetentes, como o próprio Decotelli, a cargos comissionados, tal qual o de
gerir o FNDE, fundo que movimenta mais de 50 bilhões por ano e permite a
licitação criminosa de 30 mil notebooks para uma escola de duzentos alunos, por
exemplo.
Decotelli manchou uma semana crucial de
vitórias do governo. A aprovação do marco do
saneamento, por exemplo, tem importância equivalente à reforma previdenciária,
pois trata-se de um cancro que se arrasta a décadas atravancando os avanços e
deixando quase cem milhões de brasileiros sem condições mínimas adequadas à um
governo que torra tanto com coisas inúteis. Uma vitória e tanto que tem o
dedinho de Ricardo Salles, inimigo número 1 da patota da grande mídia
financiada por interesses estrangeiros que competem conosco que nos aplicam punições
para frear nossas exportações agrícolas.
Além disso, o governo
também finalizou pendências antigas como o drama interminável do Velho Chico,
com a transposição iniciada lá no primeiro mandato do Lula, quando ainda havia
alguma gente boa na governança petista mas que acabou sendo protelada pela
sucessão de escândalos de corrupção envolvendo o PT. Quem reclama dos ministros
do atual governo deve ter memória curta ou pouca idade uma vez que naquele
tempo, principalmente na gestão Dilma, só no primeiro ano havia uma dúzia de
ministros denunciados por crimes de corrupção. Michel Temer então nem se fala.
Aliás, há uma modinha de dizer “Volta Temer” como se ele fosse uma espécie de
Itamar Franco. Não, não!
Temer tinha era apoio da mídia para não dar o peso
devido aos sucessivos escândalos de seu governo, incluindo aqueles
protagonizados por ele próprio. Mas Temer soube garantir as anistias devidas
aos bancos e com isso barganhou com os patrocinadores de muitos formadores de
opinião. Longe de um Itamar! Muito longe! Houve também o início
da quebra do monopólio da Globo da exibição do futebol, por iniciativa do
Flamengo, meu time de coração que doravante conta com o apoio do governo para
ampliar o feito nesta máfia oligopolista do esporte. Tudo isso demonstra que
Decotelli, ou o próprio escândalo do Queiroz e o bando de milicianos que
rodeiam a família Bolsonaro estão muito mais vinculados à figura personalíssima
de Jair Bolsonaro do que com o governo em si.
O presidencialismo educa muito
mal os cidadãos, de modo que passa-se a ideia de que o governo é apenas aquele
núcleo de Jair e suas canetadas, que de fato pesam bastante, mas não
representam a realidade do governo em si, ou seja, milhares de pessoas. Se há
um corte de pastas ministeriais, por exemplo, trata-se de uma vitória do
governo e não apenas de Jair Bolsonaro. Todos esses feitos ocorridos nas
últimas semanas são vitórias dos brasileiros e dessas milhares de pessoas que
tentam levar o governo adiante.
É necessário separar
bem as coisas , pois cria-se no noticiário uma novelinha de Jair Bolsonaro ao
passo que o governo como um todo acaba sendo ignorado, coisa que extravaza a
insatisfação do eleitorado que começa a perceber um vício de falha de acordo
com os fatos da realidade propriamente dita. Isso aconteceu com o PT, em certa
medida, mas acontece muito mais hoje em dia, pelo asco que alguns jornalistas
tem com a figura do presidente, de modo que, por orgulho ou coisa pior, passam
a ignorar tudo que o governo faz de bom.
A
guerra política protagonizada por poucos indica má educação política e entendimento juvenil sobre a realidade, talvez insuflada por antigas ideologias
que sobrevivem mal enterradas nos maiores pecados cometidos no Brasil.
(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google