Por Victor Dornas
A denúncia de 35 páginas da Lava Jato paulista que abateu o tucano José Serra por lavagem de dinheiro decorrente do cartel na obra do rodoanel pela Odebrecht envolvendo pelo menos 8 figurões e, no caso de Serra e filha, num importe de 40 milhões de reais em paraísos fiscais na Suíça, além de
escandalosa “per se”, também é bastante simbólica quando se pensa em questões
de governabilidade do Executivo e no sistema de coalisão da política brasileira. Sabe-se que
ninguém é considerado culpado antes do trânsito em julgado da sentença
proferida, contudo essa lógica positivista somente é adotada por parte da grande mídia quando
se trata de políticos implicados que, por algum motivo, gozam de prestígio
especial.
No caso do miliciano Queiroz, por exemplo, Flávio Bolsonaro
já foi sentenciado lá atrás e com razão, pois suas justificativas eram pífias e
ainda que ele não seja culpado juridicamente, o caso por si só já revela uma
situação intragável, qual seja as relações espúrias entre milicianos e a
família do presidente e talvez ele próprio. A mesma lógica, todavia, não é
usada no caso do Lula, pois ainda que ele fosse a maior vítima da história
jurídica brasileira ao ser injustamente sentenciado por 9 membros de órgãos
magistrados, o fato por si só já revelaria que aquela pessoa que outrora posava
de líder sindical e, por isso, atraiu afeto dos ideólogos que ideologias putrefatas
socialistas, indubitavelmente se relacionava com aquilo que o mundo capitalista
já produziu de pior, ou seja, oligopolistas que atuam em conluio com lobistas.
Isso tudo, independentemente de um posicionamento jurídico de um tribunal, já
seria suficiente para sepultar de vez a biografia de Lula, contudo aplica-se, no caso, a
conveniência "pseudopositivista" criminosa e cúmplice de quem finge que tudo ali se tratava de um
embate com um juiz permissivo com os tucanos.
Agora com José Serra sem palavras diante de cifra milionária
no paraíso fiscal, adota-se por parte destes cúmplices indecorosos a mesma
lógica: “Vamos esperar as investigações e o julgamento em todas as instâncias
possíveis!” O fato de Serra ser um servidor público e não um empreendedor capaz
de fruir de tanto dinheiro e, pior, coloca-lo em paraísos fiscais não são mais
conclusivos para essa gente. A cara de pau, aliás, vai além quando começa a
farejar vícios processuais como por exemplo a questão do foro no tribunal
eleitoral, que assim como o Tribunal dos Supremos advogados de políticos da
nação, serve para blindar políticos.
Tribunal eleitoral não deve se meter com
esse tipo de matéria penal que exige, por óbvio, de uma análise jurídica
técnica e complexa própria de um juiz penal. Mas disso, esses falsos
jornalistas não se ocupam, pois a ideia é proteger a idoneidade de Serra o
máximo possível.
Esta coluna já teceu
severas críticas para a capacidade da família Bolsonaro em dinamitar a própria
base de apoio a ponto de não ter mais sequer um partido oficializado. Não por
culpa do presidente apenas, mas por uma confluência de egos inflados que não
tinham nenhuma experiência de gestão pública, haja vista que o parlamento se
trata de uma função diferente. Bradar é diferente de gerir! Contudo o caso
Serra expõe a dificuldade do governo em aprovar suas medidas no congresso, uma
vez que ao contrário do que se diz por ai, não há nenhum grupo coeso e razoável
ali dentro do parlamento a ponto de estabelecer relações sadias com o
presidente, exceto se o mesmo conceder aqueles “favores”...
Então Bolsonaro deve se compor com quem? Com o PT e seus inúmeros
partidos satélites (que, aliás, compõem a maior bancada da casa atualmente)?
Impossível. Com os tucanos, chefiados por figuras no mínimo controversas como
Aécio Neves e José Serra? A questão da chegada do centrão ao governo impõe uma
série de contratempos como por exemplo a nomeação de pessoas estranhas para os
mais variados cargos de chefia.
O governo, por sua vez, tenta blindar os cargos
mais altos com aliados que fiscalizariam a corrupção, uma vez que o primeiro
escândalo que este governo tiver será provavelmente o seu fim, dada a
vigilância da grande mídia, ainda que não sopesada em princípios dos mais
nobres. A nomeação de alguns cargos mais altos por indicação do central, de
militares ligados ao centrão, ou a criação da pasta da comunicação com o genro do
Silvio Santos e coisas do gênero extrapolam o risco calculado e comprometem o
trabalho de milhares de pessoas competentes que operam no governo federal
independentemente dessa novela midiática e ideológica diária.
José Serra teve méritos como ministro da saúde no governo tucano
e foi fundamental na implementação dos medicamentos genéricos, que mesmo
motivado por interesses de grandes corporações e laboratórios foi uma mudança
disruptiva no acesso à fármacos num país onde a maioria tem baixo potencial
aquisitivo. A questão da quebra de patentes sempre é delicada por frustrar
investimento em pesquisa mas Serra soube conduzir relativamente bem a questão e
quando se diz “Serra” trata-se da gestão Serra e não apenas de sua pessoa, hoje
provavelmente corrupta já que não é necessário um juiz para definir moralmente
a situação de um servidor ou político que "guarda" 40 milhões em paraíso fiscal.
Outros políticos como Henrique Meirelles e João Amoedo acumulam
fortunas dez vezes maiores do que isso em patrimônios investidos, contudo o
fazem com transparência pois todos sabem que são pessoas bem sucedidas no
mercado financeiro, ainda que saibamos que neste mercado financeiros ocorram
manobras e situações que colocam em cheque o próprio capitalismo que se
transforma num monstro de acúmulo de números irreais e de riquezas sem lastro
produtivo. José Serra, entretanto, não é um homem do mercado. É um político dos
mais linguarudos que ganha dinheiro usando o erário.
Neste escândalo, aqueles influenciadores da grande mídia que
costumam descer o porrete no governo, muitas vezes por qualquer motivo, diariamente
no governo e que agora conterem a língua diante deste escândalo deixarão à
vista a face da cara de pau além da máscara. O leitor poderá verificar rapidamente
quem são eles. Os arautos da crítica seletiva, os “comprados”. O Tucano é um animal com risco de extinção. Mas na política,
infelizmente, ainda não.
Há, por exemplo, um tucaninho solto do bico branco que aparecia lá no senado apenas para assinar a folha de ponto, grampeado mandando matar o próprio primo e que ainda quis ser presidente. Soltinho por aí...
(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google