Além do Distrito Federal, cinco
unidades da Federação receberão as doses para testes da vacina produzida por
empresa da China
Vacina contra a covid-19 será
testada em Brasília. Em meio ao aumento de casos do novo coronavírus, a
Universidade de Brasília (UnB) promoverá os testes de imunização desenvolvida
por empresa chinesa. Início do procedimento depende de autorização da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Após ultrapassar a marca de 50 mil
infectados e 500 mortos pelo novo coronavírus, o Distrito Federal está entre as
unidades da Federação escolhidas para a promoção de testes da vacina contra a
covid-19. A pesquisa sobre a imunização criada por uma empresa chinesa será
coordenada pela Universidade de Brasília (UnB). A instituição aguarda a
finalização das tratativas do Instituto Butantan, em São Paulo, com a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), além da definição dos detalhes
técnicos e científicos da pesquisa, para dar início ao procedimento.
Especialistas alertam que a vacina é a única saída para que sejam cessadas as
medidas de restrição, já que a capital tem queda na adesão ao isolamento
social.
Além de Brasília, os testes
ocorrerão em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, no Rio Grande do
Sul e Paraná, como anunciou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB),
ontem. A produção está a cargo da farmacêutica chinesa Sinovac Biotech e será
testada em 12 centros de pesquisa do país, em 9 mil voluntários. A imunização
está na terceira fase, ou seja, é testada em humanos. Caso seja aprovada, a
Sinovac e o Butantan firmarão acordo de transferência de tecnologia para
produção em escala industrial e fornecimento gratuito pelo Sistema Único de
Saúde (SUS), no Brasil.
Ao Correio, o infectologista
Gustavo Romero, coordenador da pesquisa no DF e professor do Núcleo de Medicina
Tropical da UnB, detalhou como será a aplicação da vacina na capital. “O que
posso informar, agora, é de que se trata de um produto vacinal, que se aplica
em duas doses, com intervalo de 14 dias. Ela produziu resultados promissores na
fase 2, que se chama de desenvolvimento. No caso, essa vacina tem o efeito de
produzir anticorpos capazes de neutralizar o vírus”, revelou.
A execução do projeto contará com
o apoio de equipes do Hospital Universitário de Brasília (HUB). Os detalhes
sobre o número de pacientes que serão tratados e quem poderá receber a dose só
serão definidos após a autorização da Anvisa. O Correio entrou em contato com a
Vigilância Sanitária, mas, até o fechamento desta edição, não obteve retorno.
“É uma preocupação da população do DF em saber quantas pessoas terão acesso.
Estamos esperançosos e sabemos que isso é importante para a comunidade”,
ressaltou Gustavo.
Desafio: O epidemiologista da UnB Walter Ramalho explica
que, como as medidas de restrição falharam para conter o avanço da doença no
DF, a vacina seria a única alternativa para que a população volte à normalidade
— na segunda-feira, o governador Ibaneis Rocha (MDB) decretou estado de
calamidade pública. “A principal questão do combate ao coronavírus é que temos
uma grande parcela da população que teve o contato com ele, mas não desenvolveu
doença. Essas pessoas sem sintomas que transmitem a covid-19 são o nosso
principal gargalo, porque não temos condições de contê-las”, comentou.
Em relação à capital ter sido
escolhida para iniciar as testagem, o especialista ressalta que isso se deve à
capacidade de trabalho da UnB. “Um dos nossos pesquisadores estava trabalhando
com o Butantan para desenvolver uma vacina para a dengue; portanto, tínhamos
uma estrutura fácil de mobilizar para ir a campo”, explicou. Entretanto, em
relação à quantidade de casos e óbitos, ele ressaltou que a situação atual é de
alerta.
O epidemiologista avalia que, do
Brasil, o GDF foi o primeiro a reduzir a mobilidade social, fato importante
para evitar maior impacto da covid-19 no início da pandemia. Entretanto, Walter
considera que a medida não conseguiu ser eficaz, pela falta de adesão da
população. “É muito complexa essa retomada de atividades. Precisamos, primeiro,
ver os dados de julho. Entendo as decisões do governo, por conta desse momento
de grande impaciência na sociedade, mas acho uma pena que isso esteja
acontecendo. Poderíamos contornar essa situação se todos estivessem juntos”,
lamentou.
UTIs: Além da dificuldade em manter o isolamento,
termina, amanhã, o prazo para o GDF informar a capacidade dos leitos de unidade
de terapia intensiva (UTI) à Justiça Federal. Decisão assinada pela juíza
Raquel Soares Chiarelli, da 21ª Vara Federal da Seção Judiciária do DF, intima
o Executivo local e a União a demonstrar que há vagas, equipamentos, insumos e
recursos humanos suficientes para a população. A determinação levou em conta a
“iminência da liberação das restrições ainda existentes no DF”.
Levantamento da Secretaria de
Saúde mostra que 72% das UTIs exclusivas para pacientes com coronavírus estão
ocupadas. Somando as redes pública e privada, há 729 leitos e 525 internados. Em
nota, a pasta informou que monitora a evolução dos casos diariamente e que o
pico da doença está previsto para a primeira quinzena do mês. “É importante
ressaltar que não é esperada uma explosão de casos, tendo em vista que, no DF,
há um crescimento médio de casos diários de 5%, e esse crescimento tem se
mantido constante”, informou.
A Secretaria de Saúde acrescentou
que a evolução da capacidade de atendimento da rede acompanha a evolução de
diagnósticos. E completou que investiu R$ 20 milhões na compra de equipamentos
de proteção capazes de abastecer o sistema por seis meses.
Por Darcianne Diogo - Walder Galvão - Foto: Douglas
Magno/AFP - Correio Braziliense