Por Victor Dornas
Não demoraria muito para
a operação Lava Jato chegar ao ex-advogado da família Bolsonaro, aquele que
alegou não saber que Queiroz estava sediado em sua própria casa. O sujeito tem
um histórico satânico (de seita satânica mesmo) e por algum motivo tinha (ou
tem) a confiança dos Bolsonaros por anos. A grande imprensa stalinista adorou a
notícia e, ao contrário do bloqueio de mais de 237 milhões de reais na conta
bancária do advogado do PT, o tal Zanin, o fato de Wassef ter sido alcançado
pelos procuradores ganhou de pronto todos os holofotes.
Traçar paralelos entre
o atual governo e a tragédia petista não tem cabimento, a não ser nas mentes
disparatadas, contudo, já um cotejo entre Bolsonaro e Lula, por vezes revela
algumas semelhanças. No caso, por exemplo, ambos têm (ou tinham) advogados
investigados, um por tráfico de influência e pagamento de propina, o outro por
lavagem de dinheiro e peculato.
O populismo e as bravatas levianas rotineiras também
guardam uma similaridade, no pior estilo caudilhista. Do ponto de vista legal,
entretanto, a situação muda, pois um até então é honesto e o outro é notoriamente bandido.
Se esses mártires dos
espectros políticos brasileiros podem ser comparados, seus respectivos nichos
eleitorais, também. A primeira característica que une os radicais dos dois
lados é uma certa permissividade seletiva, isto é, acusa-se o outro lado
daquilo que também existe no tal espectro defendido. Disso resultam os chamados
dissidentes, ou seja, aqueles que não toleram mais o cinismo do duplo padrão e
acabam se refugiando num limbo político carente de representatividade. Destes
aí é que brotam os escândalos mais curiosos, note-se.
Bolsonaro agora está
sendo bombardeado pela ala olavista, uma vez que vem adotando uma postura um
tanto distante daquilo que os mais radicais esperam dele. Um bom exemplo disso
foi a confusão ocorrida nesta semana com a nova portaria emitida pelo não mais
interino e agora oficializado ministro da saúde Eduardo Pazuello que
flexibiliza a fiscalização em gestantes que queiram fazer um aborto. A direita
Bob Jeff restou em polvorosa, lógico, afinal de contas, como Olavo de Carvalho
não pode direcionar suas críticas ao próprio presidente, por ser seu ganha pão,
usa-se então os militares como bucha de canhão.
A questão foi a
seguinte:
O ministério havia
adotado uma portaria bastante rígida que compelia essas gestantes a formalizar
documentos detalhados que na prática não surtiram o efeito desejado. A questão
foi parar no Supremo, o tribunal dos ativistas ideológicos e advogados de
políticos que em maioria fingem ter aptidão para o magistrado. O governo,
ciente de que perderia, resolveu emitir nova portaria, mais parecida com a
anterior, uma vez que as gestantes que realizam aborto nessas condições são
aqueles que estão dentro da lei, ou seja, em casos de má formação fetal,
estupro e risco de vida. A direita Bob Jeff (o termo decorre da influência que
o político Roberto Jefferson ainda tem nessa turma) não entendeu que o alvo da
guerra ideológica contra o aborto, isto é, as mulheres que sentem orgulho de realizar
um aborto (sim, existem páginas aos montes na internet sobre isso) não são, por
óbvio, estas mesmas mulheres honestas de que trata a portaria lançada por
Pazuello.
Como a ideia é sempre
antagonizar com alguém, este núcleo olavista direciona seus canhões de festim
para os militares, que logicamente estão dando risada de tudo isso. Os próximos
alvos, não duvidem, serão os evangélicos, já que essa turma adora uma confusão
inútil que provoque muitos "likes".
Então é bastante
curioso que na tal direita dita cristã surjam figuras icônicas e controversas,
umas vindas de seitas satânicas, como o Wassef, outros oriundos de delação
premiada, como Bob Jeff, outros que eram petistas militantes e respondem por
processos de abuso de menor e agora clamam em nome do moralismo, outros mantém uma
casa com mais de cinquenta pessoas e acabam usando o foro privilegiado para
fugir da prisão por ter dado cem facadas no próprio marido, outros metidos com
assassinato de milícias, outros ex-comunistas islâmicos, etc. Tem de tudo neste caldo
um tanto podre que se define como direita brasileira.
O desafio para quem
quer o bem do país é tentar enxergar que existe um governo por trás disso tudo,
de milhares de servidores que se esforçam pelo bem do país e nada tem a ver com
o circo ideológico inflamado pelas redes sociais.
A democracia, se existe
mesmo, reside aí.