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O JABUTI DA IMPUNIDADE (Coluna Victor Dornas)

 

Por Victor Dornas 

Aqueles que sustentam um cérebro acima do pescoço estão perplexos com um HC impetrado por uma sócia de um chefe do PCC que resultou na soltura de setenta presos, e sabe-se lá quantos mais, em razão de um “vírus” enfiado pelo congresso, em conluio com Jair Bolsonaro, no pacote anticrime do ex- ministro Sérgio Moro. Não se trata “apenas” de um caso de supressão jurisdicional, como aventa parte da imprensa, mas de usurpação de toga, uma vez que o processo estava com a ministra Rosa Weber, que por sua vez, ao contrário do primo do Collor, é uma juíza de formação, fato cada vez mais raro no Supremo como o leitor desta coluna sabe.

Tudo isso dias após o presidente da República, cada vez mais alucinado por pesquisas que sempre desprezou, cravar uma piada infame de que a Lava jato se tornou inócua em razão da falta de corrupção de seu governo. Isso, sem dúvida alguma, é o pior espólio deixado pelo PT, uma vez que, diante daquelas cifras bilionárias, qualquer porcaria que o sucedesse poderia se vangloriar de não fazer a mesma coisa. Aliás, os tucanos sabem muito bem como “roubar” dentro da lei, ou seja, massacrando as lacunas legais e o centrão, de onde foi parido o falastrão Jair Bolsonaro, também é versado na política suja garantista, tudo dentro da lei.

Bolsonaro se gaba da probidade de seu governo... Porém será que isso é mesmo inteiramente verídico?

Em relação ao PT, a despeito do que pormenoriza a grande mídia stalinista, o atual governo é muito superior no tocante a escândalos envolvendo pastas ministeriais e isso talvez tenha a ver com a influência dos milicos que garantem uma certa probidade, ao menos por enquanto. Agora, analisando toda essa coisa de um modo menos indigente, ou seja, tecendo comparações com países mais modernos, por exemplo, aí a coisa muda bastante de figura, pois começamos a ver os tais penduricalhos que marcam a política suja que Bolsonaro tanto prometeu combater.

Um bom exemplo disso são os JETOMS, ou seja, pagamentos feitos a servidores fora da contabilização ordinária em razão de atividades extraordinárias. Trata-se de uma forma segura de fazer lobby, burlar os tetos constitucionais, dentre outras safadezas. De um governo que se insurgiu arrogando independência e apoio lavajatista, se esperava que os tais JETOMS, que desde sempre aparecem pelo menos umas dez vezes por ano em notícias comprometedoras, não fossem mais uma prática tão rotineira. No entanto, Bolsonaro fez o contrário e já foi verificado mais de trezentos servidores entrando na boquinha. 

Gente do alto escalação, como ministros de estado, que também se vangloriam de probidade, tendo lá uma majoração salarial de 7, 10 mil reais, dependendo de cada caso. O atual governo federal percebeu o óbvio que o néscio do Lula não viu: Não é necessário se envolver com empreiteiras, macular licitações,e se colocar na mira de um Ministério Público sedento por criminosos. Basta usar a própria lei para gozar de todos os privilégios que colocam os políticos num universo particular em detrimento da realidade brasileira. 

Como sempre destaco aqui, a nossa corte suprema, por exemplo, que quase não tem pessoas com formação jurídica para julgar qualquer coisa que seja, tem rendimentos maiores do que as cortes europeias. Então, com a devida vênia, pra quê roubar quando a lei já garante o roubo legalizado?

Nesse sistema de salários em cascata que é moldado pelo próprio Supremo, quando somadas garantias legais, não faltam juízes ou parlamentares que por vezes acumulam salários que passam dos cem mil reais. Gente que não foi eleita também e que sequer prestam concurso público são lotadas por lobby político em chefias diversas com salários astronômicos, como em autarquias por exemplo. E um sujeito malandro como Bolsonaro, aposentado aos trinta anos que jamais abriu mão de qualquer uma das benesses indecorosamente tiradas do erário entra nesse esquema sem pensar duas vezes. Fez seu eleitor de besta, pois nunca pretendeu ir além.

Essa ideia de que um governo que cumpre a lei é necessariamente probo tem como principal fato gerador a corrupção petista, conforme citado anteriormente. Doravante no Brasil, se não há prisão decretada, o governo é probo e ponto final!

Pode arregaçar o povo com privilégios previdenciários, JETONS, acúmulo salarial descomunal, ou seja, pode enriquecer na função pública que na mentalidade do brasileiro jeca está tudo bem, muito obrigado, uma vez que não é o mesmo que fez o PT. Paulo Guedes faz malabarismos para agradar o seu feitor, pois o funcionalismo sugou tudo que tinha disponível em caixa. 

As garantias legais garantem que o Brasil afundará cada vez mais. Quando chegar os primeiros indícios de uma hiperinflação talvez o povo dê algum sinal reativo, haja vista que, aparentemente, está tudo bem num país que se acostumou a ser cada vez mais mal visto lá fora em termos de ambiente de negócio. 

A calmaria que precede o caos! Não há perspectiva de reformas estruturais pelo Legislativo. E com a nova noção de “honestidade” difundida pelo caudilhismo bolsonarista, a inércia com tanta legitimação não cria oportunidades para debates reformistas. É o caos da harmonia institucional. O último dos estágios de uma máquina burocrática condenada, putrefrata e especialista em delegar culpa sobre tudo que faz de ruim.





(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas, fotos ilustração: Blog-Google.

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