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A libertação de Messi

 

A libertação de Messi


*Por Marcos Paulo Lima

Vinte de novembro de 2020. Guarde essa data. A Argentina pode ter começado a conquistar a Copa do Qatar-2022 no dia da morte de Diego Armando Maradona. O adeus ao craque é simbólico. Faltam menos de dois anos para a provável despedida do sucessor, Lionel Messi, do Mundial. Aos 33 anos, o jogador eleito seis vezes número 1 do planeta disputou o torneio da Fifa quatro vezes — 2006, 2010, 2014 e 2018 — e ainda não alcançou o poder de D10S. Nem tirou a Argentina da abstinência de título. A seleção principal não ganha nadinha desde a Copa América 1993.

 

Nascido em 24 de junho de 1987, Messi nem existia, em 1986, quando Maradona trocou os pés pela mão (de D10S) para levar a Argentina ao bi na Copa do México. Era criança, em 1990, ano do vice da seleção albiceleste, na Itália. Criança, curtiu o Mundial, pela primeira vez, em 1994. Aos 7 anos, viu Maradona flagrado no exame antidoping da edição dos Estados Unidos.

 

Vinte e sete anos mais jovem, Messi conheceu Maradona de ouvir falar, mas também de com ele andar na Copa de 2010. Foi comandado pelo técnico no Mundial da África do Sul. Fracassaram de mãos dadas nas quartas de final naquela derrota por 4 x 1 para a Alemanha.

 

Messi sentiu na pele as críticas do maior ídolo do país. Escutou que não merecia o prêmio de melhor jogador da Copa 2014 ao levar a Argentina ao vice, no Maracanã. “Ao ‘Lio’, eu daria o céu, mas quando não é justo e os marqueteiros querem fazer com que vença algo que não ganhou, é injusto”, disparou Maradona após a derrota por 1 x 0 para a Alemanha.

 

Os ataques foram mais pesados durante a Copa da Rússia, em 2018. “É inútil tentar transformar em líder um tipo que vai no banheiro 20 vezes antes de uma partida. Não vamos mais endeusar Messi. No Barcelona, é único, e, na seleção, é um a mais. Temos de tirá-lo do papel de líder que queremos que seja, porque isso ele nunca será”, sentenciou Maradona.

 

O “Messias” da Argentina deixou o país aos 13 anos para jogar no Barcelona. Por muito pouco, não se naturalizou espanhol. Em 2005, o então presidente da AFA, Julio Grondona, o convocou às pressas para a seleção sub-20. Inventou amistoso contra o Paraguai em manobra astuta para prendê-lo à Argentina. Por sinal, o jogo foi no Estádio Diego Armando Maradona, cancha do Argentinos Juniors. Talvez, se não agisse assim, teria visto Messi conquistar a Copa de 2010 com a Espanha.

 

Parafraseando Caetano Veloso, Messi é o avesso do avesso do avesso do avesso de Maradona. Tímido, não se sente amado pelo povo argentino. Cobri a Copa América de 2011 na Argentina pelo Correio. Quando a escalação era anunciada no estádio, Tévez era mais celebrado do que Messi.

 

Se Messi tinha alguma dúvida da relevância de brindar seu povo com a Copa, o país deu a última prova ao menino que pouco viu Maradona jogar ao entrar em catarse na morte de D10S. Talvez, sem a sombra do Rei Sol, Messi e Argentina desencantem no Qatar-2022. Com Messi liberto, sendo Messi. Não o que Maradona e seus súditos queriam (ou ainda cobram) que ele seja.

(*) Marcos Paulo Lima – Correio Braziliense – Fotos/Ilustração: Blog-Google

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