Radicalismo não tem vez
Nem tanto ao céu nem tanto ao mar. Radicalizar pelos extremos não faz o perfil dos eleitores brasileiros. As eleições municipais de domingo último mostraram que a opção da maioria foi por candidatos de centro, conservadores, são mais experientes. A discriminação por raça/cor ou por orientação sexual e identidade de gênero também não pesou na hora do voto. A epidemia do coronavírus fez a abstenção ser a maior dos últimos 20 anos. Em todo o país, 23,14% dos 147,9 milhões não compareceram diante das urnas.
A hostilidade
dominante em um Brasil dividido entre ideologias de extrema direita e esquerda,
como nas eleições de 2018, não prevaleceu. Bolsonarista e petistas, antes
protagonistas no cenário político, não tiveram espaço na festa dos vitoriosos.
Ambos foram os perdedores da corrida eleitoral. Os partidos que haviam
encolhido em eleições passadas voltaram a crescer. Foram os casos do DEM
(Democratas), siglas que compõem o Centrão, como o PSD, PL e PP, atingidos pela
Lava-Jato, estão entre as legendas que mais conquistaram prefeituras. Não
sectários quantos os bolsonaristas.
O universo
feminino também avançou na sua representação política. Candidatas mulheres e
negras, além dos transexuais, conquistaram cadeiras nos legislativos
municipais. Na disputa por prefeituras das capitais — de Rio Branco, Porto
Velho, Porto Alegre, Recife e Aracajú —, elas chegaram ao segundo turno. Estão
na disputa pelo comando de 15 cidades com mais de 200 mil habitantes.
Entre as
surpresas das eleições, mereceu destaque o desempenho de Guilherme Boulos
(PSol), que chegou ao segundo turno contra o prefeito Bruno Covas (PSDB), que
tenta a reeleição para seguir comandando a capital de São Paulo. Boulos
amenizou o discurso, deixou de lado a radicalização e, assim, obteve mais de 1
milhão de votos dos paulistanos, que compõem o maior colégio eleitoral do
Brasil.
O presidente
Bolsonaro não conseguiu influenciar os votantes. Seus candidatos foram
derrotados, entre eles, Celso Russomano, que estava na corrida pela prefeitura
de São Paulo. Ele começou a campanha em primeiro lugar na preferência do
eleitorado e acabou na quarta posição. Marcelo Crivella, prefeito do Rio de
Janeiro (Republicanos), ligado à Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd),
também apoiado pelo presidente, não foi reeleito no primeiro turno. Segue na
disputa com o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM). O número 02 dos Bolsonaros,
vereador Carlos, foi eleito, mas deixou de ser o campeão de votos da Câmara
Municipal do Rio de Janeiro, ao receber apenas 71 mil votos. Ele foi superado
por Tarcísio Motta (PSol), integrante da comunidade LGTBQI+, que teve a
preferência de 86.264 votantes.
Para os
aliados do presidente, as eleições municipais deram um recado aos que
subestimaram e brincaram com a maior crise sanitária em um século, que matou
mais de 166 mil brasileiros. A segunda onda da covid-19 vem elevando o número
de mortos na Europa e nos Estados Unidos e, portanto, o Brasil não está livre
de uma recidiva, em escala inimaginável. Mas não só isso. Os brasileiros dão
sinais de cansaço com o tom agressivo de políticos, com o aumento do desemprego
e a falta de políticas sociais, além de temerosos com o ritmo da economia no
próximo ano.
O estilo
Donald Trump de governar, absorvido pelo presidente, não vem agradando a
maioria. É hora de rever estratégias e estabelecer políticas públicas que deem
respostas rápidas às demandas da sociedade, com discurso e atitudes mais
moderados.
Visão do
Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog-Google