Por Caroline Cintra
Olhares especiais sobre
Brasília. Projetou levou 11 jovens com síndrome de Down
para fotografar pontos turísticos da capital. O passeio resultou numa exposição
que percorre shoppings e órgãos públicos
A fotografia capta mais que imagens: é capaz de registrar sensibilidade e humanidade pelo olhar do fotógrafo. Uma ação do projeto Diário da Inclusão Social (DIS) permitiu ao público conhecer, por meio de fotos, sentimentos a partir da perspectiva de 11 jovens com Síndrome de Down.
As imagens resultaram na exposição Um olhar especial sobre a natureza, que esteve em shoppings, órgãos públicos e escolas do Distrito Federal. A mostra começou a rodar pelo DF em março de 2019 e, devido à pandemia, está parada no momento.
Os
coordenadores do projeto estão em busca de parcerias para expor o talento
desses novos profissionais em mais lugares, como outros shoppings. “É
importante para nós, para eles e para a sociedade como um todo. Estamos de
braços abertos à espera de novos convites”, informa a coordenadora do DIS,
Maria de Lourdes Lima.
Para Vitória
Mesquita, 22 anos, uma das participantes, a experiência foi o ponto de partida
para se encantar pela fotografia e passar um tempo agradável com amigos. “De
todos os lugares, gostei mais do Pontão. Lá é bem bonito. Mesmo depois daquele
dia, eu ainda continuo tirando foto, sempre tiro”, diz.
Orgulhosa pela
filha, a servidora pública Carmen Mesquita, 46, não se surpreendeu com a
qualidade das fotos de Vitória porque sempre acreditou na capacidade dela. “Ela
sempre apresenta potencial acima. Eles (jovens com Síndrome de Down) são muito
espertos. Esse projeto mostra a importância da inclusão e que não há diferença
entre as pessoas. A vida tem diversidade”, destaca.
O projeto foi
uma oportunidade de integrar a filha e quebrar preconceitos. “Sempre quis fazer
essa inclusão porque muitas pessoas têm visão distorcida sobre jovens com
Síndrome de Down e precisamos dar um basta nisso. São pessoas com um potencial
que poucos conhecem. Projetos assim dão oportunidade para eles se mostrarem”,
afirma.
Como começou: A aposentada Maria de
Lourdes Lima, 59 anos, é idealizadora do DIS e mãe da Lia Lima, 15. A
adolescente tem Síndrome de Down e é uma das fotógrafas do projeto. Lourdes conta
que a iniciativa surgiu de uma parceria entre mães e pais de jovens com a
alteração genética.
O intuito era
gerar um ciclo social por meio de encontros, festas e outras atividades
comunitárias. “Começamos o projeto por causa do dia 21 de março, data em que se
comemora o Dia Internacional da Síndrome de Down. Foi muito bacana porque
conseguimos juntar muitos jovens”, comemora Lourdes.
O trabalho com
imagens ocorreu com a ajuda da fotógrafa Gi Sales. Ela passou três anos no DF e
desenvolveu a atividade com os jovens com síndrome de Down. Hoje, ela mora em
Bento Gonçalves (RS). “Gostamos muito da ideia e nos esforçamos para que nossos
filhos se saíssem bem. Cada mãe comprou uma câmera e saímos por lugares
bonitos”, relata Lourdes.
Engajamento: Gi Sales, 51,
acostumou-se a morar em diferentes lugares do Brasil, por ser casada com um
coronel do Exército que costuma mudar de endereço, a trabalho, a cada dois
anos. Quando viveu no Rio de Janeiro, Gi conheceu o filho de um amigo. Foi o primeiro
contato dela com uma criança que tem Síndrome de Down.
Ela fez um
ensaio fotográfico com o menino e se encantou. Quando veio morar em Brasília,
em 2017, após transferência do marido, a fotógrafa decidiu se engajar em algum
projeto de jovens com Síndrome de Down.
“Conheci o
pessoal do DIS e comecei a fotografar voluntariamente”, explica. No DF, Gi
trabalhou em diversas organizações não governamentais (ONGs). Fotografou jovens
e crianças para calendários e, depois, integrou o projeto da exposição Um olhar
especial sobre a natureza.
“Foi um
presente de Deus estar em contato com essas pessoas maravilhosas e carinhosas.
Era uma troca de amor diária. Elas têm força de vontade para fazer as coisas,
aproveitam a oportunidade”, destaca. A fotógrafa sonha voltar a Brasília para
dar continuidade ao projeto.
Olhar sensível: Mãe de Carlos Henrique
Freire, 25, a professora Luciene Freire, 51, elogia a sensibilidade de pessoas
com Síndrome de Down. Foi com esse olhar sensível que os 11 jovens integrantes
do projeto conseguiram um resultado de destaque nas imagens. “Na correria do
dia a dia, a gente não consegue observar as coisas direito. Eles, sim. Eles
enxergam beleza e conseguem mostrar muito mais amor em tudo que fazem”,
percebe.
A professora
acredita que as atividades propostas pelo projeto ajudam a melhorar a
autoestima dos jovens para que se sintam mais capazes para realizar outras
funções. “O objetivo do DIS é dar oportunidade. Mostrar para a comunidade que
esses meninos e meninas têm potencial. Cada um se destaca em um ramo e as
pessoas precisam abrir mais portas para eles”, completa.
(*) Caroline
Cintra – Fotos: Minervino Júnior/CB/D.A.Press – Correio Braziliense