Decreto de Ibaneis foi motivado pelo cenário da covid-19 no DF, em que a taxa de trasmissão do virus aumentou. Hoje, 100 infectados passam a doença para 130 pessoas
Nova restrição para conter avanço do vírus. GDF determina que bares e
restaurantes funcionem até as 23h, a fim de diminuir a circulação do novo
coronavírus na capital, que tem mais de 230 mil infectados. Medida gerou
críticas de empresários. População tem papel importante no controle da doença
Diante do aumento da taxa de infecção pelo novo
coronavírus no Distrito Federal para 1,3 R(t), o governador Ibaneis Rocha (MDB)
decretou, ontem, o fechamento de bares e restaurantes às 23 horas. Antes, esses
estabelecimentos podiam funcionar até meia noite, de segunda a quinta, e até as
2h, nos fins de semana. Com o limite de horário, o Governo do Distrito Federal
(GDF) pretende reduzir aglomerações e conter o avanço do número de casos da
covid-19 na capital. Para especialistas a medida precisa ser acompanhada da
fiscalização do Estado e da conscientização por parte da população para surtir
efeito.
Ibaneis afirmou que não descarta restringir as
atividades, caso os números da pandemia saiam do controle — segundo a
Secretaria de Saúde, o DF tem 230.122 infectados, sendo que 3.939 morreram
devido à covid-19 e 219.081 estão recuperados. O governador garantiu que o GDF
vai optar, primeiro, por intensificar as ações educativas. “Ou eles
(comerciantes) partem para nos ajudar na conscientização, infelizmente ou
felizmente — porque eu tenho que cuidar da saúde da população —, vou ter que
encerrar o expediente desses locais cada vez mais cedo e implementar restrições
à quantidade de pessoas”, disse o governador em Arniqueira, após assinar
decreto que dá início à regularização da região.
Apesar de não falar em fechamento total, Ibaneis
Rocha reavaliou o cenário da doença nas últimas semanas. Em 18 de novembro,
durante almoço com empresários da capital, o emedebista garantiu que o DF
estava preparado para uma possível segunda onda.
Para explicar o endurecimento das ações, Ibaneis
ressaltou que, no último fim de semana, as equipes da Secretaria de Proteção da
Ordem Urbanística do Distrito Federal (DF Legal) flagraram e autuaram bares e
restaurantes por não respeitarem as regras de funcionamento — 20 foram
interditados. “Nós tivemos um número muito elevado de autuações”, disse.
De acordo com a pasta, esses estabelecimentos são
os que mais desrespeitam as normas de vigilância sanitária contra a covid-19.
Entre março e novembro, o DF Legal aplicou 395 multas por desobediência às
medidas de saúde. Ao todo, houve a interdição de 1.678 estabelecimentos. Foram
abordados mais de 82 mil pessoas e 170 receberam multa por não usarem máscaras.
Repercussão: Representantes de
entidades empresariais criticaram o novo decreto do governo. Para o presidente
do Sindicato Patronal de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília
(Sindhobar), Jael Antônio da Silva, “o setor não é o principal foco de
circulação do novo coronavírus. Fica parecendo que os bares e restaurantes são
os responsáveis pela contaminação do vírus, mas outros locais são muito mais
propícios para contaminação, como as áreas de lazer na beira do lago, que estão
sempre com aglomeração e sem controle nenhum”, analisa. “Nós preparamos um
protocolo de segurança que está sendo seguido rigorosamente. Tem um ou outro
(estabelecimento) que não está cumprindo as normas, mas tem que punir esses e
não o setor inteiro”, pontua Jael, que articula um pedido ao governador para
anular o decreto.
Outra preocupação apontada pelo presidente do
Sindhobar é a questão de o mês de dezembro ser marcado por confraternizações de
fim de ano. “Historicamente, este é o mês com mais faturamento no setor. E
estamos vindo de um período em que os estabelecimentos ficaram fechados durante
muito tempo, e, agora, que estão se recuperando. Essa redução do horário de
funcionamento vai ter um impacto significativo”, destaca. “Estávamos em uma
reunião junto com o secretário de Saúde e outros representantes de entidades
empresariais e sindicatos, quando saiu o decreto. Se era uma decisão, para que
convocar uma reunião então?”, desabafa Jael.
No encontro, os representantes de diversos
segmentos se comprometeram a reforçar os protocolos de segurança e a ajudar a
promover campanhas de conscientização de prevenção ao vírus. “A questão não são
os estabelecimentos, mas as pessoas que não estão seguindo as normas impostas
para evitar a propagação da covid-19”, analisa o presidente do Sindicato do
Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista-DF), Edson de Castro.
No dia das oitavas de final da Copa Libertadores,
com jogo do Flamengo, estabelecimentos que costumam transmitir as partidas
tiveram que se adaptar para seguir o novo decreto. O gerente do bar Fausto e
Manoel, do Sudoeste, Afrânio Cordeiro, contou ao Correio que estava preocupado
em como faria para fechar o local no meio do jogo de ontem. “Para a gente, é
bem complicado. Na hora do intervalo do jogo, as pessoas vão ter que ir embora.
Não sei nem como vou fazer”, lamenta. Na avaliação dele, a restrição no horário
não resolve a questão. “Se for para aglomerar, vai começar a aglomerar mais
cedo. A pessoa não vai deixar de ir ao restaurante por isso”, pondera. De
acordo com Afrânio, o bar segue todas as normas de segurança impostas pelo
governo, como distanciamento das mesas, funcionamento com 50% da capacidade e o
uso de máscaras.