Entrevista José Aparecido Freire, presidente da Fecomércio. Empresário destaca a importância de o setor produtivo ficar aberto, cumprindo todas as exigências de segurança contra a covid-19, para evitar mais desemprego. Renegociação de dívida está entre as prioridades
Após a morte do então presidente Francisco Maia, em razão de complicações causadas pela covid-19, José Aparecido Freire foi escolhido o novo responsável por comandar a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF) até 31 de maio de 2022. Em entrevista, ontem, ao jornalista Carlos Alexandre para o programa CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília — o novo gestor se disse preparado e garantiu estar à disposição para lutar a favor do setor produtivo da capital, que vem passando por diversas dificuldades graças à pandemia. O empresário também comentou sobre as ações voltadas para pequenos comerciantes, das dificuldades enfrentadas especialmente pelo setor de bares e restaurantes e da necessidade de diálogo constante entre a Fecomércio e os sindicatos desses setores, além do Governo do Distrito Federal (GDF). Confira os principais trechos da entrevista.
O comércio é um segmento que emprega muito, e o desemprego está aí. A Fecomércio está atenta a essa questão? E o que ela pode fazer para ajudar? Em primeiro lugar, a grande batalha é a reabertura das lojas. Sem a reabertura não há como se falar em emprego. Também o próprio governo federal está acenando para algumas medidas, como houve no ano passado, de fazer os acordos trabalhistas. Essas são as alternativas que nós estamos buscando, e uma delas é a prorrogação dos pagamentos de empréstimos. Inicialmente, quando esses empréstimos foram feitos ano passado, seriam para começar a vencer agora em abril, mas como as empresas vão pagar se elas estão fechadas? Nós precisamos construir uma forma para que as empresas possam honrar seus pagamentos, continuar funcionando e gerar emprego. Temos hoje no Distrito Federal mais de 290 mil desempregados, então é uma preocupação muito grande.
A Fecomércio está pensando em alguma ação específica para atender o
pequeno comerciante que está passando por dificuldades? Nós buscamos
nos juntar ao BRB (Banco de Brasília), fizemos um convênio de juros baixos e
estamos conversando sobre a prorrogação dos pagamentos que venceriam agora em
abril. Estamos dialogando para ajudar. Quando se fala “vamos emprestar”, (a
questão está em) como é que esses lojistas podem pegar empréstimo se eles já
estão em dificuldade? A Fecomércio tem ouvido representantes de sindicatos e
vendo a necessidade de cada setor. Nós temos sindicatos menores, que tem micro
e pequenas empresas, e temos sindicatos grandes, então a nossa luta é
constante. O nosso diálogo com esses sindicatos, ouvindo as demandas e correndo
atrás, vai ser até o último dia. Na sexta-feira mesmo, o governador editou um
decreto parcelando os IPTUs das empresas de bares e restaurantes e de algumas
outras, isentando a cobrança das taxas de puxadinhos. São essas demandas que os
sindicatos vão levando para a Fecomércio e que nós vamos trabalhando no dia a
dia. É muito difícil, neste período de pandemia, a gente até fazer um
planejamento semanal, porque cada dia é uma demanda diferente, mas nós estamos
dispostos a isso. Eu estou preparado. Sou do sistema há mais de vinte anos,
conheço o sistema, a realidade do sindicato e todo o setor de comércio do
Distrito Federal.
No segmento varejista como um todo, existem alguns nichos que
o preocupam mais por estarem mais fragilizados? E o que se pretende
fazer com eles? Os bares e restaurantes e os salões de beleza são alguns.
Nós estamos em constante conversa com os presidentes desses sindicatos, vendo
qual é a realidade, o que eles precisam no momento. Estamos levando essas
demandas individuais para o governo, que tem sido sensível. A dificuldade
desses setores tem sido muito grande, principalmente nas empresas menores.
Tem pontos específicos sobre esses setores que eu gostaria de saber a sua
opinião. Por exemplo, em São Paulo, há uma discussão dos
bares e restaurantes abrirem pelo menos no horário do almoço.
O que o senhor pensa dessa e
de outras ideias? São ideias boas. É a questão da flexibilização e
alternância de horários. A minha sugestão para Brasília é a que foi utilizada
no ano passado: que os shoppings abram de segunda a sábado, das 12h às 20h. Já
seria um gargalo muito grande. No domingo, (os shoppings) ficariam fechados e,
realmente, retiraria a aglomeração, porque os shoppings cumpriram todos os
protocolos, inclusive contadores de pessoas que entravam no shopping. Quando o
número de pessoas excedia, ninguém mais entrava enquanto não desafogasse, então
são protocolos que foram cumpridos. Os bares e restaurantes também fizeram o
cumprimento de todos os protocolos. O grande problema que temos são os
botequins, que muitas vezes não têm licença e funcionam de qualquer maneira: as
pessoas andam sem máscara, inclusive quem está atendendo, não cumprem os
protocolos, não tem álcool em gel. São esses que a gente tem visto nos fins de
semana e no período noturno sendo autuados e, muitas vezes, até fechados.
Em relação aos comportamentos inadequados dos clientes que geram punições aos comerciantes, como a Fecomércio vê isso? Os comerciantes
cumprem os protocolos. Durante o ano passado, a Fecomércio teve várias reuniões
com o governo, várias sugestões de protocolo e a grande maioria (do comércio)
cumpre. Só que quando é penalizado, ocorre no total: são todas as empresas de
um determinado ramo que são penalizadas. É difícil analisar individualmente
cada empresa, então o governo geralmente analisa pelo setor.
Nesse caso, não seria mais interessante dividir por aglomeração no
lugar de segmento? Por exemplo, estabelecimentos que recebem até 200
pessoas é uma regra, e os que recebem acima seria outra. É uma
ideia interessante que a gente precisa discutir e construir junto com o
governo, até para facilitar a fiscalização. Quem tem o poder de fiscalizar é
somente o DF Legal. Os sindicatos não têm esse poder, então fica um pouco
complicado do sindicato falar que não são todos os comércios. É uma coisa que
tem que ser bem conversada, detalhada, e, com certeza, nós vamos chegar a um
ponto de abrir todo o comércio do Distrito Federal.
Jessica Cardoso* ~~* Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira – Foto: Vivien Doherty Luduvice – Correio Braziliense.