Casamentos no DF em
tímida retomada. Após ver o número de realização de casamento cair em 82% com o
início da pandemia, empresários do setor de eventos matrimoniais acreditam que,
com o avanço da vacinação, seja possível ensaiar uma boa recuperação para o
próximo ano
Com o início da pandemia de covid-19, um dos
setores de eventos que foi impactado negativamente foi o de festas de
casamentos. De acordo com dados da Associação Brasiliense de Empresas e
Autônomos do Setor da Cadeia Produtiva de Eventos Sociais e Corporativos,
Buffet e Afins (Abraeventos), em março de 2020, a média mensal de eventos no
Distrito Federal caiu de 4,5 mil para 810 — equivalente a uma redução de 82%
quando comparado com março-dezembro de 2019. Este ano, em seis meses, a
quantidade de festas realizadas não chegou a 60% do registrado em 2019, mas há
a esperança de que, com o avanço da vacinação contra a covid-19, seja possível
pensar em uma retomada mais rápida.
Empresas e pessoas envolvidas em cerimônias de
casamento fazem parte do setor de eventos que, em 2020, perdeu R$ 270 bilhões
em todo o país, devido à pandemia. A presidente da Abraeventos, Karla Vinhas,
explica que a queda na realização de casamentos ocorreu no primeiro lockdown
decretado no DF, em março de 2020. “Os clientes para 2020 remarcaram para 2021.
Quando nos liberaram, não havia eventos marcados”. Ela explica que muitos
casais optaram pela união apenas no civil e deixaram a comemoração para depois
da crise sanitária. Segundo o Portal de Transparência do Registro Civil, em
2020, o DF teve 15.348 casamentos — 4.939 a menos que no ano anterior. Este
ano, até julho, foram 10.121 (veja Registros).
A presidente da Abraeventos espera que, com o
avanço da vacinação contra a covid-19, as pessoas voltem a realizar as
cerimônias. “Espero que os eventos possam se expandir de uma forma mais íntima
e segura. Precisamos de uma atuação conjunta entre as entidades e o governo,
para gerar uma recuperação para o setor”, complementa. Porém, Karla alerta para
a possível alteração de preços. “Para seguir todo o protocolo, acaba tendo um
custo com máscara e higienização, e esses custos são repassados”,
comenta.
Jhonatas Edward Oliveira de Brito, 31 anos, é
proprietário do Recanto Oasis e da Castros Buffet, em Taguatinga. Além de
alugar o local para casais, ele oferece o serviço de buffet, ornamentação e
DJs. O empresário conta que, com o início da pandemia, precisou cortar a
contratação de freelancers durante os fins de semana. “O faturamento do nosso
setor de eventos reduziu a quase zero. Outros setores tiveram redução de 30% a
50%. A gente sofreu muito”, lamenta.
Com a última autorização para a realização de eventos,
após as medidas restritivas adotadas pelo governo em março deste ano, o
empresário conseguiu recontratar 10 dos 20 funcionários fixos, além de alguns
freelancers. “Antigamente, fazíamos eventos para 500 pessoas, hoje fazemos para
uma faixa de 50 a 100 pessoas”, comenta.
Arrecadação: O fotógrafo Gabriel Ribeiro, 34,
trabalha em casamentos há 11 anos. Antes da crise sanitária, ele realizava de
40 a 60 eventos por ano. “Ano passado, teve mais de 30 adiamentos e oito
cancelamentos. Muitos colegas tiveram prejuízos e acabaram abandonando a área”,
explica o autônomo. Ele acredita que a pandemia vai modificar a forma de se
comemorar a união estável. “Acredito que a tendência agora é os clientes
procurarem por uma proposta mais intimista, para poucos convidados, mesmo com
as pessoas vacinadas”, prevê.
Para o presidente do Sindicato das Empresas de
Promoção, Organização, Produção e Montagem de Feiras, Congressos e Eventos do
DF (Sindeventos-DF), Luis Otávio Neves, há outros profissionais na mesma situação
que Gabriel. “A arrecadação do setor caiu muito, quase a zero. As empresas que
conseguiram sobreviver foram, em grande parte, graças às medidas do governo
local, que autorizou a isenção de impostos como o Imposto Predial e Territorial
Urbano (IPTU) e do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA)”,
diz.
Neves destaca que 2022 tem possibilidade de ser um
ano melhor. “Nosso termômetro é a vacinação. Então, estamos mais animados para
o próximo ano. É importante que esse setor se recupere logo, pois envolve
muitas empresas e colaboradores e, assim, movimenta a economia local”, diz o
presidente do Sindeventos.
Expectativa: Para uma possível retomada em
2022, é preciso que os empresários e autônomos envolvidos no setor de eventos
tenham um capital de giro. O economista e coordenador do curso de economia do
Centro Universitário Iesb, Riezo Almeida, considera que haverá uma demanda
reprimida de clientes quando a vacinação estiver mais avançada. “É importante
que as empresas tenham de 10% a 15% da atual receita como reserva para atender
a grande quantidade de pessoas que optaram por esperar para realizar as
festas’’, diz.
“Se não houver essa reserva e não se conseguir
atender ao mercado, mais empresas podem deixar de funcionar quando houver a
retomada”, ressalta. Apesar disso, Riezo reforça a expectativa positiva para o
próximo ano. “Os eventos foram muito prejudicados, mas, de dezembro deste ano
para frente, é possível que haja uma melhora significativa”, comenta.
Palavra de Especialista - Riscos
sanitários: “Casamentos, festas de aniversários ou grandes reuniões
corporativas são eventos que têm como características a presença de um grande
número de pessoas. Então, em qualquer local, mesmo que aberto e arejado, onde
se junta pessoas que vão tirar a máscara para comer, cantar ou beber, haverá
dispersão de partícula viral e possibilidade de contaminação pela
covid-19.
Nesses locais, é praticamente inevitável que não
haja contaminação se houver um transmissor. Lembrando que um transmissor pode
ser quem se vacinou, um assintomático ou quem ainda não desenvolveu sintomas.
Ou seja, não tem como ter um controle muito efetivo, mesmo com o cumprimento
das medidas de segurança e a fiscalização por parte do DF-Legal. A única forma
de evitar a contaminação é garantir o distanciamento e o uso correto da máscara
100% do tempo. Mas sabemos que isso é difícil”. (Ana Helena Germoglio,
infectologista)
Memória - Restrições e flexibilizações
: Em 18 de março de 2020, o GDF decretou o primeiro lockdown para combater
a disseminação da covid-19. Festas e eventos ficaram proibidos. Em 6 de
outubro, eventos com até 100 pessoas foram liberados. Em 28 de fevereiro de
2021, as atividades consideradas não essenciais, como eventos, voltaram a ser
suspensas. Apenas em 13 de maio, o governo voltou a permitir festas de
casamentos, aniversários e outros em salões ou casas de festa até as 23h. Em 5
de julho, o horário de funcionamento foi ampliado para meia-noite, com 50% da
capacidade.
Registros: Casamentos em cartório no DF de 2019 a 2021; Ano Registros Média mensal; 2019 20.287 1.690; 2020 15.348 1.279; 2021* 10.121 1.686 * Os dados de 2021 são referentes ao período de 1º de janeiro a 16 de julho
Mudanças nas cerimônias - Tayllon e Loaynne Alves - optaram por um casamento intimista
Ela conta que não achou vantajoso adiar o casamento,
“Estávamos planejando nos casar, mas já não tínhamos condições para fazer uma
festa grande para toda a família”, detalha. Para não deixar outras pessoas de
fora da celebração, o casal fez uma transmissão ao vivo do evento. Na visão de
Loyanne, o vídeo foi, também, uma forma de levar um momento de alegria aos
familiares em tempos pandêmicos.
Em junho de 2021, Clara Oliveira Costa Vilas Bôas,
21, casou-se e celebrou a união. Para a jovem, o mais desgastante foi
administrar as preocupações normais da festa e acumular com a tensão da espera
de decretos que liberassem eventos. “Eu ia fazer o casamento para 200 pessoas.
Logo que começou a pandemia, eu e meu noivo decidimos diminuir para 50
convidados, somente núcleo familiar e padrinhos”, explica. O casal decidiu não
adiar o casamento, mas o governo local ainda não havia liberado eventos
sociais. Em maio de 2021, o decreto foi alterado e conseguiram realizar a
cerimônia.
Porém, as mudanças não se limitam aos noivos.
Empresária do setor de eventos desde 2013, Raissa Cavalcante conta que,
atualmente, a procura aumentou para casamentos no estilo micro ou mini,
arranjados para 10, 25 ou 50 pessoas. Segundo ela, alguns casais estão optando
por realizar cerimônias na igreja, em casa ou no civil (cartório) e fazer
recepções em restaurantes. ”Estamos muito animados em poder voltar a realizar
esses eventos. Mesmo seguindo os protocolos atuais, os casais não querem deixar
de celebrar e viver esse dia único e tão especial como eles sonham”, finaliza
Raissa.