Na última quinta-feira, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo
Leite, assumiu a homossexualidade em rede nacional. Não posso dizer com a mesma
propriedade de um estudioso o tamanho do impacto que a atitude dele tem para a
luta contra o preconceito. Mas acredito que é um passo importante.
Contra o fato, há a contradição explícita de ser o que é e, ainda assim, apoiar
Jair Bolsonaro, claramente homofóbico, nas últimas eleições. Ou de pertencer a
grupo político nunca identificado com as causas LGBTQIA+. O presidenciável
ganhou milhares de seguidores e virou campeão de buscas no Google, mas também
recebeu críticas e acusações de oportunismo político. E a cobrança é tão válida
quanto a confissão. Faz parte da discussão.
Dito isso, a verdade é que um político se declarar homossexual não é feito
comum. Se fosse, até a repercussão diante da declaração não tomaria tamanha
proporção. Num país que mata em série gays, transsexuais, travestis e que trata
a livre escolha do ser humano em relação à sua sexualidade como um crime
passível de punição, menos ainda.
O ato dele é pessoal e político, embora o próprio não o entenda como uma
bandeira de luta necessária, como o fazem os representantes dos grupos LGBTQIA
eleitos por partidos de esquerda. Esses sofrem preconceitos diários e ameaças,
inclusive no exercício do trabalho no Legislativo, mas destinam o mandato à
causa.
O Brasil tem um caminho tão longo a percorrer para se tornar mais justo e
inclusivo que ouso acreditar que só o fato de Eduardo Leite se declarar
homossexual já é um passo importante, tanto quanto necessário.
Revela que valores humanos, como a verdade e a liberdade, são direitos
inalienáveis. Mostra que todos, independentemente de cor, raça, credo e
ideologia política, podem e devem ser o que são, sem negligenciar suas
características e escolhas, sua forma de viver com plenitude, seu jeito de se
relacionar.