Do latim, capitalis, “capital”
significa “relativo à cabeça”. Ou seja, a capital é a “cabeça de um
território”. E do gigante Brasil, a cabeça tem nome: Brasília. Muito embora,
ainda somos pegos de surpresa com defensores do Rio de Janeiro como o “lugar apropriado”
para ser a capital do país. Recentemente, pasmem, surgiu até mesmo a ideia de
ter não uma, mas duas capitais: Brasília e Rio. E o Brasil seria o “gigante de
duas cabeças”.
Brasília não foi só um sonho de
Dom Bosco. Erguida por meio de uma verdadeira epopeia, foi sonho de milhares de
brasileiros, dos mais diferentes pontos do país, que ergueram, no coração do
gigante, a cabeça. Abraçou a todos, como uma capital deve fazer, e ficou
conhecida como a Capital de todos os brasileiros. Ao longo dos seus 61 anos,
tornou-se símbolo de unidade. João, que trouxe do Norte a esperança na mala à
Maria, que chegou do Sul acreditando num futuro melhor e aqui o encontrou.
Porque a capital não expulsa. Agrega. Une.
Embora tenha nascido no Rio de
Janeiro, fui adotado por Brasília e confesso ter orgulho disso. E, como todo
filho que sai em defesa da mãe, tenho que discordar de quem ousa escrever que,
“do ponto de vista da cultura e da história, a capital brasileira continua
sendo o Rio”. Ora, o Rio continua lindo. Gil tem razão. Mas, do ponto de vista
da cultura, nenhuma outra cabeça caberia melhor a este gigante que não fosse
uma que reunisse costumes, tradições e sotaques diversos. E, do ponto de vista
da história, nenhuma outra caberia melhor a este gigante que não fosse uma que
escrevesse a história do Brasil dia após dia.
A escolha de uma capital para o
país vai muito além de contabilizar a quantidade de órgãos e imóveis federais,
efetivo militar, palácios ou museus. Vai muito além de abrir uma disputa para
saber quem é mais bonito: Pão de Açúcar ou Ponte JK. A ideia da nova capital,
aliás, é anterior à empreitada do ex-presidente Juscelino Kubitschek ou à
previsão de um novo Distrito Federal constando da Constituição de 1891. Os
primeiros planos surgiram ainda em 1808, quando dom João VI, no Brasil, via o
Rio como “uma simples cidade colonial”, sem estrutura suficiente para ser a
cabeça do Reino de Portugal.
Coincidência ou não, é com
argumentos parecidos que querem montar o gigante de duas cabeças. Esta cidade é
mais que apenas um museu a céu aberto com obras de Oscar Niemeyer. É um museu
da história do crescimento e do desenvolvimento do país. Brasília não
representa apenas a organização urbana do plano de Lucio Costa. Ela é a síntese
do planejamento de um Brasil inteiro. Pela sua localização geográfica central,
está protegida, mas sem perder a capacidade de exercer controle sobre o
restante do país. Aliás, vale salientar que inúmeras capitais ficam no centro
de seus respectivos países.
Cidade que nasceu do suor e do
esforço do brasileiro, Brasília é a síntese do gigante chamado Brasil. Abriga
em sua arquitetura suntuosa os Três Poderes e, embora só eleja três senadores e
oito deputados federais, recebe de braços abertos os demais 583 parlamentares
vindos do Brasil inteiro — 78 senadores e 505 deputados, descontados os
representantes do nosso quadrado. Reúne todas as embaixadas e, com elas, têm
excelentes relações diplomáticas. Ministros, juízes, presidente, gente comum...
A capital que fala todos os sotaques só agrega.
Símbolo do desenvolvimento
agropecuário nacional — hoje, um dos setores mais importantes na economia
brasileira —, Brasília assumiu seu papel desenvolvimentista sonhado lá atrás.
Sua inauguração foi um dos principais marcos para a grande transformação da
região Centro-Oeste. É a representante do progresso e da modernidade do Brasil.
Construída do zero, no centro de um quadrilátero estudado e demarcado,
simbolicamente representa a unidade de toda uma nação.
E, até por isso, não cabe aqui
entrar na fantasiosa ideia de transformá-la em uma “cabeça adjacente” com
argumentos de “resolver crise política e econômica” de quem quer que seja.
Brasília, já está provado, foi criada como solução para o país e, certamente,
está apta a exportar a resolução de problemas para os estados da Federação.
Como anteviu JK, deste Planalto Central surgiu o “cérebro das altas decisões
nacionais”.
Somos todos brasileiros de um país gigante com uma só cabeça. A cabeça que se localiza no coração pulsante de um território que não precisa de ideias separatistas, mas de união. Que precisa de um povo patriota, que ame seu país e sua capital, que, do Planalto Central, só emana amor.