Em meados do
século 20, a agricultura passou por mecanização e, com isso, liberou mão de
obra rural em direção aos centros urbanos no Brasil. Milhões de pessoas
migraram para cidades próximas, para centros maiores ou para outras regiões. Em
tese, no meio urbano, os migrantes encontrariam postos de trabalho que
exigissem baixa qualificação técnica. Com isso, acelera-se o processo de
urbanização. A caminhada para os grandes aglomerados urbanos aconteceu ao redor
do mundo e não poderia deixar de acontecer no Brasil. Nessa época, portanto, o
país deixou de ser agrário para se tornar urbano. Costuma-se referir que as
cidades intermediárias receberam população por oferecerem equipamentos e
serviços, tornando-se atrativas aos imigrantes. Essas cidades intermediárias
não chegam a competir ou rivalizar com as metrópoles nacionais, mas são dotadas
de equipamentos de comunicação (jornais, revistas, rádios e televisões).
Pelo processo
descrito e pelas dimensões continentais do Brasil, não há em seu território
cidade primaz, isto é, que se constitua, somente ela, como grande polo urbano
nacional. Isso acontece porque as metrópoles regionais Manaus, Belém e desta
para Recife até Porto Alegre, passando por Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba,
diluem e descaracterizam o que poderia ser primazia urbana. Essa distribuição
regional dos entes metropolitanos de diversas magnitudes impede o Brasil de
possuir cidade central, com primazia urbana. Por isso, será difícil aplicar,
aqui, a Teoria dos Lugares Centrais, do geógrafo alemão Walter Christaller, de
1933.
Indo da teoria
para a realidade, o que tornam similares nossas cidades grandes,
independentemente de suas hierarquias? O que traz similaridade aos aglomerados
urbanos brasileiros? Ao lado da massa populacional e da diversidade funcional,
surgem três características de maior peso: a falta de atividades que absorvam
toda a mão de obra em disponibilidade (desemprego), a habitação não condigna e
a pobreza que atinge enorme quantidade de brasileiros.
Inexistem
políticas públicas para a habitação e para estimular as atividades geradoras de
oportunidades de trabalho. As atividades, diante da pandemia e da falta de
programas e planos federais, não criam novos postos, além de configurarem
“lacunas de trabalho”, por nós denominadas, quando se eliminam lugares de
trabalho ou não se criam postos de trabalho, em consonância com as demandas de
jovens que entram no mercado de trabalho.
Como exemplo,
oferece-se a situação do Distrito Federal, onde há 308 mil desempregados para
1,64 mil, compondo a PEA (população economicamente ativa) e 1,33 mil
trabalhadores ocupados, segundo a PED de junho de 2021 (PED — Codeplan, 2021).
Esses dados preocupam pela sua magnitude e pelo fato de que Brasília acaba de
completar 61 anos de existência. A cidade é jovem, mas alguns problemas são
assemelhados às metrópoles centenárias. Há outro fato relevante: o desemprego
permanece elevado, o que faz pensar em “desemprego estrutural”, que veio para
permanecer por muitos anos, pois, há décadas, mantém-se acima dos 200 mil
desempregados.
Constata-se
uma aparente contradição: enquanto o desemprego permanece elevado por muito
tempo, o patamar salarial de Brasília apresenta os maiores rendimentos entre
todos os entes federativos, tanto na ativa quanto entre os aposentados. São
algumas categorias da esfera militar (agora liberados do teto pelo presidente
da República) e de altos funcionários do Legislativo e Judiciário que recebem
altos salários, se comparados ao salário mínimo atual (R$ 1.100).
As metrópoles
deixaram de ser o lugar das indústrias em muitos países, pois eles passaram a
criar atividades de serviços, acrescentando as que são de utilidade para as que
são ancilares a outros ramos do trabalho urbano. Além disso, como escreve André
Kertész, “a revolução tecnológica sai da esfera industrial e passa a
influenciar o setor de serviços e o mercado de trabalho em amplitude global”
(Kertész, A.). Essa tendência, saliente-se, se acelerou de tal forma que as
chaminés fumegantes praticamente não existem, porque a energia elétrica passou
a mover as máquinas necessárias à produção.
Em vista
disso, a marcha do tempo e o avanço tecnológico no território metropolitano nos
mostram mudanças e transformações territoriais, econômicas e sociais que reduzem
as oportunidades de trabalho urbano. Nessa marcha e por falta de políticas de
médio e longo prazo, o Brasil poderá atingir a marca recorde de desemprego
deste ano para 2022, lamentavelmente.