A Universidade de Brasília (UnB)
completa 60 anos de história em 2022. Ao longo dessas seis décadas, a
instituição cresceu e se tornou referência no meio acadêmico, principalmente na
área de pesquisas e inovação. Durante a pandemia da covid-19, destacou-se nos
estudos técnicos para entender o comportamento do novo coronavírus que se
alastrava no país e no mundo. Também foi um dos grandes centros de testes
clínicos da vacina CoronaVac, um dos imunizantes que ajudaram a prevenir casos
graves da covid-19 e a evitar mais mortes pela doença.
Em entrevista ao Correio, a
reitora da universidade, Márcia Abrahão, faz um balanço dos 60 anos da
universidade e elenca os desafios para os próximos. A instituição, que precisou
se adaptar às limitações impostas pela pandemia entre 2020 e 2021, recebe mais
de 52 mil estudantes nos cursos de graduação e pós-graduação. Para o próximo
ano, parte deles retornará às aulas presenciais nos quatro campi. Haverá 1,3
mil disciplinas presenciais ou semipresenciais — 15% do total das matérias
ofertadas.
Com esse retorno aos prédios da
instituição, outro desafio chega: o de obter orçamento maior para manter a
qualidade do ensino, bem como para investir em pesquisas e outros trabalhos
produzidos na universidade. Em coletiva de imprensa para lançamento das
atividades de comemoração dos 60 anos da UnB, na última quarta-feira, a reitora
ressaltou que, em 2021, não houve repasses do governo federal para
investimentos. Os R$ 135,9 milhões enviados pela União destinaram-se ao custeio
da máquina pública.
Para 2022, o valor esperado para
custeio e investimento é de R$ 145,7 milhões, mas Márcia pleiteia aumento dessa
quantia. Em 2020, por exemplo, o orçamento chegou a R$ 147,3 milhões e, em
2019, ficou em R$ 151,6 milhões. A expectativa é conseguir negociar, por meio
de um pedido que tramita no Congresso Nacional, montante próximo ao de dois
anos atrás.
60 anos: “Como ex-aluna, é uma honra estar à frente da universidade nestes (tempos de comemoração dos) 60 anos. E vivi uma parte dessa história. Eu me formei na década de 1980, no curso de geologia. Olhando para trás, (a UnB) é uma universidade que nasceu para ser muito além do tempo, com um projeto pedagógico muito inovador. No início, por exemplo, os estudantes entravam para cursos gerais, depois escolhiam as áreas de atuação que queriam seguir. Em 1965, passou por um período difícil, com a perda de quase todos os professores (após o golpe militar de 1964). Tivemos estudantes assassinados; um deles foi do meu curso de geologia, o Honestino Guimarães — primeiro colocado no vestibular de geologia, à época. Mas a universidade foi se reerguendo, retomando e, depois, construindo pesquisa de ponta, criando programas de pós-graduação em diferentes áreas.
Em 2006, a UnB começou a se expandir para
além do Plano Piloto, criando o câmpus de Planaltina. E, em 2008, com o Reuni —
Programa de Expansão e Reestruturação que tive o privilégio de coordenar —, a
universidade foi para o Gama e para Ceilândia. Hoje, a UnB tem graduação,
mestrado e doutorado em Planaltina, Ceilândia e no Gama, além de contar com
programas de pós-graduação junto ao câmpus Darcy Ribeiro. A universidade se
internacionalizou muito, também pela característica dela na capital do país. E,
pela qualidade do que produz, atrai ótimos quadros, tanto de professores quanto
de estudantes. Temos uma quantidade razoável de professores estrangeiros, e
isso fez com que nos destacássemos, nos cenários nacional e internacional, como
uma das melhores universidades do Brasil e da América Latina. Então, é uma
história de muita luta e muito sucesso.”
Futuro da universidade: “A UnB inaugurou a diversidade no país, em termos
de cotas. Agora, em nossa gestão, fizemos a cota na pós-graduação. Criamos um
Conselho e uma Câmara de Direitos Humanos. Esperamos que a UnB continue uma
universidade com muita excelência acadêmica e muito compromisso social. Uma
instituição democrática e inclusiva, que trabalha para formar bem as pessoas,
contribui para o desenvolvimento do país e para a solução dos problemas
nacionais. Essa é a característica da universidade: muito integrada com
Brasília e o Distrito Federal, mas, também, olhando o resto do país e todo o
mundo.”
UnB em outras regiões: “Temos demandas históricas para que a Universidade
de Brasília se instale em outras regiões. Por exemplo, no Paranoá, que até tem
uma área destinada à UnB. Assim como ocorreu em Ceilândia, em que tínhamos uma
área de extensão muito importante: o Núcleo de Práticas Jurídicas, onde começou
o câmpus. Estamos começando no Paranoá com um polo de extensão, ou seja,
levando nossa universidade para lá para essas atividades. Não são cursos de
graduação nem de pós-graduação, mas (isso) vai ampliando a relação com nossa
cidade. Fizemos a mesma coisa no Recanto das Emas e em Alto Paraíso (GO), onde
temos um centro. Vamos integrar a universidade nesses locais e, futuramente,
pretendemos avançar — obviamente, dependendo das condições econômicas do país.
Todo passo tem de ser com muito planejamento e muita organização, para que a
universidade continue a se expandir com qualidade.”
Aulas na pandemia: “A chegada da pandemia foi um momento dramático para a humanidade, e nós lidamos com isso com muita responsabilidade, muito planejamento. Somos uma comunidade com mais de 50 mil estudantes. No total, dá mais de 60 mil pessoas. Em um primeiro momento, interrompemos as aulas presenciais e preparamos nossa comunidade para algo totalmente remoto. Apesar de termos um centro de ensino a distância com mais de 30 anos, é muito diferente de migrar tudo que era presencial para o remoto. Ainda tivemos de dar condições para os estudantes que não tinham computador, não tinham internet, para que tivessem condições de assistir às aulas. Além disso, tivemos inúmeras atividades de pesquisas e de extensão de (foco no) combate à covid-19. Participamos da pesquisa clínica da CoronaVac, que é uma das principais vacinas aplicadas no Brasil e que tem contribuído para a redução (do avanço) da pandemia no Brasil. Nosso hospital universitário (o HUB) também atuou na linha de frente no combate à covid-19. Inclusive, na maior crise que tivemos no país, recebemos pacientes de Manaus.
A Semana Universitária também se tornou
totalmente remota, e isso acaba alcançando muito mais pessoas do que
presencialmente. Para o futuro, alguns dos laboratórios que cresceram na
pandemia terão mais condições de fazer pesquisa. Conseguimos comprar
equipamentos de alta qualidade, e tudo isso vai ficar. Vamos usar muito melhor
as tecnologias de informação. Dadas as condições de que, pela primeira vez, não
tivemos orçamento de investimento por parte do governo federal, a universidade
se reinventou.”
Próximos desafios: “Aprovamos o retorno à presencialidade das
disciplinas dos colegiados de cursos que eram prioritárias. Aproximadamente 15%
das matérias oferecidas em janeiro serão presenciais ou com algum componente
presencial. A retomada tem de ser gradual para garantir a segurança dos nossos
estudantes e professores. Nós temos um plano de retomada em cinco etapas, e
estamos na terceira. As próximas vão depender da evolução da pandemia.”
Manutenção: “Durante a pandemia, inauguramos obras que estavam inacabadas. Algumas estavam há 10 anos paradas, e retomamos. Em parceria com o Governo do Distrito Federal, fizemos o tão pleiteado estacionamento da universidade do Gama; fizemos um prédio de laboratórios; e estamos concluindo as pistas de atletismo do câmpus Darcy Ribeiro, que era uma demanda antiga. Também fizemos reformas — como a colocação de mais torneiras — para a retomada das aulas presenciais. Precisaríamos de um orçamento muito maior para fazer tudo que necessitamos de fato, e isso não é possível. Temos noção dessa limitação, mas trabalhamos para melhorar na medida do possível. Outro problema que temos são as inundações que vêm com a água da chuva na Asa Norte.
Quando a L3 foi
feita, não tinha escoamento adequado; então, temos trabalhado nisso também,
junto à Novacap (Companhia Urbanizadora da Nova Capital). Por enquanto, temos
conseguido ultrapassar esse período de chuvas, mas sempre é um temor enorme.
Para 2022, terminamos a licitação para (abertura de) um centro de pesquisa em
primeira infância, com recurso de emenda parlamentar da deputada (federal)
Paula Belmonte, a do prédio do Instituto de Arte e as de outras obras que vamos
inaugurar. Vamos abrir a pista de atletismo, um prédio do câmpus Ceilândia e um
da Faculdade de Medicina.”