A servidora pública
Vanessa Moura, 40 anos, sentia desconforto na garganta há uns dias. Desconfiada
de gripe, foi ao hospital e fez testes para covid-19 e influenza. Dias depois,
o resultado: positivo para o novo coronavírus. O marido, Fernando Moura, 45, e
o filho, David Moura, 12, também testaram positivo dias depois. A infecção
mudou a rotina da família por 10 dias. "Ficamos isolados em casa. O David
não podia descer para ver os amigos e curtir o fim das férias. Tivemos que nos
adaptar", relata Vanessa.
A alta na taxa de
transmissão causada pela variante ômicron
impactou o dia a dia de milhares de famílias brasilienses. "Estávamos
começando a voltar ao normal. Com os cuidados, voltamos para a academia, a
receber amigos, trabalho presencial", conta Vanessa. Foi a primeira vez
que todos da casa pegaram covid-19 e
só o filho ainda não tinha se vacinado. "Quando ele ia tomar a vacina, eu
comecei com os sintomas", diz. Moradora do Sudoeste, ela relata que
os sintomas foram físicos e mentais. Cansaço, febre e tosse foram os
principais. "Foi horrível não poder sair de casa, sem trabalhar",
complementa.
O dia a dia de quem é
o único a testar positivo na família não é fácil. Vanessa Nicolau de Lima, 35,
está com covid-19 há cerca de uma semana. Ela não sabe como se infectou, mas,
assim que sentiu sintomas suspeitos, começou com os cuidados. "Primeiro
foi uma dor de ouvido e de cabeça. Depois, febre. Até que procurei um médico e
ele indicou que eu fizesse o teste RT-PCR", diz. E o resultado: positivo.
Como mais ninguém na casa de quatro pessoas se infectou com a doença, a
biomédica precisou se isolar e mudar a rotina. "Fico com duas máscaras o
dia inteiro. Até durmo de máscara, e na sala. Na hora das refeições, fico em
ambiente separado", relata.
Moradora de
Sobradinho, ela explica que o maior medo é contaminar a filha mais nova, Mel,
de oito anos. "Ela é a única que ainda não tinha se vacinado por causa da
idade. Quando íamos levá-la a um posto, eu fiquei doente", conta. Semanas
antes, a caçula estava gripada. "A avó ficou doente e pediu para que
buscássemos a Mel na casa dela antes do dia previsto. O pediatra pediu exames e
descobrimos que ela estava com influenza", relata. Elas cumpriram o
primeiro isolamento e, agora, estão em mais um.
Riscos: Segundo o
infectologista do Hospital Santa Lúcia Werciley Júnior, quando
uma pessoa testa positivo para covid-19 é difícil que o
restante da família fique negativo. Mas, não é impossível. "Depende da
carga viral, que é uma coisa que a vacina ajuda a diminuir, e da genética.
Existe um fator genético que é sobre proteínas do organismo a quais o vírus se
liga. Há pessoas com baixa expressão dessas proteínas, assim, o vírus
'gruda' menos nessa pessoa e não se multiplica. Por isso, há quem, mesmo
morando com alguém que testou positivo, não se infecte", explica.
O médico afirma que, a
partir do surgimento de sintomas, é preciso iniciar o isolamento do infectado e
o uso de máscaras em casa. "O ideal é não pegar a doença porque, apesar da
ômicron ter se mostrado menos agressiva, até por causa da vacina, ainda há
pessoas que se contaminam e evoluem para a forma grave da doença",
considera. Werciley explica que os principais sintomas da ômicron são: coriza
nasal, febre, dor no corpo, dor de cabeça e muita tosse.
Ontem, a taxa de
ocupação de unidades de terapia intensiva (UTI) voltadas para o tratamento da
covid-19, na rede pública, estava em 91,76%. Na rede privada, a taxa era de
69,70%. Na fila de espera por um leito de UTI há 115 pessoas, sendo 23 com
suspeita ou confirmação de infecção pelo novo coronavírus.
Covid nos pets: No
início da pandemia, ouvia-se relatos de animais com o vírus. Segundo
veterinários, as infecções realmente ocorreram, mas não há riscos de o humano
transmitir para o animal de estimação ou vice-versa. Os sintomas em animais são
diferentes e não possuem um padrão. Por isso, é necessário investigar e tratar
os sintomas.
A veterinária Ana
Lívia Sousa explica que os sintomas em animais não costumam ser respiratórios.
"É como se fosse outra doença. Normalmente, o diagnóstico é feito com
exame de imagens e sanguíneo. Mas não existe um teste específico para
identificar a covid-19 em animais", afirma.
Ela explica que é
importante fazer a higiene dos animais sempre que retornar com eles da rua.
"A gente sempre recomenda que faça a higiene do animal, mas isso para que
ele não seja um carreador do vírus. Assim como objetos podem levar o vírus para
um ambiente, o animal também pode, mas não como uma infecção nele, e sim, nas
patas, por exemplo", diz.
Ana Isabel Teixeira,
veterinária, explica que há pesquisas, inclusive no Brasil, voltadas para o
desenvolvimento de testes de covid-19 para animais. Porém, por enquanto, não há
nada do tipo no mercado. "É um protocolo adaptado do que é utilizado em
humanos", comenta. A especialista reforça que é preciso investigar para
saber se um animal está com covid-19 ou não, mas ressalta que os casos ainda
existem. "Pesquisas mostram que ainda têm animais se infectando com o
vírus", diz.
Três
perguntas para Ana Helena Germoglio, infectologista
Todos
precisam se testar? Qual o teste mais indicado? É preciso testar as pessoas. E,
caso negativo, não necessariamente a pessoa não possa testar positivo
futuramente. Mas o mais importante é que, quem for positivo, precisa ser
separado do resto da família. O melhor teste é o RT-PCR, mas ele é mais caro,
está mais difícil de ser encontrado e o resultado demora mais tempo para sair.
Então, como opção, a gente faz o teste de antígeno para saber se está ou não
infectado, mas apenas quem está com sintomas. Lembrando que, tanto o antígeno
quanto o PCR dando negativo, é interessante repetir a testagem após 24h ou 48h.
Quando
o isolamento do infectado pode acabar? Nos casos leves e moderados, a
gente considera a nova recomendação do Ministério da Saúde, de sete dias, desde
que esteja sem sintomas há, pelo menos, 24h e sem uso de remédios. Para
pacientes que evoluem para formas graves, são 20 dias. Para sair do isolamento,
a gente não recomenda a testagem. Porque o PCR pode vir positivo nos primeiros
três meses após o diagnóstico, e não necessariamente indica que o paciente vai
estar contaminando outras pessoas. Quer dizer, apenas significa que há
partícula viral ali, material genético do vírus, mas aquele vírus não está
contaminando.
Larissa
recorda como foram as conversas com o marido para convencê-lo a se imunizar
contra a doença. “Estava um dia tranquilo para a gente se vacinar, e as
crianças estão se vacinando bastante, por conta do retorno às aulas”, analisa.
Em tom de brincadeira, ela diz que o momento coincidiu com a terceira dose
dela. “Foi um dia de vacina para a família toda, e deu para convencer o mais velho
(marido). Há também a questão da segurança da família, com os avós deles aqui
em Brasília”, complementa a servidora.
Moradores
de Taguatinga Norte, os também funcionários públicos Alex Klei Siqueira da
Silva, 48, e Gislene Henrique de Souza, 48, tiveram dificuldade para convencer
a filha, Sofia Luna Siqueira de Souza, 7, a não ter medo da agulha. “Para a
gente, a vacina é uma segurança para ela, porque perdemos parentes para a
covid-19. Eu também perdi dois amigos do trabalho”, conta o pai de Sofia.
Alex
reclama da falta de fiscalização do GDF em relação ao controle de aglomerações
e uso obrigatório de máscaras em locais abertos. “Saímos em comércios e vemos
aglomeração e o não uso da máscara, o que acaba aumentando os casos”, critica.
Na visão dele, os comerciantes deveriam orientar melhor os clientes. “Os
próprios empresários pedem que liberem o comércio, mas não prezam por
segurança, como em mesas com mais de seis pessoas”, exemplifica.