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"A voz que nos chama também nos guia"

"A voz que nos chama também nos guia". "Seguindo as normas do meu temperamento e os mantras dos ancestrais: seguirei em frente ainda que não seja exatamente como sonhei. Quase nunca é — não é mesmo?" (Caminho de Santiago de Compostela)


Ouço aqui dentro um barulho de vento, enquanto meus pés pisam folhas secas. Caminhando vou ao longe e contemplo também as paisagens internas. E são elas que me levam a distâncias maiores e também me aproximam de quem sou. Neste Dia das Mães, em que me sinto tão grata pelas criaturas que trouxe ao mundo, também faço as malas para uma nova jornada.


Um voo e depois mais um caminho, desta vez um tanto longo, desafia meus pés doídos e minha alma meio cansada. Há pouco mais de três anos, logo depois de uma linda peregrinação pela Itália, duas amigas e eu começamos a planejar os 800km do Caminho de Santiago. Uma outra amiga se juntou, mas, infelizmente, adiou os planos. O dia D chegou, ainda como um talvez.


Sonho interrompido no início da pandemia, sonho alimentando durante a pandemia e sonho cambaleando agora que o novo anormal voltou a dominar nos dias e noites. Santiago está em mim e eu nele se as intempéries permitirem.


Na véspera, ainda me pego decidindo se apago temporariamente todos os canais com essas conexões mundanas e encaro o desafio de ir mesmo sem estar 100% pronta, se mudo o formato, se jogo tudo ao vento ou se simplesmente aceito o chamado, seja como for. Sinto que é o momento, apesar dos percalços, de uma lesão, de umas dores físicas e internas aqui e ali.


Seguindo as normas do meu temperamento e os mantras dos ancestrais: seguirei em frente ainda que não seja exatamente como sonhei. Quase nunca é — não é mesmo? Os caminhos da gente por aqui são tortuosos, é verdade. Mas nos cabe andar pela trilha com todos os recursos que nos abastecem: amor, paz de espírito, gente do bem, meditação, abraço aos bons propósitos.


Os caminhantes dizem que a ajuda vem, o cajado se mostra e que vamos deixando ao relento tudo o que é pesado demais para carregar. Espero chegar leve, seja como for, independentemente do percurso. Deixar fantasmas e pesos desnecessários em algum lugar dessa travessia já me basta. Na maioria das vezes, não é preciso completar sonhos; só é preciso seguir na intenção de realizar, diria Wandinha, minha mãe, de quem herdei o gosto irreprimível por liberdade. Para você e para todas as mães coragens, todo o meu respeito e louvação.


Ana Dubeux – Foto: Ramon Bacas Fernandez – Correio Braziliense


 

 

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