Em diferentes áreas, a
representatividade feminina é historicamente menor do que a masculina. Na
literatura isso não seria diferente. Mas talvez a grande novidade nesse ponto é
que, no ofício da escrita, as mulheres poderiam estar mais presentes se não
fosse um fenômeno chamado memoricídio.
Esse assassinato ou
apagamento das memórias, no caso das mulheres, faz com que a sociedade caia no
mito de que a mulher produziu menos que homens por conta do papel que a
sociedade impôs durante séculos, como o de donas de casa e esposas, impossibilitando-as
de produzir conteúdo literário.
Como condutora do grupo
de estudos Pensadoras Latino-Americanas, da Rino Educação, mediei o debate
"Qual o lugar das mulheres na literatura?" A discussão foi
enriquecida pelas pesquisadoras doutorandas em literatura brasileira pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Priscila Branco e Janda
Montenegro, além de Carina Carvalho, mestre em estudos literários pela
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Na conversa, descobrimos
que, mesmo com essas imposições de papéis sociais, a mulher nunca deixou de
produzir literatura, podendo ter se igualado aos homens ou, talvez, até
superado. No entanto, pela falta de registros da atuação feminina também nessa
área, hoje temos a impressão de que elas produziram menos.
Ou seja, as mulheres
escreveram e escrevem assim como os homens. O que acontece é que nem sempre
elas chegam ao mercado editorial, seja pelo mau arquivamento, atividade também
dominada por homens, ou até mesmo porque suas ideias são roubadas, como foi o
caso de Karl Marx que utilizou pensamentos de uma de suas contemporâneas como
se fossem dele.
Mas então, já que é
sempre assim, o que podemos fazer? Bem, na mesma roda de conversa debatemos
sobre a importância de dois pontos que ajudam a reduzir esse impacto negativo:
a ocupação de mulheres em cargos de liderança nas empresas e o incentivo à
pesquisa.
O aumento do nome de
mulheres nas lombadas dos livros passou a ser notado entre os séculos 20 e 21.
Isso se deu graças à presença feminina na liderança das editoras. O fato de ter
mulheres ocupando cargos de gestão nessas empresas fez que aumentasse o acesso
feminino, ainda que privilegiado, às estantes das bibliotecas.
E quanto à pesquisa, ao passo que aprendemos com o passado, encontramos diversas obras e feitos de mulheres que não estavam nos registros. Temos aí também a importância do adequado arquivamento. O ideal é que tenha o mínimo de viés inconsciente sobre essa tarefa de forma que evite o memoricídio feminino que acontece ao longo da história. Com mais mulheres pesquisando hoje, além de suas obras serem registros femininos, ainda recuperam aqueles que se perderam pelo caminho.