Caminhamos a passos largos para um impasse político
de grandes proporções e que poderá resultar em desdobramentos imprevisíveis.
Tudo por conta da polarização política, tanto de seus atores principais, quanto
de muitos coadjuvantes em torno de um e de outro candidato. Com essa fórmula
que aí está, seja quem quer que venha, virá com sede de revanche. Em tal
cenário, talvez seja melhor mesmo reduzir tudo a cinzas, reiniciando como
Fênix. A culpa por todo esse sistema disfuncional está lá atrás, em nosso
passado recente, quando próceres do Legislativo, pensando ser melhor resolver
primeiro os problemas pessoais, postergaram as reformas que a nação exigia, com
urgência, para o dia de São Nunca. Com isso empurraram, sine die, as reformas
políticas ou, simplesmente, a desfiguraram a tal ponto que acabaram por
mumificá-las para sempre.
O instituto da ficha limpa foi uma dessas medidas,
essenciais para a moralização, no bom sentido da expressão, do Estado. Depois
de desidratadas, essas medidas perderam o viço e se tornaram leis inócuas.
Fosse aprovada, conforme desejava a sociedade em seu desenho original, tal
medida teria, por seu condão saneador, o poder de afastar da vida pública e do
valhacouto dos cargos políticos toda a espécie de aldrabões e de velhas
raposas, que sempre sobreviveram, e bem, à sombra do Estado provedor.
Sem a ficha limpa, o que temos para as próximas
eleições são candidatos sujos ou mal-lavados a concorrer para os mais altos
cargos da máquina do Estado. Que país pode dar certo em mãos erradas? Eis a
questão. De outra feita, o desmonte, peça por peça, do instituto da prisão em
segunda instância, penalizando, aqueles políticos a quem poderíamos,
eufemisticamente, chamar de “maus brasileiros”, foi outra medida que nos
empurrou à beira do abismo em que estamos.
Sem essa possibilidade orquestrada em uníssono
pelos Três Poderes da República, o que temos para o pleito de outubro são
candidatos a quem não venderíamos, sequer, uma bicicleta velha e sem uso.
Muitos cidadãos chamariam a polícia ao ver tais postulantes à solta nas
vizinhanças. Com um banzé dessa natureza, não surpreende o fato de verificarmos
que quem deveria estar solto, está preso, e quem deveria estar preso, está
solto. Não será surpresa também se nessa toada não notarmos, lá na frente,
candidatos com tornozeleira eletrônica ou com o dorso tatuado com iniciais das
organizações do crime.
O problema que temos pela frente foi erguido lá
atrás. A desconstrução da Lei de Improbidade Administrativa, obra feita pelos
mesmos empreiteiros de ruínas, legou à população a maior coleção de candidatos
ímprobos de toda a história. Eles virão e com eles todas as velhos e conhecidos
truques de prestidigitações, fazendo o dinheiro público sumir diante de todo
mundo.
Outras medidas, preparadas lá detrás, como aquela
referente ao foro de prerrogativa, uma benesse feita para proteger e blindar
malandros, ao não serem aplicada como deveria e a tempo, gestaram, mais uma
vez, uma miríade de aleijões políticos que retornarão para nos atazanar a vida.
Num quadro mal pintado como este, quem quer que venha, virá com sangue nos
olhos.