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Samba e bandeira no pé

Samba e bandeira no pé

Tomassem para si apenas o que está escrito na Bandeira Nacional, os homens públicos deste país poderiam, com segurança, dispensar  milhares de outras leis e preceitos, que enchem os alfarrábios jurídicos. A bandeira, ao contrário do que muitos pensam, não é uma logomarca, à qual o marketing recorre para identificar um produto ou marca. Ela vai muito além, inclusive, do seu sentido político, sendo, antes de tudo, a representação, mesmo que simbólica, de toda a nação, e não apenas de um grupo específico dentro do país. 


“O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim” eram lemas correntes dentro da filosofia positivista do século 19 e ficaram resumidos em nossa bandeira: Ordem e Progresso, sendo essa primeira adotada no sentido de manutenção de tudo aquilo que é bom e que tem funcionamento correto dentro dos princípios da ética. O progresso veio em reforço da ideia de defesa do desenvolvimento, sobretudo, dentro dos parâmetros daquilo que se conhece atualmente por Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). 


Há, portanto, progresso quando o povo é o objeto e fim desse desenvolvimento. No mais, fica ainda subentendido que só se pode haver progresso ou se avançar no desenvolvimento, na medida em que ele é construído dentro da ordem, que também engloba em si os conceitos de ética pública e total pureza de princípios por parte dos homens públicos e de toda a nação.

 

Fácil entender esses conceitos quando se observam que somente as nações que empreenderam um desenvolvimento com base nos princípios da ordem, da justiça, com direitos e deveres iguais para todos é que lograram alcançar o tão almejado progresso. Não há, no atual estágio de evolução humana, como se desenvolver nação alguma que tenha logrado o progresso e a riqueza de sua população, abrindo mão da ordem e da justiça. 


Com base apenas no que está dito acima, fica fácil também entender porque ainda patinamos num subdesenvolvimento crônico, com milhões de cidadãos vivendo na pobreza e sem segurança alimentar. Um olhar atento pelas ruas de nossas metrópoles, dá uma mostra do quanto ainda temos que avançar para sair de onde estamos. Não é só aqui dentro que podemos ter um retrato do nosso descaso com a ordem e com o progresso. 


Quando vemos uma artista brasileira, radicada nos Estados Unidos, filha de família rica e famosa, que teve oportunidade de estudar nos melhores colégios do planeta, se apresentar em público, literalmente sambando em cima da bandeira, limpando os pés e fazendo deboche de sua terra e de sua gente, é que se pode entender que ainda não estamos prontos para a Ordem e muito menos para sua consequência que é o Progresso. 


Quando ouvimos no pedido de perdão um malabarismo vernacular dizendo que o ódio veio de quem respeita a bandeira ou quando notamos que temos que formular leis, como a de improbidade administrativa e outras do gênero, para que os homens públicos e gestores se abstenham de desviarem os recursos públicos em causa própria, vemos bem onde ainda permanecemos e porque estamos onde estamos.


Por certo, os corruptos que ainda infestam este país não viram o que está escrito em nossa bandeira. Se viram não entenderam. Se entenderam o que está escrito e não cumpriram, e se não cumpriram é porque falta gente para fazer valer a lei. Enquanto essa gente de coragem não chega, seguem, como aquela cantora, sambando e sapateando em cima de todos nós. (Vídeo ~~~) 

A frase que foi pronunciada: “Perguntava-se à Sra. De Rochefort se tinha vontade de conhecer o futuro. ‘Não’, respondeu ela, ‘o futuro se parece demais com o passado’.” (Chamfort (1741-1794), Caracteres e Anedotas)

Samba e bandeira no pé

Circe Cunha – Manfil -  Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense


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