O Guará viralizou nos últimos dias e ficou famoso
no Brasil e no mundo. Não entrarei no mérito, darei apenas os meus pitacos
sobre o simpático bairro, quase emendado no Plano Piloto, com a ajuda de meus
consultores e consultoras. Segundo uma delas, o Guará é, de certa maneira,
guardadas as devidas proporções, quase uma extensão do Lago Sul, não
geográfica, mas de perfil social e econômico.
E ela justifica: lá, é possível encontrar casas de alto padrão comparáveis ao bairro do Plano Piloto. Mas, na verdade, existem nuances, gradações e singularidades. A mais marcante é a chamada bomba, me disse uma guaraense da gema, que nasceu e cresceu no bairro. “Que bomba?”, perguntei. E ela fez uma cara de incredulidade como se tivesse avistado um ser extraterrestre, com um olho no meio da testa. “Não, não acredito que você nunca comeu uma bomba???”
Para os ignaros como eu, explico que bomba é um
megasanduíche onde cabe quase tudo de ruim, mas é uma delícia irresistível:
hamburguer, presunto, ovo, maionese, salsicha, queijo, alface, tomate, bacon,
milho, batalha palha, pasta de alho e ervilha.
É a marca registrada no Guará. Cada barzinho ou
boteco se esmera em inventar condimentos personalizados. A cultura da bomba
está plantada em cada esquina. E também a da jantinha, prato que vem do espeto
com alguma carne, arroz tropeiro e vinagrete. E, ainda, a de tomar café, com
pão na chapa, nas infindáveis padarias. A chamada padoca é uma instituição no
Guará.
Um dos endereços mais frequentados para as bombas é
o buteco do Bigode. O litrão de cerveja custa R$ 15. Todas as segundas-feiras,
o dono oferece churrasquinho de graça, não se sabe se por generosidade ou
ardileza de marketing. Vamos comer carne e tomar uma cerveja no Bigode é uma
das senhas dos guaraenses jovens. Outro é o Bar do Iraldi, que abre às 22h e
vira a madrugada. No cardápio não tem comida; só tem bebida.
E vem gente do Lago Sul para beber e conversar até
raiar a alvorada brasiliana naquele boteco democrático. Realmente, a vida
noturna do Plano Piloto só costuma ir até às 22h ou 23h. O Guará balança no
ritmo do reggae. É o lugar do DF que cultiva mais o ritmo jamaicano por metro
quadrado de bar.
Nas poucas vezes em que estive no Guará para
comprar peixe ou camarão na famosa feira tive a impressão de ser uma cidade
bucólica e tranquila. “Só não passe pela Quadra 38 porque é muito perigosa”, me
alertaram. Na feira, os nordestinos e os nortistas encontram as farinhas e os
frutos do mar frescos, com que, exilados no planalto, cultivam o gosto dos
sabores regionais. Famílias paraenses matam a saudade da farinha grossa e
amarelada por lá. É na feira que muitos tomaram, pela primeira vez, o Guaraná
Jesus, importado do Maranhão.
As crianças, os jovens e os idosos vivem muito nas
ruas e praças. Sempre tem muita gente brincando, passado de bicicleta,
caminhando com cachorro ou jogando partidas de dominó ou truco nas rodinhas de
conversa. Em Taguatinga, por exemplo, também existem praças, mas elas costumam
ficar às moscas. O Guará é uma cidade-bairro com ar de vila bucólica.
Uma das minhas jovens consultoras, nascida e
crescida no bairro, jura que, se alguém perguntasse a ela, em qual lugar gostaria
de morar, se pudesse escolher, sem se preocupar se teria dinheiro para comprar,
ela responderia: no Guará, é claro.