Ligando passado e futuro, uma cápsula com vários itens da história de Brasília e de Planaltina foi enterrada, ontem, aos pés da Pedra Fundamental, no Morro do Centenário, em Planaltina (DF). Registros fotográficos, grãos de árvores do cerrado, pen drives com sons de animais comuns da região, cartas de estudantes da região administrativa, desenhos, livros e até uma edição impressa do Correio Braziliense estão dentro do objeto que será aberto somente daqui 100 anos, em 7 de setembro de 2122.
Geovana Vasconcelos, 13 anos, aluna do 5º ano do
ensino fundamental teve a carta que escreveu escolhida para ser enterrada com a
cápsula. “Foi muito emocionante quando me contaram, eu até chorei”, recordou a
menina. No texto, a estudante destacou os pontos que deseja para o futuro do
país, como igualdade, educação e saúde para todos. “Espero que não tenha mais
roubo, que tenha vacina para todos nos hospitais, porque há muitas pessoas
morrendo. Tem que ter escola boa para todos os alunos, com computador e tudo
mais. Acho que todas as crianças têm que ter a mesma condição de estudar em um
bom lugar”, comentou a jovem.
A pintura da Pedra Fundamental de Samuel Guedes, 13, aluno do 6° ano do ensino fundamental, foi outro item escolhido para ficar dentro da cápsula. O garoto comentou que nunca tinha se detido para contemplar o Morro do Centenário, mas foi ao local no dia anterior para se inspirar para fazer a gravura. “Usei tinta e uns brilhos para fazer o quadro. No fundo, desenhei uma paisagem bonita”, explicou o menino. Para Samuel é muito gratificante ter o trabalho escolhido. “Está no centro do Brasil e acho que vai ser uma marca importante quando a tela for vista”, anseia o garoto.
Fazendo história: A Pedra Fundamental faz
parte da história da capital federal e do país. A obra foi inaugurada na
comemoração do centenário da Independência, em 7 de setembro de 1922, ao
meio-dia, pelo então presidente do Brasil, Epitácio Pessoa. Com um formato de
pirâmide, o obelisco fica a 1.033 metros de altitude e 47º39′ de longitude.
Além do ponto, a região é repleta de locais históricos, como a Igreja de São
Sebastião, o Centro Histórico de Planaltina e o Morro da Capelinha. A região é
a mais antiga do Distrito Federal e, em 19 de agosto, completou 163 anos.
Robson Eleutério, coordenador do Ecomuseu da Pedra
Fundamental e historiador, foi um dos organizadores para que a cápsula do tempo
fosse armazenada aos pés do monumento, que é um marco histórico. O pesquisador
é apaixonado pela região e contou que também fez sua contribuição para o futuro
e colocou um livro, de sua autoria, com a história do monumento. “É um ponto
muito importante para a região, passam córregos importantes e foi escolhido
para ser a futura capital do país de forma pensada”, afirmou.
O administrador regional de Planaltina, Célio
Rodrigues, também esteve no evento para celebrar a data histórica. Tendo a
fotografia como hobby, ele comentou que selecionou algumas fotos tiradas ao
longo dos anos para colocar na cápsula. “A emoção de estar aqui é de estar
fazendo parte da história”, comentou, destacando que é incrível ter um
monumento como esse tão próximo à região de Planaltina. “Esperando que nos
próximos cem anos haja esse fortalecimento da interiorização e do
desenvolvimento do nosso país para que ele seja realmente solidificado com uma
nação mais desenvolvida, mais unida”, destacou.
Passeio cultural: Muitos ciclistas
aproveitaram o dia para subir o Morro do Centenário no feriado nacional.
Tirando várias fotos para registrar o momento, o agente de portaria Severo Neto,
56, assistia a movimentação. “Eu fiquei sabendo no dia anterior e resolvi vir”,
conta o morador de Planaltina há 30 anos. “A abertura dessa cápsula não vai ser
para nós, mas é bem interessante a ideia”, comenta, ressaltando que o desejo
para as próximas gerações é para que tenha saúde, segurança e educação.
As amigas Ilsen Franco, 39, e Alice Sampaio, 41, aproveitaram a manhã do Dia da Independência para pedalar até a Pedra Fundamental e celebrar o marco na história da capital e do país. “Nascemos aqui e somos patriotas. A gente tem que levantar nossa bandeira em defesa do país”, destaca Ilsen. A advogada conta que é natural de Rio Branco, no Acre, mas é apaixonada por Brasília, por Planaltina e por ciclismo. Alice destaca que o grupo de amigos sempre faz o trajeto. “A gente ficou sabendo que teria esse evento, mas costumamos pedalar até aqui. Gostamos de adrenalina”, comenta a operadora de caixa.