A derrota do Brasil para Camarões na sexta-feira, como advertiu Daniel
Alves, serviu de alerta para que a Seleção Brasileira não subestime os
adversários e jogue cada partida, a partir do próximo jogo contra Coreia, com o
foco e determinação de um cidadão com fome diante de um prato de comida, uma
das máximas do futebol. Acontece que jamais um campeonato mundial despertou
tanto interesse fora de campo, a partir da escolha do próprio país anfitrião da
competição.
Luta contra a negação de direitos às mulheres, pelo reconhecimento dos
movimentos LBGTQIA , contra regimes políticos totalitários e sem apoio popular,
com fundamentalismo religioso ou não, contra a islamofobia, por uma bandeira
libertária que une quase todos, inclusive com protestos silenciosos
representados pela negativa de cantar o hino nacional ou entrar em campo com as
mãos tapando a boca. Há protestos e manifestações de toda ordem.
Entretanto, é lamentável que a polarização existente em parte da
sociedade brasileira, em razão das eleições presidenciais, seja um fator de
divisão e desagregação dos sentimentos em relação à Seleção que disputa a Copa.
O constrangimento imposto no Qatar ao compositor e ex-ministro da Cultura
Gilberto Gil e sua esposa Flora, por exemplo, foi um fato lamentável,
desabonador para a imagem dos torcedores brasileiros, que, em sua maioria,
estão irmanados em torno da Seleção e não misturam o futebol como a política.
Talvez a questão mais emblemática dessa politização sejam os casos dos
jogadores Neymar e Richarlison. O primeiro é uma das maiores estrelas do
futebol mundial e líder de um grupo que sonha com o título mundial de futebol
desde a Copa da Coreia do Sul, em 2002. O segundo é um jovem centroavante
clássico, daqueles que rareiam nos times e seleções. Neymar se contundiu no
primeiro jogo. Nessa mesma partida, Richarlison marcou os dois gols da vitória
brasileira, um deles uma obra de arte.
Bastou a vitoria sem Neymar para que os memes invadissem as redes
sociais questionando sua presença em campo e enaltecendo Richarlison, um
jogador envolvido com causas sociais e a defesa dos direitos humanos, como se
fosse um novo salvador da pátria. O jogo contra a Suíça mostrou que não era.
Felizmente, o técnico Tite sabe perfeitamente que, dentro de campo, futebol e
política não se misturam e a Seleção não pode abrir mão de Neymar nem de sua
parceria com Richarlison.
O bom senso e o verdadeiro patriotismo recomendam que torçamos para que
isso ocorra, que Neymar, plenamente recuperado, e Richarlison, no ataque da
Seleção, façam toda a diferença. E que a torcida brasileira deixe de lado suas
divergências políticas, que todos vistam a camisa canarinho e torçam pela
Seleção Brasileira, como sempre se fez em todas as Copas.