Lusail — Eles usam mantras como “tá no Catar, tem
que pagar” e “quem converte (a moeda), não se diverte”. Costumam se reunir 10
horas antes dos jogos do Brasil na Copa do Mundo nos esquentas para as
partidas. Um jeitinho caro de driblar a rigidez das leis do país árabe,
anfitrião da primeira edição do principal torneio de futebol do planeta no
Oriente Médio.
O acesso ao 900 Park, uma área customizada de verde-amarelo na paradisíaca West Bay, próximo à praia de Katara, custa R$ 150. Dá direito a uma pulseira, uma latinha de cerveja, copo de chope e momentos de ostentação no mesmo ambiente de influencers, como o humorista brasileiro Fábio Porchat. Uniformizado de torcedor, o artista era uma das centenas de pessoas na balada vespertina.
“Doha me parece um pouco como Dubai, com todos esses países meio artificiais de mentira, que é legal de estar numa Copa do Mundo. E encontrar, no meio do Catar, um monte de brasileiro tomando cerveja já vale ouro”, brincou Porchat em entrevista ao Correio.
A festa tem roda de samba, ilhas de comida e bebidas não alcoólicas, como
refrigerante, suco e água mineral. Há mesinhas espalhadas pela área cedida por
um badalado hotel da região, pufes, música ao vivo com dois telões e uma
romaria de torcedores da estação Al Qassar até o endereço da celebração. Não
tem como se perder. Basta acompanhar o fluxo dos fãs devidamente
fantasiados.
Apesar do preço salgado para a realidade brasileira, mas ok para quem investiu
o que tinha — ou não tinha — para estar aqui, há filas na entrada, com a
revista de segurança. Carentes de um cantinho para o carnaval no Catar, os
brasileiros pagam caro para ficarem juntos ao som de música ao vivo na
caminhada de cerca de 1km até a estação do metrô em direção ao Lusail Stadium,
palco da vitória contra Sérvia (estreia) e da derrota de ontem para Camarões.
“A ideia do esquenta é trazer um pouco do Brasil para onde a gente for. No caso
aqui, Doha. A gente fez esse mesmo esquema na Rússia em todas as cidades em que
o Brasil passou. O plano é sempre fazer uma concentração do brasileiro para se
encontrar, ensaiar as músicas, tomar uma cervejinha e todo mudo ficar no clima
de jogo e caminhar para o estádio fazendo festa”, disse ao Correio Saulo
Mendonça, o Supermano, um dos pioneiros do Movimento Verde Amarelo. Ele é
um dos torcedores-símbolo do MVA. Veste-se de super-herói nas partidas e
supervisiona o esquenta fora do estádio. “A nossa cerveja é a mais barata de
Doha”, gaba-se.
Entre os quitutes oferecidos no esquenta, nada de comida árabe ou brasileira. O
espaço gourmet tem 15 restaurantes. Oferece pipoca, frapês, crepes de avelã,
cerveja e ,claro, e pratos internacionais. Os calorentos podem pedir sorvete na
alta temperatura do inverno catari por R$ 35 ou adquirir uma pizza de pepperoni
a R$ 125. O menu pré-jogo também oferece hambúrguer a R$ 75.
Durante a reportagem, encontramos um grupo de brasilienses. Um deles admitiu o
altíssimo investimento para estar no Catar. No entanto, parou de fazer contas e
passou a aceitar a vida como ela é em um dos paraísos da ostentação do Golfo
Arábico. “Ah, amigo, se está no Catar tem que pagar, quem converte (a moeda)
não se diverte”, disparou, feliz da vida em uma mesa com outros conterrâneos do
quadradinho. Todos felizes, sorridentes e confiantes no hexacampeonato.