A espada da razão
Tão
importante quanto as virtudes morais, também o conhecimento da história
brasileira e mundial deveria ser requisito básico a ser cobrado de um chefe de
Estado. Sem essas informações coletadas do passado, e que são de suma
importância, a compreensão e avaliação do presente ficam prejudicadas,
tornando, também, as antecipações de estratégias para o futuro uma missão
deveras impossível. Ou se possui essas informações e sobre elas se exerce longa
reflexão, ou então o líder será forçado a andar no escuro, tateando e trombando
de frente com os fatos. A outra opção é ficar mudo. É como dizia o filósofo de
Mondubim: “com pouco estofo, faz-se o murcho.” O risco aqui é quando essas
carências e limitações acerca do mundo em volta são bradadas aos quatro ventos,
atraindo para a nação os maus olhares e os ventos da indignação do mundo. O
resto é torcer para que o palavrório destrambelhado não resulte em retaliações
e mesmo não acabe instigando e açulando conflitos.
Muitos são os exemplos vindos da história que mostram os estragos, inclusive com mortes, provocados pela má colocação do raciocínio e das palavras. Pelo conhecimento da história, o indivíduo aprende, ao menos, a não se meter a ser juiz do mundo, pois acaba intuindo que aquele que não consegue ser juiz de si mesmo e de seus atos nunca estará preparado para julgar ou até entender os outros.
Dominar e esvaziar o ego também é lição que se aprende ilustrando a alma com conhecimento. Também é preciso não confundir esperteza com conhecimento. É importante aprender que a ignorância sempre fala mais alto que a sabedoria, porque é alimentada pela bílis amarga e pelo fel das ambições.
Um chefe de Estado que não se apresenta internamente como um aglutinador, na praça do mundo, irá se apresentar como um dissipador, que semeia a discórdia, mesmo que, com isso, siga amealhando inimizades e atraindo maus augúrios sobre todos. Que falta que faz um espelho em casa ou nos palácios! Não um espelho pomposo, desses bisotados e emoldurados com finas camadas de ouro sobre as volutas da madeira e que só reflete o que o objeto quer enxergar. Mas um espelho real, incapaz de omitir verdades, semelhante aquele que confessou à madrasta, no conto A Branca de Neve, que havia em seu reino, alguém superior a ela em formosura, ferindo de morte seu ego imenso.
A falta que faz um assessor mais realista que o próprio rei, alguém capaz de sacar a espada afiada da razão e desferir um golpe de misericórdia contra as tolices. Alguém que tenha coragem de lembrar que mesmo sendo a violência e a ignorância os traços comuns e onipresentes em todo o nosso triste processo histórico, não há necessidade de declarar isso nos palcos do mundo, ainda mais tendo a mídia eletrônica e a Internet como testemunhas.