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À QUEIMA-ROUPA: Marco Aurélio Mello, ministro aposentado do STF

Marco Aurélio Mello, ministro aposentado do STF

Por que, na sua visão, o Fundo Constitucional do DF volta ao debate agora? Ante a falta de percepção maior. Brasília, sediando o Poder Central, é e sempre será um cartão de visita. Não há como desprezar esse fato. 


O relator do arcabouço fiscal na Câmara dos deputados disse que estabeleceu um teto de correção do Fundo Constitucional porque precisava adotar um critério. Mas Brasília não seria única por ser a capital? Estabelecer teto é diminuir a importância, nacional e internacional, da Capital do país. É preciso enxugar a máquina administrativa? Sim. Mas sem o desprezo de valores maiores, da organicidade do Distrito Federal. Foi um ato impensado do Parlamento.   


Por que políticos de várias unidades da federação têm interesse em diminuir os repasses para o DF? Porque deixam de perceber, em visão míope, o que se faz em jogo. O Fundo tem uma razão de ser, perceptível aos bens intencionados - custeia serviços do interesse, não do Distrito Federal enquanto equiparado aos Estados, mas sim da União. É ela a primeira interessada na intangibilidade, na preservação do Fundo. Logo, afastados interesses paroquiais todos os Estados devem buscar preservá-lo.


Mexer no Fundo Constitucional causa instabilidade na gestão e o risco de novas mudanças? Mitigar, seja de que forma for, o Fundo é desconhecer por completo a razão da existência, viabilizando a Babel, a derrocada da gestão e serviços.


Brasília é muito mais do que a sede dos três poderes, das embaixadas e dos organismo internacionais. Acredita que houve discriminação ou desconhecimento em relação a cidade por parte dos congressistas? Acredito na ocorrência de um ato falho, impensado, em termos de consequências. Em primeiro lugar há de estar o bem maior. O Distrito Federal, em termos de organização, o é, presente o fato de sediar o Poder Central, os Tribunais Superiores, o Supremo e as Embaixadas dos Países irmãos.


O senhor acha necessário a existência do FCDF? É indispensável, inafastável em sua grandeza, não cabendo, a partir de óptica invejosa, amesquinhá-lo. Que se tenham em conta os objetivos maiores do Fundo.


Por que Brasília ainda não conseguiu desenvolver uma vocação fora do serviço público ou comércio e serviços, para aos poucos conquistar a autonomia financeira? Como o senhor vê o futuro de Brasília? Brasília acabou sendo vista como um palco de sucesso, ocorrendo grande migração. De braços abertos recebe pessoas e famílias de todos os Estados da Federação. Impossível é exigir estrutura própria a dispensar o Fundo de Assistência. A Administração de Brasília faz o possível na conciliação de receitas e despesas. 


Brasília sofre um ataque orçamentário pela falta de compreensão de parte dos políticos a respeito de prerrogativas da cidade como capital do país? Sim, falta a percepção desapaixonada, a percepção com pureza d’alma.     


O 8 de janeiro criou no país um sentimento de que Brasília faz pouco pela segurança dos poderes da República e recebe uma quantia elevada dos cofres públicos federais? Em 8 de janeiro ocorreu o impensável, à conta de um grupo de baderneiros, não podendo os cidadãos como um todo serem responsabilizados. A segurança investigativa e repressiva- retratada na Polícia Civil, Militar e no Corpo de Bombeiros, é exemplo para os demais Estados da Federação. Correção de rumo pressupõe sensatez. 


Até hoje, 63 anos depois de sua inauguração, Brasília ainda sofre questionamentos por ser a capital. Foi um erro ou acerto instalar a capital no centro do país? Decididamente foi um acerto. O implemento da transferência, de há muito prevista, pelo Governo Juscelino Kubitscheck, foi um avanço memorável, e olha que sou carioca.


O senhor mora aqui há quatro décadas fez essa escolha por que? Como explica Esse sentimento de pertencimento em relação a Brasília?  Tenho mais tempo de Brasília do que estive na Cidade Maravilhosa. Aqui cheguei, com a mulher Sandra, desembargadora, com as filhas Letícia, Renata e Cristiana, procuradora do Distrito Federal, em 1981, deslocado do Tribunal Regional do Trabalho para o Tribunal Superior do Trabalho. Aqui nasceu Eduardo Affonso- Advogado. Meu domicílio é Brasília, com muita honra, tendo residência, sem ânimo definitivo, portanto, no Rio de Janeiro e, como bom carioca, “ praiano “, na Barra da Tijuca. Como julgador divergir muito. Aquiesço: pertenço de corpo e alma a Brasília. 


O que diferencia, na Constituição, o Distrito Federal para receber recursos do FCDF? 
Aqui está o coração da República. 


Há possibilidade de o GDF recorrer à Justiça para preservar o fundo? Sabença geral: a última trincheira da cidadania é o Judiciário. Que jamais falte à nacionalidade.


“Deixemos entregues ao esquecimento e ao juízo da história os que não compreenderam e não amaram esta obra.” O que pensa dessa frase de JK, nesses tempos de ataque à capital cuja missão-síntese é mudar o destino político e econômico do país?
 Frase que estamos a realidade. A história não perdoa os desavisados. Mais uma vez, parabéns a JK.


Ana Dubeux – Foto: Blog-Google – Correio Braziliense




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