Os
dados do Censo de 2022 confirmaram o Centro-Oeste como a nova fronteira
econômica do Brasil. Não por acaso, a região tem atraído cada vez mais
habitantes, destoando das demais áreas do país, que veem a população estagnar
ou mesmo encolher. Desde 2010, o número de cidadãos que vivem no Centro-Oeste
avançou, em média, 1,2% ao ano, mais que o dobro da média nacional, de 0,52% —
a menor da história, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Esse processo de interiorização do Brasil, dizem especialistas, é
irreversível. Além de trabalho, as pessoas estão buscando melhores condições de
vida.
O
Centro-Oeste está sendo impulsionado pelo agronegócio, que cresce a taxas
expressivas ano a ano. O Brasil figura entre os três principais produtores de
alimentos do mundo e é na região que está a maior área agricultável do planeta.
Para sustentar o plantio e a colheita, os produtores têm sido obrigados a
investir cada vez mais na tecnologia e na contratação de mão de obra
especializada. Em determinadas cidades, há falta de trabalhadores, ao contrário
do que ocorre nas periferias das grandes cidades, em que o desemprego encosta
nos 10% e a violência é uma rotina que atormenta as famílias.
Dois
dos principais exemplos de debandada da população são Salvador, que, em uma
década, perdeu quase 10% de sua população, e Rio de Janeiro, que encolheu em
quase 110 mil habitantes. Essas capitais estão entre as mais violentas do país
e as que ostentam índices de desocupação acima da média nacional. Em
contrapartida, duas das quatro cidades que mais cresceram em termos
populacionais estão no Centro-Oeste — Senador Canedo (Goiás), onde o número de
habitantes avançou 84,3%, e Sinop (Mato Grosso), com salto de 73,4%. Os outros
dois municípios ficam em regiões produtoras de grãos: Luís Eduardo Magalhães
(Bahia), que ganhou 79,5% a mais de moradores, e Fazenda Rio Grande (Paraná),
com alta de 82,3%.
O
agronegócio não movimenta apenas o campo. Com a renda gerada pelo plantio, toda
a economia dos municípios produtores de alimentos se movimenta, puxando,
sobretudo, o setor de serviços, com especial destaque para o comércio. O
impacto também se irradia pelo setor público, que é obrigado a ampliar o quadro
do funcionalismo para atender a demanda maior por serviços. É aí que reside o
principal desafio das administrações: garantir que, com o afluxo maior de
pessoas, as condições de vida que todos valorizam não se degradem. Saúde,
educação, infraestrutura e segurança exigem cada vez mais investimentos.
Encravada
na região, Brasília também se beneficia do potencial agrícola, registrando os
maiores índices de produtividade de grãos por hectare do país. A cidade já é a
terceira do Brasil em termos populacionais, atrás apenas de São Paulo e do Rio
de Janeiro. É fundamental, portanto, que o Congresso mantenha os repasses para
o Fundo Constitucional do Distrito Federal. Qualquer alteração na transferência
de recursos por parte da União significará menor capacidade do governo local de
garantir atendimento em hospitais, postos de saúde, escolas e bem-estar social.
A geografia do Brasil mudou e isso deve ser levado em conta pelos gestores.