Se
a música é a marca da nossa geração Brasília, Oswaldo Montenegro representa a
Brasília da minha história. São muitas as canções que fizeram parte da minha
adolescência. Mas uma delas, em especial, me faz reviver o despertar da minha
paixão por essa cidade. "Travessuras" tem na melodia e na letra a
nostalgia que me faz reviver o amor por Brasília. Fui de uma geração que lutou
pelo sonho da liberdade, de um mundo mais justo e solidário. Sou de uma geração
que sentia a dor daqueles que sofriam com a opressão e o abandono do Estado. E
quando gritávamos pelos nossos sonhos sempre tinha alguém que nos dizia que
sonhar era ingênuo. Mas, e daí?
Continuo
sonhando com uma Brasília em que a saúde atenda a todos, independente da
influência política ou da classe social. Que nenhum brasiliense sofra por falta
de remédios. Uma Brasília onde o paciente não perca a vida por ter de esperar
uma fila insensível de cirurgias ou outros procedimentos. Uma Brasília onde as
notícias sobre a saúde pública saiam das páginas policiais e entrem como
exemplo de bem-estar do cidadão.
Sonho
com uma Brasília que os mais pobres não percam a vida em filas de assistência
social. Que os mais vulneráveis nem precisem entrar nessa fila, onde passam
noites e dias enfrentando as agruras do tempo e do abandono, com fome e frio,
atrás do básico para sua família. Sonho com uma assistência social humanizada,
onde os gestores públicos conheçam e realidade dos mais vulneráveis e sintam a
dor dos que estão sofrendo com a ausência e a proteção do Estado.
Fecho
os olhos e penso em uma Brasília onde ninguém perca a vida por falta de
segurança pública. Onde as regiões mais pobres tenham a mesma atenção e
proteção das regiões mais ricas. Onde o respeito das autoridades não seja
privilégio de alguns, mas um direito de todos, independente da cor da pele ou
classe social a que pertençam. Uma Brasília onde ninguém ouça a expressão:
"Você sabe com quem está falando ?". Uma Brasilia sem feminicídio ou
homofobia, nem qualquer outra forma de preconceito.
Sonho
com uma Brasília que empreendedores não precisem corromper o Estado para obter
direitos que são seus ou que não precisem de influência para obter o direito de
exercer seu ofício, para o sustento de suas famílias. Uma Brasília onde os
trâmites burocráticos respeitem a criatividade daqueles que lutam para gerar
emprego e renda e o sustento de muitas famílias espalhadas por nossas Regiões
Administrativas. Uma Brasília onde o empreendedor não precise de conversas
escondidas para realizar seus sonhos empreendedores, e que as travas não sejam
bloqueios de interesses políticos.
Sonho
com uma Brasília onde a cultura seja o instrumento de propagação de Brasília.
Onde nossos artistas possam ter o apoio do Estado para transmitir suas emoções
e mostrar a nossa riqueza. Uma cultura que respeite a nossa arte e não se
submeta a interesses políticos diversos. Uma Brasília que pulsa em seus
sentimentos e que não precise do centro do poder para ser conhecida pela
sociedade. Sonho com um Brasília onde a cultura seja indutora de
desenvolvimento e não fruto de compadrios escondidos entre o público e o
privado.
Sonho
com uma Brasília onde a arrogância dê lugar à humildade e ao respeito, onde a
divergência não seja interpretada como grito de guerra. Uma Brasília que não
submeta seu voto ao dinheiro dos mais ricos, mas à sensibilidade dos que sentem
a sua dor e lutam por suas necessidades. Uma Brasilia consciente, onde a bajulação
dê lugar à sinceridade, onde a transparência mostre o carinho e a atenção por
todos e não por aqueles que frequentam ambientes exclusivos de interesses
impublicáveis.
Sonho com uma Brasília que não se resuma a tijolo e cimento. Onde as obras sejam fundamentais para a sociedade, mas o ser humano seja o grande foco do Estado. Uma Brasília onde o amor se sobreponha ao ódio. Se Juscelino Kubitscheck estivesse aqui, ele certamente diria que era essa a Brasília dos sonhos dele. Foi por essa Brasília que ele tanto lutou. E é por essa Brasília que todos devemos lutar. Para aqueles que tratam com agressão a disputa política, respondo que ainda sou o mesmo menino que fez do som da sua risada, um hino ! Ser feliz é a minha missão e trazer a felicidade para nosso convívio é o meu desafio.