Em
apenas 24 horas, aconteceram mais dois feminicídios no Distrito Federal. Em
sete dias, foram quatro assassinatos. Já são 20 neste ano, superando todos os
registros do ano passado. Patrícia Pereira, de 41 anos, foi assassinada pelo
marido na frente dos dois filhos, no Gama, com um tiro no pescoço. Um dia
antes, Cláudia Barbosa Melo, de 40 anos, foi esfaqueada nas costas pelo
namorado. Chegou a ser internada, mas não resistiu.
O
que está acontecendo é uma tragédia de grandes proporções. Há um massacre de
mulheres no Distrito Federal. Assistiremos calados e caladas até quando? Você
pode me perguntar o que está ao nosso alcance fazer. Também pode ceder aos
argumentos de que se trata de um crime difícil de prevenir. Ou que os
assassinos são loucos fanáticos, machistas possuídos, cidadãos de bem em surto
psicótico.
Na
verdade, esses assassinos são homens covardes, cruéis e sem escrúpulos, que não
conseguem admitir que a mulher tenha vida própria e que os corpos femininos não
estão ao dispor deles. Para a mulher, é uma atitude de risco simplesmente dizer
"não" ou "chega" ou "não quero mais". São
criminosos, nem sequer pensam nos próprios filhos, que levarão para sempre o
trauma da mãe morta.
O
que podemos fazer, cada um de nós, é denunciar homens e proteger mulheres. Não
publicar casos de feminicídio, como sustentam alguns, faz pouco sentido, ao
menos para mim. Obviamente sem espetacularizar o fato, o que acaba expondo as
vítimas e suas famílias e transformando o covarde em herói diante de outros
homens igualmente desumanos.
Devemos
ampliar o debate, abrir a roda e chamar mais gente para uma reflexão séria
envolvendo todos os setores da sociedade. Sem uma política pública séria, uma
rede de proteção mais abrangente e punição severa, nossa cidade e o país como
um todo continuarão sendo casulo de homicidas. Precisamos nos antecipar a eles,
cortar pela raiz, mostrar às mulheres que há quem as proteja, que ela pode
falar, que será acolhida e estará segura se esses assassinos vierem atrás dela.
Fizemos
um debate amplo no Correio em fevereiro no auditório do jornal e entrevistamos,
ao longo do mês, especialistas no assunto. Em julho, faremos outras rodas de
debates e de conversas, chamando acadêmicos, forças de segurança, governo e
representantes do judiciário e de outras entidades que possam somar esforços
para tentar frear essa escalada criminosa contra as mulheres.
Eu
gostaria hoje de estar falando sobre as maravilhosas atletas da nossa Seleção
Brasileira que disputarão a Copa do Mundo feminina; gostaria de refletir sobre
o novo Censo ou sobre os novos rumos da política brasileira após a
inelegibilidade de Bolsonaro. Ou simplesmente das minhas andanças e conversas
com amigas e amigos sobre os tempos estranhos em que vivemos.
Mas
não há nada, repito, nada mais importante do que prestar uma homenagem às
brasilienses cruelmente assassinadas, exigindo punição e justiça, demonstrando
revolta e chamando a todos para pensarmos em soluções rápidas e efetivas. Se
você presenciar qualquer violência contra a mulher, denuncie. Se você sentir
que uma mulher precisa de ajuda, se antecipe e ofereça apoio e acolhimento.