Não se sabe bem as razões desse triste acontecimento, mas é certo que, depois do fechamento do Teatro Nacional de Brasília, fato desabonador para todos os governos que se seguiram, pouco a pouco, ao longo desses mais de 10 anos, os brasilienses vêm se ressentindo com a falta de eventos e espaços voltados para o que de melhor existe hoje no mundo das artes e da cultura.
Houve
uma espécie de apagão geral, inaugurado justamente após o fechamento dessa que
era a casa mais importante de shows da cidade e do país. De lá para cá,
Brasília foi deixando de ser grande polo de atração e de irradiação de cultura.
Nem mesmo nos primeiros anos de construção da capital, quando tudo em volta era
precário, foi assim. Havia naquela época e nos anos que se seguiram um frenesi
e uma agitação cultural solta no ar. Brasília respirava cultura e arte mesmo em
meio à poeira e à correria das construções. Não faltavam eventos e espaços para
as manifestações de arte e cultura. Nesses últimos anos, um imenso e denso véu
parece ter envolvido a cidade num sono profundo. Com exceção do Museu da
República, onde raramente são apresentadas novidades que chamem a atenção do
público.
Restam
aos brasilienses o Museu de Arte Moderna e o CCBB, distantes do centro e pouco
atrativos para o público que não tem carro. Com o encerramento de suas
atividades, por incúria e despreparo de muitos governos, o Teatro Nacional
abriu um vácuo e um vazio imenso. A capital, hoje, está claramente fora dos
grandes espetáculos e shows. De resto o que se tem são apresentações pagas a
peso de ouro e que, além de gosto duvidoso, são para poucos.
A
exceção é a Escola de Música de Brasília e poucos outros exemplos. A época dos
concertos e festivais ao ar livre ficaram para trás. A capital é, hoje, um
lugar monótono, perturbado, por vezes ocupada por shows de música da moda cuja
qualidade artística é nenhuma. A responsabilidade de Brasília em manter o
status de Patrimônio Cultural da Humanidade segue a mesma, embora o fôlego
pareça ter diminuído. De acordo com o título concedido pela Unesco, a
capital dos brasileiros tem a obrigação moral e o destino de ser o centro
cultural do país.
Não
se vê por parte das autoridades a necessidade de criação de escolas voltadas
inteiramente para o desenvolvimento das artes. A arte é, hoje, um elemento
acessório e parece não ter lugar nesses tempos eletronicamente atribulados. É
uma pena, pois há muito se sabe que o ensino e o desenvolvimento das artes são
fundamentais para dar ao ser humano aquilo de que ele mais necessita, que é o
humanismo. Sem arte e sem a vivência artística, o homem é um bárbaro, sujeito à
vilania e à maldade.
Houvesse
prosseguido o seu trabalho, dentro do que foi preconizado na sua formulação
original desde Paulo Freire até Anísio Teixeira e outros educadores, o modelo
da Escola Parque seria facilmente reconhecido hoje como o maior celeiro de
artistas do país, não devendo nada aos grandes centros de artes espalhados pelo
mundo afora. É preciso reconhecer que o título concedido vem muito do trabalho
realizado pelos artistas que colaboraram, lá atrás, na construção de Brasília.
Gente como Athos Bulcão, Burle Marx, Ceschiatti, Bruno Giorgi, Glênio
Bianchetti, Marianne Peretti, Sérgio Camargo, Alfredo Volpi, Joaquim Tenreiro,
Sérgio Rodrigues, Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e muitos outros.
O
maior problema, no caso da produção artística, persiste ainda na sua atrelação
antiga aos ditames do governo. Há ainda entre nós um compadrio entre arte e
governo. O que se mostra necessário, numa terra de escassos mecenas e de
fundações com esse sério propósito, é também o calcanhar de Aquiles de nossa
produção. Como bem ressaltaram os técnicos da Unesco, a concessão desse título
é um fator estratégico não só para o desenvolvimento urbano sustentável e para
a inclusão social, mas, sobretudo, para salientar a importância das artes na
construção de uma cidade mais humana e fraterna.
Brasília surgiu exatamente dessa junção entre arte e arquitetura. Portanto, seu destino natural parece ser prosseguir nesse mesmo modelo, aliando ao bom urbanismo o que de melhor nossos artistas produzem.