Um fato incomum está ocorrendo agora na Venezuela, às
vésperas da eleição para presidente. Para começar, uma grande leva de
venezuelanos resolveu cruzar as fronteiras do país, fugindo do que acredita ser
o prenúncio de um banho de sangue, conforme ameaças feitas pelo atual
mandatário. Pelo sim, pelo não, melhor é ficar longe. O estado de Roraima
voltou a ficar lotado de pessoas fugindo de mais essas ameaças.
Nícolas Maduro conta com uma espécie de guarda
pretoriana, disposta a tudo para assegurar que ele saia vitorioso das urnas,
mesmo que as pesquisas apontem o oposto. A situação interna é tensa. Por outro
lado, muitos observadores que iriam acompanhar o pleito de perto foram
impedidos de entrar no país. O exército brasileiro montou um acampamento
fortificado na região fronteiriça com aquele país. As poucas notícias que
chegam de Caracas dão conta de que o país está sob intenso estado de sítio, com
as forças de segurança de prontidão para agir a qualquer momento.
Neste instante, as escolhas do ditador Maduro se
resumem a comandar um golpe de Estado, sob pretextos quaisquer ou perder as
eleições e deixar imediatamente o país, fugindo para algum outro que não possua
tratado de extradição para os Estados Unidos. Com relação ao Grande Irmão do
Norte, é preciso salientar que, caso Donald Trump vença as próximas eleições,
haverá uma caça a Maduro onde quer que ele se encontre.
A questão é tão grave na Venezuela que já se sabe que
uma possível vitória da oposição obrigará todo o atual governo, incluindo os
principais líderes dos três Poderes e das Forças Armadas, a deixar,
imediatamente, o local, buscando refúgio em outro país. Pelo o que se tem
ouvido, poucos escolherão pedir asilo em Cuba, mesmo com toda a interação
havida entre Havana e Caracas nesses últimos anos. Na verdade, Cuba, que nesses
últimos anos tem se beneficiado do governo Maduro, torce para que o governo
vire a mesa e cancele as eleições, sob argumentos quaisquer, pois sabe que uma
vitória da oposição irá interromper o fluxo de recursos para Havana.
Nesse momento, os serviços secretos venezuelanos estão
com toda a estratégia montada para sabotar as eleições. As ameaças aos
candidatos da oposição e aos grupos que querem o fim do regime ditatorial são
constantes e será um milagre se muitos deles não vierem a perder a vida de
maneira suspeita nas próximas horas.
Sabedor dessa situação delicada, o governo brasileiro
faz cara de paisagem sobre as eleições, pois pressente que, em quaisquer das
hipóteses, a situação é ruim para o Brasil. Em caso de golpe, é previsto que
mais algumas centenas de milhares de venezuelanos irão se juntar aos mais de
sete milhões de compatriotas que deixaram o país nesses últimos anos. Do ponto
de vista político, não há saída honrosa para Maduro, nem para o grupo que o
apoia, dentro e fora do país. A questão aqui é saber que importância possuem as
eleições na Venezuela para o Brasil. A resposta é que tudo o que se passa nesse
momento histórico naquele país, diz respeito diretamente ao Brasil e,
sobretudo, ao atual governo. As eleições agora na Venezuela são um retrato
político do que vive hoje parte da América do Sul. Querer fingir que esse é um
assunto distante e que não diz respeito ao Brasil, não parece ser a melhor
estratégia.
Não seria surpresa se, nesse momento, o governo
brasileiro não se arrependa de ter estendido o tapete vermelho para Maduro, com
todas as honras de Estado e com direito a discursos elogiosos, inclusive a
lições sobre a construção de narrativas. Maduro é um companheiro que deveria
ser sempre mantido a distância. Seu histórico é ruim. As eleições na Venezuela,
caso elas ocorram livremente, deveriam ser acompanhadas da máxima atenção, pois
elas encerram todas as contradições de uma democracia de fachada e podem servir
de lição para outros países do continente.