No
próximo domingo, dia 28 de julho, ocorrerão as eleições para Presidente da
República na Venezuela. Pela primeira vez em muitos anos, a oposição aparece
como franca favorita para chegar à vitória. Entretanto, em discursos inflamados
aos seus seguidores, o atual presidente, Nicolás Maduro, declarou que poderá
haver um “banho de sangue” e uma “guerra civil” no país caso seu adversário, o
diplomata Edmundo González Urrutia, alcance a vitória.
Ao
afirmar que somente o seu triunfo poderia garantir a paz ao país, Maduro revela
o ambiente conturbado e pouco democrático no qual a Venezuela está inserida às
vésperas da definição de seu próximo mandatário.
Na
última década, a Venezuela viu seu PIB despencar 70%. Cerca de 1/5 da população
— mais de 7,7 milhões de venezuelanos — deixaram o país. Embora a economia
tenha começado a reagir a partir de 2022, a situação econômica dos cidadãos
permanece ruim. O que, somado à restrição às liberdades individuais, cobra um
alto preço do governo em termos de popularidade.
Segundo
as pesquisas eleitorais independentes, a situação está amplamente desfavorável
ao presidente Maduro, diante de um eleitorado farto da crise constante e
aparentemente disposto a ir em massa às urnas para votar. Em face desse quadro,
há alguns cenários possíveis para o futuro político da Venezuela.
Possibilidades: Uma
possibilidade é a de que o governo, antevendo a derrota, suspenda, entre hoje e
domingo que vem, as eleições, baseando-se em alguma desculpa que justifique uma
medida extraordinária. A questão territorial da região da Guiana Essequiba é
uma carta sempre disponível na manga e pode ser, a qualquer momento,
instrumentalizada pela criação artificial de uma crise com a vizinha
Guiana.
Outra
possibilidade seria acusar a oposição de alguma ação que causasse algum tipo de
violência, distúrbio civil, ou coisa do gênero, com a decretação de um Estado
de Emergência e acionamento das Forças Armadas. A suspensão das eleições,
entretanto, traria um enorme desgaste ao governo, tanto internamente, junto à
sua própria população, quanto perante a comunidade internacional, que
majoritariamente condenaria a interrupção do processo eleitoral.
Uma
segunda possibilidade seria, ocorrendo as eleições, anunciar-se a vitória
eleitoral de Maduro, o que, em razão da grande vantagem de Edmundo Urrutia nas
pesquisas, geraria uma forte suspeição de fraude eleitoral. Este cenário —
possível em razão do controle do regime sobre o Conselho Nacional Eleitoral e
sobre toda a máquina governamental envolvida nas eleições, além de um débil
acompanhamento internacional — traria o repúdio da opinião pública doméstica e
estrangeira, e um isolamento ainda maior do governo venezuelano. Neste cenário
é certo que ocorreriam protestos e distúrbios civis na Venezuela e um aumento
dos fluxos migratórios em direção aos países vizinhos. Isso teria consequências
para o Brasil, que já é o destino de centenas de milhares de migrantes
venezuelanos.
O
anúncio do triunfo da oposição nas eleições é o terceiro cenário possível. Tal
vitória pode ser formalmente aceita por Maduro, mas rechaçada pelo chavismo
radical, especialmente nos escalões mais altos das forças armadas. Nesse
cenário as consequências são imprevisíveis.
Em
caso de derrota, Maduro ainda governará pelo restante deste ano, ou seja, por
longos cinco meses, até o momento da assunção de um novo governo eleito.
Durante este período, controlando o Congresso, Maduro poderia se dedicar a
reformar leis e criar obstáculos à ação do novo governo, negociando garantias
de que não haja perseguição aos membros do PSUV, o partido de Maduro,
afiançando sua permanência na política venezuelana.
Diante
de um cenário tão incerto, o futuro político da Venezuela permanece envolto em
tensão e expectativas. A comunidade internacional estará atenta ao desenrolar
dos acontecimentos no próximo domingo, esperando que a vontade popular
prevaleça de forma pacífica e democrática.
O
que está em jogo é a possibilidade de um novo rumo para um país exaurido por
uma década de crises, buscando agora caminhos de reconstrução e estabilidade
Resta
saber se a Venezuela conseguirá superar as ameaças de violência e autoritarismo
para, enfim, dar início a uma nova era de esperança e progresso.
Neste
contexto, o Brasil, caso se confirme a vitória da oposição, pode desempenhar um
papel crucial ao promover o diálogo e a mediação. Contribuindo, assim, para uma
transição democrática e pacífica que mantenha a estabilidade na Venezuela, além
do seu entorno sul-americano.