As Olimpíadas de Paris ainda não acabaram, mas já me
garantiram assunto suficiente para escrever um artigo cheio de polêmicas. Antes
mesmo da contestada abertura, ao ar livre e sob chuva, o escracho foi a ida da
primeira dama petista à capital francesa com dinheiro público. A ausência de
Lula ou de seu vice Alckmin não poderia justificar a mobilização de toda a
diplomacia brasileira para obtenção de uma credencial para a esposa do
presidente descondenado. Ela não exerce nenhuma função oficial para acompanhar
a cerimônia de abertura. No entanto, não só a chancelaria brasileira foi
acionada para dar suporte à primeira-dama como, somente em passagens, o governo
gastou 83 mil reais para que "dona Esbanja" viajasse em classe
executiva a Paris. É ou não é um deboche?
O escárnio com a Santa Ceia e com os símbolos cristãos na
cerimônia de abertura foi o primeiro acinte olímpico de relevo. A provocação
aos fiéis foi evidente ao rechear uma paródia da pintura de Leonardo da Vinci,
"A Última Ceia", com referências sexuais e de ideologia de gênero. Há
quem tergiverse, afirmando que a intenção não tenha sido a de achincalhar os
cristãos - mas se havia este risco, por que corrê-lo?
Em contrapartida, o Comitê Olímpico Internacional (COI)
proibiu toda e qualquer manifestação de apreço à religião durante os jogos.
Escrevo o “a” com crase pois o alvo sempre foi uma única religião, definida: a
cristã. Caçoar de Jesus está liberado. Louvá-lo? Proibido!
Fosse a citação de um versículo na língua de libras, como a
feita por nossa medalhista do Skate Rayssa Leal; um beijo em um crucifixo, como
o de Novak Djokovic; ou mesmo o desenho do Cristo Redentor, principal ponto
turístico do Brasil, na prancha do surfista João Chianca: tudo foi objeto de
censura do Comitê Olímpico Internacional. Manifestações religiosas estão
proibidas ou podem ser realizadas apenas se for para escárnio e chacota dos
cristãos? Aparentemente, nem mesmo o COI consegue se decidir.
Aliás, a sexualidade ou a transexualidade, humana, celebrada
pelo espetáculo de abertura, foi também alvo de intensas discussões nos ringues
de Paris. Lin Yu-ting e Imane Khelif, atletas de boxe de Taiwan e da Argélia,
respectivamente, já foram reprovadas em testes genéticos da Associação
Internacional de Boxe (IBA), em 2023, por supostamente carregarem cromossomos
XY nos seus DNAs. As imagens das sovas levadas por suas rivais foram comoventes
e a polêmica, inevitável: a força bruta de Yu-ting e Khelif colocou ambas nas
finais de suas respectivas categorias. Resta saber como ficará registrada para
a história esta edição olímpica caso recebam medalhas de ouro atletas que
saíram na mão contra mulheres, aproveitando-se de uma vantagem óbvia aos
olhos de todos.
Resta saber como ficará registrada para a história esta
edição olímpica: Fora dos ringues e dos estádios, as polêmicas também se
multiplicam. Após a decisão da organização francesa de adotar um "cardápio
sustentável", sobraram reclamações de atletas sobre a qualidade e a
quantidade da dieta oferecida. Desportistas de altíssimo desempenho
submeteram-se a um cardápio vegano por falta de opções proteicas. Várias
delegações foram acompanhadas de cozinheiros de seus países de origem para que
não lhes faltassem os nutrientes necessários para a preparação física. Relatos
da presença de vermes nos alimentos também foram feitos - talvez para combinar
com as péssimas condições do Rio Sena, com alarmantes níveis de toxicidade.
Para quem vive pregando moral em relação à preservação ambiental brasileira e à
defesa da Amazônia, os franceses conseguiram a proeza de interditar seu rio
mais vistoso e mais famoso para as competições de natação em água aberta por
conta da presença de bactérias fecais. Um nojo!
Não foi só a França, porém, que passou vergonha fora das
competições. Nessa categoria, na verdade, a medalha de ouro é do Brasil. Ou
melhor, do desgoverno brasileiro. Até na hora de celebrar a medalha de ouro de
uma atleta mulher e negra, Rebeca Andrade, campeã na ginástica artística desta
edição, o desgoverno petista conseguiu errar feio. O Ministério das
Comunicações, em uma ginástica argumentativa fracassada, tirou Rebeca Andrade
do pódio para fazer autopromoção do governo em um post nas redes sociais. Além
do total desrespeito à atleta, maior medalhista olímpica da história do Brasil,
comprovou o inquestionável parasitismo do PT, que sem méritos próprios para
celebrar não hesita em pegar desavergonhadamente carona no mérito de quem tem.
Tratando de parasitismo, o Estado brasileiro, que quase
nenhum investimento tem feito em esportes ou na promoção de atletas de alto
desempenho, abocanhará quase 30% somente em imposto de renda da premiação que
os atletas receberão. Quanto mais os atletas se esforçarem e vencerem, mais
Fernando Taxad vai ter no caixa do governo para desperdiçar. Ah, perdão,
atualização! O governo Lula acaba de criar mais uma exceção tributária: acuado
pela pressão popular, publicou nesta quinta-feira uma MP para isentar os prêmios
recebidos do pagamento do imposto de renda. Falta excetuar, agora, tantos
outros milhões de brasileiros que pagam imposto à toa para sustentar a corte
brasiliense lato sensu.
Apesar de tudo, parabéns aos nossos atletas. Aliás,
corrijo-me: apesar de tudo, não! Justamente por tudo isso, parabéns aos nossos
atletas brasileiros! Com muito trabalho, suor e disciplina, têm buscado sua
colocação entre os melhores do mundo e muitos têm conquistado o espaço que é
seu. E só seu. Não é conquista de governo A ou de governo B. É dos atletas
mesmo. E do povo brasileiro que, apesar de sofrido e desesperançoso em muitas
frentes no país, não perde a fé e torce com entusiasmo pelos nossos atletas em
Paris.