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Sobre a brevidade da vida

Sobre a brevidade da vida. Não são apenas perdas de medalhas, mas de toda uma existência, que vai demorar a ser apenas saudade. Restam a incompreensão sobre a finitude repentina e o inconformismo que nos faz perguntar a cada instante: "Por quê?

A vida é tão rara. E, algumas vezes, tão estúpida. Nesta sexta, enquanto planejávamos uma capa linda com nossas conquistas olímpicas — três medalhas, uma de ouro, uma de prata e uma de bronze — um avião cai com 62 pessoas a bordo sem deixar sobreviventes. Uma tragédia transforma a emoção pelo bom e belo em comoção. Não há como seguir com alegria. Somos todos agora o luto coletivo e a solidariedade necessária a tantas famílias e amigos que agora lamentam profundamente a vida interrompida dos seus.

Cessam os sonhos sonhados junto com aqueles que se foram. Não são apenas perdas de medalhas, mas de toda uma existência, que vai demorar a ser apenas saudade. Restam a incompreensão sobre a finitude repentina e o inconformismo que nos faz perguntar a cada instante: "Por quê?" Não há respostas fáceis e a aceitação caminha a passos lentos — uma maratona em que se caminha vagarosamente na busca de alguma paz. Rezo para quem venha a tranquilidade, um dia, para todos que aqui ficaram.

A queda do avião, um bimotor da Voepass, que ia de Cascavel, no Paraná, a Guarulhos, em São Paulo, será investigada e esperamos que seja célere o desfecho, que as famílias possam se despedir sem esperar uma eternidade por respostas, ainda que elas não sirvam para aplacar o sofrimento.

Agora nossa torcida se divide entre atletas brasileiros, acostumados a viver o tudo ou nada por instantes em uma prova, na reta final das Olimpíadas, e um povo enlutado que vive e ainda vai viver por muito tempo com a memória do instante em que suas vidas foram apartadas daqueles que amam. Sim, meus amigos, a vida é mesmo esse jogo de empurra entre alegrias e tristezas, tão rara e, de novo, tão estúpida.

Neste domingo de Dia dos Pais, haverá aqueles orgulhosos e também os devastados pela perda repentina de seus filhos. Não há felicidade, nem infortúnio que dure para sempre. Em algum momento, esperamos, esses pais e essas famílias hoje tão tomadas pela dor, poderão sorrir com as memórias que ficam.

Nosso único consolo nessa existência na Terra é a certeza de que devemos aproveitar cada momento bom e feliz que temos ao lado dos nossos — porque eles podem ser muito breves, rápidos, lapsos de tempo. Que todos possam se lembrar sempre da companhia, do sorriso, das refeições em torno de uma mesa cheia de afetos, das alegrias vividas em conjunto.

Fiquemos com essa torcida de que a brevidade da vida seja lição e lembrança do que realmente importa. Fiquemos com as nossas orações por aqueles que se foram e por suas famílias — neste domingo e por muito tempo.


Ana Dubeux – Foto: Nelson Almeida/AFP) – Correio Braziliense




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