Uma pergunta que parece ecoar desde sempre ou, pelo menos, desde
que inventaram as empresas estatais, busca saber, sem evasivas, a quem essas
instituições do Estado realmente servem. A questão ganha uma embalagem mais
personalista, quando se nota que essas empresas, ao contrário de outras
desligadas do Estado e que por isso mesmo têm que se virar para sobreviver num
ambiente totalmente hostil, possuem uma espécie de salvo-conduto, que as tornam
imunes a tudo, inclusive a má administração e aos rigores da falência.
Por suas características exclusivas, as estatais não se enquadram dentro
dos princípios de competição, excelência, transparência e eficiência, que
marcam as empresas dentro de um regime de livre competição ou a quaisquer
outros requisitos próprios do capitalismo. Em regra, as estatais seguem um
enevoado e distorcido princípio do capitalismo de Estado, sem o qual elas não
sobreviveriam num mundo comandado pelas forças do mercado e pela preferência
dos consumidores.
Não por outra razão, mesmo apresentando um rombo de R$ 7,2 bilhões entre
janeiro e agosto deste ano, o maior déficit registrado na série histórica
iniciada em 2002, essas empresas seguem em frente confiantes de que isso é
apenas mais um pequeno detalhe. Notem que esse passivo, recorrente nos governos
de esquerda, não será debitado no caixa dessas empresas, mas na conta dos
pagadores de impostos. Déficit nas contas do governo é um outro nome para dizer
que os cidadãos estão devendo ao Estado, o que pode ser atenuado com o aumento
de impostos e outras taxas.
Diante de uma realidade cruel como esta, a outra pergunta que fica busca
entender porque seguimos preservando as empresas estatais se elas, mesmo com
todo o aporte público, não geram lucros ou benefícios diretos para os cidadãos.
Que se saiba, nunca houve aumento salarial decorrente de bônus gerados pelas
estatais. A não ser na gestão do general Floriano, nos Correios.
Atualmente, as riquezas que essas empresas prospectam fluem diretamente
dos cofres públicos. Em outras palavras, estão nos cofres públicos ou no
Tesouro Nacional, o pré-sal e outras riquezas que essas empresas dizem
produzir. Sendo assim, abre-se aqui a primeira porta a revelar quem as estatais
servem de fato. Primeiramente, servem às políticas do governo no comando do
Estado, mesmo que essas ações contrariem a lógica e o bom senso.
Pela abertura de uma segunda porta, é revelado que as estatais servem
diretamente ao governo, mesmo que dissociado das necessidades da população.
Seguindo em frente por esse labirinto burocrático, verificamos que as estatais,
ao fim e ao cabo, servem aos políticos, sobretudo aqueles alinhados à base
governista. Outras brechas indicam ainda que as estatais servem também às
dezenas de partidos que orbitam em torno do governo. Abrindo-se outras portas,
as quais os públicos não possuem acesso, é visto que as estatais, que a tantos
senhores obedecem, servem também aos chamados campeões nacionais ou empresários
que encontraram, nessas empresas, o filão de ouro que desejam.
Não surpreende, pois, que, em nove de cada dez escândalos de corrupção,
esses personagens são sempre vistos na cena do crime. O que temos é um imenso
balaio estatal, onde estão reunidos membros do governo, políticos e
empresários, todos juntos e misturados. Mas engana-se quem pensa que esses são
os únicos embarcados nesse transatlântico estatal. A eles se juntam, hoje, boa
parte dos artistas, que comungam do mesmo credo ideológico.
Noticiado pela grande mídia, Petrobras, Itaipu Binacional, Banco do
Brasil, Caixa, BNDES, Serpro e outras deram dinheiro a um festival, organizado
pela primeira-dama, que ocorrerá na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, durante o
encontro do G-20. No palco desse evento, estarão artistas como Zeca Pagodinho,
Alceu Valença, Ney Matogrosso, entre outros devotos da esquerda. A última porta
a descortinar o mundo fantasioso das estatais mostra que, internamente, do
ponto de vista dos trabalhadores dessas empresas, nem mesmo os fundos de
pensão, que eles mantinham como esperança de aposentadorias dignas, foram
deixados de fora dessa razia, e hoje amargam prejuízos bilionários. Dizer o
quê?