Uma PEC de autoria de parlamentares do
PSOL, que não só propõe o fim da escala 6x1 no Brasil como prevê um expediente
máximo de quatro dias por semana, oito horas diárias e 36 horas semanais, virou
motivo de debates acalorados nos últimos dias. Dentre vários argumentos, vi
vários extremamente válidos e outros absurdos. Recentemente postei um vídeo a
respeito, em que felizmente a maioria assistiu e compreendeu, mas outros, mais
preocupados em comentar do que assistir, não conseguiram fazer o mesmo. Vamos
ver se escrito fica mais fácil.
Logo de início, deixo claro, mais uma
vez, que não sou contra o fim da escala 6x1, e sim a favor de um debate a
respeito de uma Proposta de Emenda à Constituição que vai além disso. É fato
que tal carga de trabalho é exaustiva e merece no mínimo atenção, consideração
e avaliação de todos, principalmente da nossa parte, parlamentares eleitos para
representar o povo. Se as demandas da população deixam de ser levadas em conta
para discussão, não estamos a representando como deveríamos.
As decisões importantes que impactam
milhões de brasileiros não podem ser tomadas de forma simplória e sem
considerar ou expor os impactos de cada uma delas
A proposta, impulsionada com a frase
“pelo fim da escala 6x1”, também propõe que seja adotada a escala 4x3, com
quatro dias de trabalho e três de descanso em uma jornada de até oito horas
diárias – o que equivale a um total de 32 horas semanais. Este quesito em
específico, puro populismo barato, é bem distante da realidade atual no Brasil.
Além disso, na PEC constam 36 horas ao
invés das 32 da soma, o que leva a 2 hipóteses: não conseguiram fazer uma conta
básica de matemática ou nem se preocuparam em deixar explícito o motivo da
diferença de horas para que todos pudessem entender. Tudo bem que às vezes
aparecem votações relâmpago na Câmara justamente para não termos tempo de
avaliar todos os pontos, porém procuro e indico que todos leiam tudo,
principalmente o que nos envolve. Como apoiar algo tão mal elaborado se
utilizando do “6x1’’ como escudo para suas falhas?
Em entrevista a uma emissora de TV,
Erika Hilton, que propôs a PEC, admitiu que a medida irá gerar impactos e que
pedirá uma audiência pública que abordaria estudos e análises, justamente o
ponto central do meu raciocínio. Que haja o debate sempre!
“Mas Nikolas, se a escala 6x1 é boa,
por que os políticos não trabalham assim?”. Bom, sobre a escala,
especificamente, já comentei no segundo parágrafo, e sobre o questionamento
acho perfeitamente válido e vou muito além. Dizer que defende os trabalhadores
por meio de discursos enérgicos e persuasivos qualquer um faz, mas fazer o que
realmente é preciso, é outra história.
Os brasileiros trabalham em média 150
dias ao ano somente para pagar impostos, algo completamente absurdo. Também na
mesma linha, o governo Lula bateu mais um recorde: o de volume de dinheiro
tirado do bolso dos trabalhadores. O “impostômetro” registrou a marca de mais
de R$3 trilhões neste ano, 20% a mais que o registrado no ano passado.
Lembra do imposto sindical? Pois é, a
mesma esquerda que finge representar os trabalhadores defende o retorno da
obrigatoriedade de mais um tributo. A contribuição sindical despencou 98% em 5
anos após o fim da imposição, um recado bem direto de que a grande maioria não
quer ser forçada a pagar, assim como os vinhos caros e lagostas do STF.
O discurso raso do PSOL é muito fácil
de ser refutado, já que, além de ser base de um governo sem responsabilidade
fiscal, conta com inúmeros parlamentares que esbanjam dinheiro público dos
trabalhadores para financiar campanhas políticas, incluindo Érika Hilton e
Glauber Braga.
Boulos, por exemplo, gastou 16 vezes
mais que na eleição passada, sendo mais de R$80 milhões do dinheiro público, e
perdeu a eleição novamente. Será que os quase R$5 bilhões do fundão não
poderiam ajudar trabalhadores e empresários? Eu apoio a extinção, vamos ver
eles também.
Segundo especialistas, o brasileiro
leva 1 hora para fazer o mesmo produto ou realizar o mesmo serviço que um
norte-americano consegue realizar em 15 minutos e um alemão ou coreano em 20
minutos. Isso quer dizer que, em geral, somos preguiçosos? Não, mas há uma
série de fatores que colaboram para tal desempenho, como os longos períodos de
deslocamento em vias constantemente congestionadas que afetam muitos, inclusive
na região metropolitana de Belo Horizonte, o transporte público precário, a
insegurança devido à alta taxa de criminalidade no país e etc.
Com relação aos empresários, o que pesa
realmente não é ter que pagar FGTS, INSS, 13º e benefícios, e sim serem
sufocados pela burocracia estatal e uma carga gigantesca de impostos como ICMS,
PIS, COFINS, ISS, IOF e por aí vai.
Tão justo quanto avaliarmos a situação
dos empregados é incluirmos a situação dos empregadores, mas novamente ninguém
do lado de lá fala sobre isso, já que o real propósito deles não é diminuir o
Estado e ajudar os brasileiros, e sim fazer discurso populista para buscar os
votos que perderam para continuarem a gastança desenfreada.
Se a esquerda realmente estivesse
preocupada com os trabalhadores, além de abordar os problemas acima, apoiaria a
PEC de Maurício Marcon, que assinei na última terça-feira e que propõe dar ao
trabalhador uma escolha sobre sua jornada.
Queremos oferecer a liberdade ao
trabalhador de optar por um regime flexível, onde ele, juntamente ao
empregador, define quantas horas serão trabalhadas e recebe de acordo com o
tempo dedicado
Esse modelo, inspirado nos EUA, permite
que o trabalhador ajuste seu trabalho às suas necessidades, sem perder
direitos. Também irei propor uma adequação sobre a escala 5x2, que acredito que
consiga dar mais dignidade aos brasileiros, mais saúde física e mental bem como
mais tempo com a família, o que avalio ser imprescindível. Tudo, obviamente,
com todos os estudos pertinentes. É disso que precisamos – e não projetos
lacradores para brincar com o sentimento do trabalhador.
Para mim seria muito fácil buscar mais
popularidade em cima desta pauta sem se atentar e preocupar com o que realmente
importa, deixando a bomba para o governo do qual não sou base. Porém, estamos
todos no mesmo barco e este não é o meu estilo de atuação.
As consequências de medidas sem planejamento
não afetarão primeiramente os componentes dos poderes legislativo, executivo e
judiciário, e sim o trabalhador mais simples que já foi obrigado a fechar o seu
negócio através da frase “a economia a gente vê depois”, enquanto os demais,
incluindo os políticos, continuaram trabalhando e recebendo rigorosamente em
dia.
Um caso complexo como esse não se
resolve apoiando algo mal redigido e impossível, nem falando que quem não
estiver satisfeito com a escala 6x1, que faça o pedido de demissão. O trabalhador
não é vagabundo e não pode ser usado como massa de manobra.
Da minha parte, independente de
manchetes sensacionalistas, continuarei defendendo aquilo que é mais sensato,
afinal a luta é pelo Brasil. Menos impostos e burocracia, mais liberdade. É disso
que precisamos – e não projetos lacradores para brincar com o sentimento do
trabalhador.