As redes sociais não param de falar da
visita ao Brasil de uma comitiva da Relatoria Especial para a Liberdade de
Expressão, da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que é ligada
à Organização dos Estados Americanos. Já a nova velha imprensa, que escolhe
suas pautas conforme seus interesses, resolveu desprezar o assunto. A Folha de
S.Paulo, por exemplo, só na quinta-feira, publicou uma matéria curta, assinada
pela Patrícia Campos Mello, para exaltar uma fala do relator enviado pela OEA,
o advogado colombiano Pedro Vaca. Ele disse que o convite do governo do PT para
que a delegação fosse ao Brasil “demonstra a ampla força democrática do país e
uma abertura à observação internacional e ao diálogo regional”. Declaração
descabida reproduzida por uma imprensa que me enche de vergonha e que,
praticamente ignorando a investigação sobre graves ataques aos direitos humanos
no Brasil, fingiu que Vaca não disse também durante a semana que os relatos que
ouviu das vítimas da tirania que tomou conta do Brasil foram
“impressionantes”...
Uma imprensa de verdade deveria ter, no
mínimo, criticado e rebatido as mentiras e os absurdos incluídos pelo STF em
nota oficial emitida depois do encontro do representante da CIDH com Luís
Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. Foi um cafezinho na sede do Supremo que
durou uma hora e meia, quando as conversas do relator deveriam ter durado no
máximo 10 minutos... O STF acabou admitindo na nota que bloqueou 120 perfis da
rede social X e que todos os usuários foram notificados... Isso é falso. A nota
também expõe a ideia sem nexo de que perseguição política e censura foram necessárias
“para salvar a democracia em momentos importantes”. Essas práticas continuariam
sendo ilegais, mesmo que fossem pontuais, o que nunca foram. A tirania começou
a se estabelecer em 2019 e só piorou desde então. Para não ver nada disso,
seria preciso fechar bem os olhos, cobri-los com uma venda de pano grosso e
escuro e se entregar ao isolamento num porão sem luz no meio do nada.
“Jornalistas” comprometidos com o
regime ditatorial desenvolveram uma capacidade asquerosa de desprezar os fatos,
o mundo real"
Claro que “jornalistas” comprometidos
com o regime ditatorial não precisam de nada disso. Eles desenvolveram uma
capacidade asquerosa de desprezar os fatos, o mundo real... A matéria da
“repórter” Patrícia Campos Mello, da Folha, deu a entender que a “censura a
vozes conservadoras” é balela, que “há um grupo querendo denunciar o que só ele
vê como censura”. E ela parte para a mesma historinha repetida enjoadamente e
num fôlego só pela aliança STF-PT: é tudo “estratégia de políticos de extrema
direita no Brasil de instrumentalização do direito à liberdade de expressão
para desestabilizar as tentativas de responsabilização por atentados à
democracia brasileira”. É o mesmo papinho da Ana Rosa, comentarista da
Globo News: “A gente consegue ver que nesse mundo, com redes sociais dando voz
a todas as pessoas, existe uma parcela da população brasileira que acredita que
está ocorrendo algum tipo de exagero mesmo, limitação na fala, inclusive de
políticos, pessoas públicas... É importante combater esse discurso que está
sendo vendido fora do Brasil, que Elon Musk ajudou a disseminar também, de que
o Brasil é um país em que as pessoas não têm liberdade para falar o que
quiserem”.
A nova velha imprensa acusa os
opositores do regime de “propagar o ódio”, enquanto ataca furiosamente o
presidente americano, Donald Trump, e Elon Musk. Para “o bem do Brasil e do
mundo”, parece que contra eles vale tudo mesmo. Em sua coluna no O Globo, Malu
Gaspar tratou como absurda, como ridícula a afirmação do empresário de que os
Estados Unidos, com Joe Biden na presidência, apoiaram a eleição de Lula em
2022. A Veja fez o mesmo. O título da matéria da revista foi: “Sem provas, Musk
diz que Estados Unidos financiaram eleição de Lula contra Bolsonaro”. No X, a
publicação levou uma bela “verificada” das notas da comunidade: “A Veja
apresenta na manchete uma alegação não verificada como se fosse um fato. Elon
Musk é membro do governo americano e tem acesso a documentos sigilosos.
Portanto, não é possível afirmar que ele não tem provas”. Ora, o empresário
está à frente do Departamento de Eficiência Governamental, criado por Trump
para reduzir o tamanho da máquina pública. E a imprensa acha que ele não
precisa investigar nada para cortar gastos, para economizar recursos dos
pagadores de impostos e dar ao dinheiro destinação decente. Elon Musk teve de
questionar no X: “Como o governo vai cortar gastos, se não sabe quanto é gasto
e em quê?”
Apoiar jornalistas que já não são mais
jornalistas é mais ou menos como permitir que um engenheiro que constrói
prédios que desabam e médicos que mutilam ou matam seus pacientes sigam em suas
profissões. Não dá. É por loucura, mau-caratismo, militância desvairada,
interesses financeiros, ou sabe-se lá o que mais que alguém como Guga Chacra,
no O Globo, assina artigo cujo título é: “Venezuela chavista explica Trump”.
Ele cita dois autores americanos que falam num “autoritarismo competitivo, que
seria um regime em que os poderosos abusam do poder para que as regras fiquem
contra a oposição”. E Guga Chacra e também Reinaldo Azevedo não veem nada
parecido com isso no Brasil... No UOL, o autor dos livros O País dos Petralhas
– volume 1 e volume 2 – faz também um paralelo entre Hugo Chávez e Donald Trump
e avança na escala dos absurdos. Reinaldo lamenta que “falte um STF nos Estados
Unidos”...
Nossa imprensa está possuída. Se o novo
presidente da Câmara, Hugo Motta, declara que o 8 de janeiro não foi uma
tentativa de golpe de Estado, Diogo Schelp, no Estadão, escreve que o deputado
“se prepara para fazer o errado com orgulho, seguindo o exemplo de Trump e
Bolsonaro”... E o jornal ataca ainda com editorial: “Não se transige com o
golpismo... Fala de Hugo Motta compõe mosaico de atitudes que se prestam a
relativizar a evidente gravidade da insurgência bolsonarista”... Se o ministro
da Defesa, José Múcio Monteiro, faz, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV
Cultura, mais uma vez, a mesma afirmação que o presidente da Câmara, Vera
Magalhães e Raquel Landim se revoltam. E Octávio Guedes, na Globo News, afirma
que Múcio e Motta “não podem fazer papel de polícia, de Ministério Público, de
juiz, não podem comentar se algo é crime ou não”. Parece até que ele defende
que políticos não devem se expressar, mas não é isso. Guedes nunca criticou
aqueles que juram que o 8 de janeiro foi uma tentativa de golpe de Estado...
Esses podem falar à vontade, não importa o cargo que ocupem.
Já faz tempo que grande parte da
imprensa se rendeu a uma militância criminosa: A fábrica de hipocrisia e
mentiras da nova velha imprensa trabalha dia e noite, mas esse show de horrores
foi produzido em apenas uma semana. Já na última segunda-feira, o Metrópoles
rompeu todos os limites do absurdo, com matéria na coluna de Mirelle Pinheiro.
O título: “Saiba quem está na linha de frente da trégua histórica entre PCC e
CV”... Alguns trechos caóticos (sob todos os aspectos) da reportagem: “Os
líderes do Primeiro Comando da Capital e do Comando Vermelho estão unindo
forças para enfrentar o Sistema Penitenciário Federal. A linha de frente dessa
‘guerra ao terror’ contra as restrições impostas aos detentos é conduzida pelo
setor jurídico das facções. Os grupos estão unindo forças para pressionar o
governo a flexibilizar as regras do Sistema Penitenciário Federal, sob o qual
seus principais líderes estão encarcerados com rígidas restrições. O acordo,
que vem sendo costurado desde o ano passado, pode impactar não apenas o cenário
dentro dos presídios, mas também as ruas, levando a uma redução nos confrontos
entre os grupos rivais”.
Como um texto assim pode ter sido publicado
por um veículo de comunicação? Não dá para tratar como normal a negociação
entre duas facções criminosas para atacar, e não “enfrentar” como diz o texto,
o Sistema Penitenciário. Não dá para tratar positivamente algo assim. E essa é
a ideia atirada criminosamente com expressões como “unindo forças”, usada duas
vezes, “linha de frente”, “flexibilizar as regras”, “acordo costurado”,
“redução dos confrontos”... A guerra não é contra o terror imposto pelos
traficantes, mas contra o terror de que eles, segundo a “jornalista”, são
vítimas... Não dá para falar em “setor jurídico” de facções... Não dá para
chamar de “líderes” quem controla esses grupos. São, no máximo, “chefes”
mesmo... Bando tem chefe, não tem líder. E não dá para considerar que um
“acordo” entre dois grupos de bandidos perigosíssimos será positivo para a
diminuição da criminalidade. E a jornalista conseguiu suas “informações” com o
que ela chamou de “setores jurídicos” do PCC e do CV, ou falou com a assessoria
de imprensa dessas facções? É tudo muito confuso e muito claro: já faz
tempo que grande parte da imprensa se rendeu a uma militância criminosa.