O presidente Lula, aproveitando o clima
geral de linchamento insuflado pela denúncia criminal da PGR contra o
ex-presidente Jair Bolsonaro, julgou que o momento era adequado para atirar de
novo na anistia. Lula dificilmente perde uma oportunidade para bater nos
feridos, chutar quem está caído no chão e crescer para cima dos que não podem
se defender. É questão do seu caráter pessoal; não consegue evitar.
Lula achou uma boa ideia, com a PGR, o
STF e a parte estatizada da mídia babando na gravata, ficar valente com os
pobres coitados que estão presos por conta da baderna do 8 de janeiro. É o tipo
de gente em quem o presidente adora bater: 100% deles, sem uma única exceção,
são pobres coitados estruturais que não oferecem risco a ninguém, nem vão
oferecer nunca.
“A verdade, naturalmente, é que os condenados
de Alexandre de Moraes não podem ser anistiados porque não cometeram o crime de
golpe de Estado, muito menos somado à abolição violenta do Estado de Direito”
Na sua ânsia de chutar cachorro morto,
Lula parece não ter se lembrado do que já disse contra a anistia – e repetiu a
mesma estupidez dita na última vez em que tocou no assunto. O cidadão, segundo
ele, não tem o direito de pedir anistia “antes de ser condenado”. Nem depois, é
claro – a grande causa do seu governo, justamente, é gritar o tempo todo “Sem
Anistia”, antes, durante e em qualquer circunstância.
Mas, além da mentira de propósitos, há
o fato de que a afirmação de Lula não faz nexo lógico. Muito bem. Quer dizer
que só depois de condenado o sujeito pode se candidatar à anistia? Então podem
pedir anistia, imediatamente, os 370 brasileiros que o STF já condenou pelo
Golpe dos Estilingues, e que já estão cumprindo pena em seus cárceres.
A verdade, naturalmente, é que os
condenados de Alexandre de Moraes não podem ser anistiados porque não cometeram
o crime de golpe de Estado, muito menos somado à “abolição violenta do Estado
de Direito” – como se fosse possível fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Mas
apresentar essa realidade é uma blasfêmia para a teologia oficial do regime.
Não se pode falar nisso, simplesmente – da mesma maneira como um cristão não
pode dizer que Deus não existe. Houve golpe, sim, e se houve golpe houve
golpistas, e se houve golpistas houve necessidade de enfiar toda essa gente na
cadeia. E tem mais: se você achar que pode não ter sido exatamente assim, ou
nem um pouco assim, você é golpista também.
O Brasil de Lula, do ministro Moraes e
da PGR, mais o seu sistema de apoio, demonstram como é fácil para os regimes
políticos cruzarem a fronteira que separa o desrespeito sustentado às leis da
pura e simples crueldade. Pela mesma porta que sai a legalidade, entra correndo
a psicose.