Num mundo ideal, lugar distante muitas léguas de qualquer país de regime
fechado, a gerência da economia, no que tange os produtos alimentícios, seria
realizada diretamente por donas e donos de casa. Ainda não foram inventados
melhores analistas de variação de preços desses produtos do que aquele
representado pelos chefes de família, sobretudo os que se submetem
voluntariamente a uma jornada diária e infinda em busca de melhores preços.
Afinal, essa é uma tarefa vital para todos que buscam sobreviver dentro dessa
selva hostil em que se transformou o mercado.
Obviamente, não por culpa dele próprio, como querem fazer parecer os
técnicos do governo. Na verdade, o mercado, como região onde se cruzam oferta e
procura, tem vida própria, só respondendo aos estímulos externos. No nosso
caso, esses estímulos partem diretamente dos gabinetes instalados na Esplanada
dos Ministérios que, por sua vez, são orientados por uma espécie de premonição
paranormal, vinda do terceiro andar do Palácio do Planalto. Por mais complexas
que sejam as fórmulas embutidas na economia para decifrar a variação
ascensional nos preços dos alimentos, suas causas e efeitos, as donas de casa,
que desconhecem ou desprezam essas fórmulas e outras teorias científicas,
conhecem essa aritmética pela prática, apenas pela observação empírica exposta
nas gôndolas dos supermercados e das feiras.
Há, ainda, outros reflexos nessa guinada dos preços rumo ao Olimpo, que
são o aumento pela procura das xepas e por produtos com prazo de validade
vencido ou prestes a vencer, também com alteração dos dados de validade, a
diminuição das embalagens, o retalhamento de produtos, como carne, queijos e
outros em embalagens menores, entre outras artimanhas. No Brasil, o real vale
cada vez menos. Desde sua criação, em 1º de julho de 1994, nossa moeda perdeu
quase 90% de seu poder de compra. A inflação no preço dos alimentos, mais do
que perturbar o sono tranquilo das donas de casa, aflige o governo. Não pelo
fato correto de que esse fenômeno afeta diretamente a vida dos brasileiros, mas
pela simples razão de que o custo dos alimentos tem reflexo direto no humor dos
eleitores e esse fenômeno pode abreviar a vida política de muitos.
Não fosse pela aproximação das eleições em 2026, a toada seguiria sem
intervenções, indiferente aos reclamos das ruas. Desde sempre, os historiadores
constataram que o motor que move as massas não utiliza como combustível as
ideologias, mas, sim, o espectro da fome. O poder deletério da fome tem movido
o mundo e destruído impérios.
De acordo com a Associação Brasileira dos Supermercados (Abras), que
reúne algo como 1.247 empresas supermercadistas em todo o país e, como tal,
conhece de perto esse fenômeno cíclico do aumento nos produtos da cesta básica,
o preço dos alimentos se apresenta muito acima do que foi divulgado
oficialmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse
é outro problema sério. As donas de casa sabem desse fato por instinto e pelo
bolso. Segundo a Abras, o café torrado aumentou cerca de 40%. O óleo de soja
teve um reajuste de 30%. A carne aumentou quase 30% e o leite, tipo longa vida,
teve um reajuste de aproximadamente 20%. Observem que esses são produtos que
compõem a cesta básica. Com isso, a cesta básica deu um salto de quase 15% em
2024.
Em 16 das 17 capitais analisadas, a cesta básica ficou mais cara. Dizer
que o vilão da cesta é o café, também não corresponde à verdade, uma vez que
entre os ingredientes que contribuem acentuadamente para o aumento dos
alimentos em geral estão fatores de ordem política. É a política econômica com
elevação de impostos, subsídios, bem como o explosivo modelo de gastos
públicos, que favoreceu o aumento da cesta básica. Com isso, segundo o Dieese,
o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas
deveria ser hoje de R$ 6.657,55 ou 4,71 vezes o mínimo atual que é de R$ 1.412.
O brasileiro tem que trabalhar em média mais de 100 horas por mês para adquirir
uma cesta básica, comprometendo também mais de 50% do seu rendimento apenas
para se alimentar.
Num apanhado geral, nem mesmo a abóbora, que veio em substituição à
picanha prometida, escapou dos efeitos desses aumentos com um reajuste de 75%
na primeira semana de 2025, com a abóbora seca custando, agora, R$ 3,15 o
quilo. Até mesmo o halloween desse ano terá que ser cancelado.
Sou apaixonado por essa dupla. Portanto, duplo PARABÉNS!!!!!!!!
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