Na última entrevista
concedida ao programa Entrelinhas, o deputado federal Ricardo Salles (Novo-SP)
fez uma análise crítica à recente fala do presidente da Câmara, Hugo Motta
(Republicanos - PR), em discurso no Legislativo sobre os 40 anos de democracia
no Brasil. Motta opinou que não houve “nunca mais” perseguições e exilados
políticas no país. O presidente da Câmara tem sido criticado por fazer essa
manifestação após um jantar com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Alexandre de Moraes.
“A fala é ruim, né?
Embora a gente sempre dê um desconto, porque esses discursos protocolares de
presidente de Câmara, presidente de Senado, são escritos pela equipe”, avaliou
Ricardo Salles. Para o parlamentar do Novo, as afirmações feitas sobre a
inexistência de perseguição política no Brasil são “irrealistas” e
"distantes dos fatos". “O que ele disse está errado, porque nós
temos, sim, presos políticos hoje no Brasil”, afirmou, levantando exemplos de
investigados pelo 8 de janeiro.
Sem imunidade
parlamentar para a Oposição: O deputado continuou a destacar o panorama
atual do país, mencionando exemplos de figuras políticas que enfrentam
processos sem o devido respeito às garantias legais, como Daniel Silveira, que
está preso, e o deputado Marcelo Van Hattem (Novo-RS), que está sendo
investigado por um discurso feito na tribuna da Câmara. “Nós temos sim
processos políticos, temos sim uma série de supressões das garantias
fundamentais nesses processos”, enfatizou Salles, criticando a crescente
tentativa de censura e a falta de respeito pela liberdade de expressão dos
parlamentares.
Salles também
analisou a decisão do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) de se afastar do
Brasil e pedir licença do mandato. Segundo o parlamentar do Novo, a decisão foi
acertada. Salles explicou que, embora alguns vejam a decisão de Eduardo como
uma fuga, ele acredita que a presença do filho do ex-presidente Bolsonaro nos
Estados Unidos tem grande valor estratégico. “Eu acho que o Eduardo não é nem
pelo risco, mas sobretudo por uma outra razão, que ele tem uma capacidade de
interlocução com esse pessoal lá fora que nenhuma outra pessoa tem”, afirmou.
Salles apontou que a habilidade de Eduardo em manter relações com figuras chave
da política americana, como a família Trump e parlamentares republicanos, torna
sua missão fora do Brasil ainda mais importante. Ele revelou que já havia dito
ao próprio Eduardo: “O seu papel lá nos Estados Unidos é mais importante do que
a sua presença aqui no plenário.”
Comissões da
Câmara: O parlamentar também analisou as mudanças nas comissões da Câmara,
mencionando a presidência da Comissão de Relações Exteriores. Ele acredita que
Luiz Philippe de Orleans e Bragança, deputado do PL e com vasta experiência em
relações internacionais, seria o nome mais adequado para liderar a comissão. A
cadeira, no entanto, foi ocupada por Filipe Barros (PL-PR), parlamentar próximo
ao ex-presidente Bolsonaro. Apesar disso, Salles elogiou o trabalho das
comissões de Agricultura e as perspectivas de figuras como Rodolfo Nogueira
(PL-MS) e Luciano Zucco (PL-RS), destacando-os como “parlamentares competentes
e bem preparados para o futuro”.
Contra invasões de
terras: Outro ponto da entrevista foi a análise sobre o cenário das
invasões de terras no Brasil. Salles não poupou críticas aos grupos como o
Movimento Sem Terra (MST), que considera serem “facções criminosas disfarçadas
de movimentos sociais”. Ele relatou o aumento das invasões no país,
especialmente na Bahia e no Espírito Santo, e destacou que esses grupos
praticam crimes como roubo e sequestro. O deputado também mencionou o apoio
financeiro recebido por essas organizações, que seriam, segundo ele, usados de
maneira indevida. "É tudo balela", reforçou o deputado. Em sua visão,
o governo federal tem incentivado esses movimentos, que, por sua vez, utilizam
os recursos para promover atividades ilícitas, como o financiamento do
treinamento de guerrilheiros.
Plano B para a
presidência em 2026: Salles ainda abordou a questão da futura eleição
presidencial, destacando a importância de pensar em um plano B para o caso de
Jair Bolsonaro não conseguir reverter sua situação jurídica. Salles é firme em
sua defesa de Bolsonaro, considerando as ações contra o ex-presidente como
"absurdas", mas reconhece que a situação jurídica do líder do PL pode
tornar difícil sua candidatura nas próximas eleições. Se isso ocorrer, ele
acredita que Bolsonaro indicará seu sucessor, sendo Tarcísio de Freitas
(Republicanos-SP) o nome mais provável entre os governadores.
"O nome mais
próximo a ele é o do Tarcísio", afirmou, destacando que há outros nomes,
como Romeu Zema (Novo-MG) e Ronaldo Caiado (União - GO), mas também indicando
dificuldades de entendimento com o ex-presidente. Ele também comentou sobre a
possibilidade de Eduardo Bolsonaro assumir a candidatura caso seu pai seja
impedido, ressaltando que o deputado tem "cacife político" para isso,
principalmente pelo trabalho que tem realizado nos Estados Unidos.
Rumo ao
Senado: Por fim, o deputado declarou que está se preparando para ser
candidato ao Senado nas eleições de 2026. Para ele, a renovação na Casa é
essencial para garantir uma representação mais justa para os estados que mais
contribuem com a arrecadação do país, como São Paulo. Salles apontou que o
modelo atual favorece estados com menos arrecadação, que são
"sobrerrepresentados", enquanto os estados que pagam a maior parte da
conta do Brasil estão "subrepresentados". Ele se comprometeu a lutar
por uma maior voz para esses estados, defendendo uma reestruturação da
distribuição de recursos no país e a necessidade de combater a
"farra" do dinheiro público em Brasília.