A Secretaria de
Comunicação da Presidência da República apressou-se em divulgar uma nota, em
meio à celeuma levantada pelo asilo a uma corrupta. A nota sugere que é
“improcedente” qualquer relação entre as coisas da lava-jato brasileira e a
decisão de livrar a ex-primeira-dama peruana da prisão a que foi condenada no dia
em que se refugiou na embaixada brasileira. Não adiantou muito.
As redes sociais já
repetiam no Brasil a manchete do jornal peruano Diario Trome “Corruptos se
protegem”. A Transparência Internacional também foi contundente: “Ao
acolher pessoa condenada por corrupção, o Brasil envia um sinal preocupante de
tolerância com práticas ilícitas que corroem as instituições democráticas e
prejudicam o desenvolvimento de países sul-americanos”.
A Transparência tem
sede na Alemanha; por isso não sabe, como nós, que tolerância com o ilícito é
um mal a que já nos acostumamos e, ironicamente, toleramos.
Pelo depoimento que
se leu em O Globo e se ouviu na GNews, da jornalista Malu
Gaspar, foi Palocci que ajeitou e Lula que pediu a Marcelo Odebrecht os
pagamentos de milhões a Ollanta Humala, que se elegeu presidente com o dinheiro
ilícito.
A entrega era feita
em mochilas com US$ 200 a 300 mil num apartamento tipo Geddel, no bairro
de Miraflores, em Lima, e recebida por Nadine, que hoje está asilada no Brasil.
Ela despejava as notas num armário.
A justiça, com provas, condenou o casal
a 15 anos por lavagem de dinheiro. O Presidente do Brasil continuou generoso e
ela ganhou asilo na embaixada e depois um avião da FAB para vir ao Brasil sem
perigo de receber vaias num voo comercial para Guarulhos.
“A generosidade de Lula acabou por
levantar o óbvio: se uma similar da Lava-Jato vale no Peru para
condenar quatro ex-presidentes e uma candidata a presidente, por que não vale
no Brasil?”
Aqui alegam CEP errado e julgam que o
juiz Moro e o promotor Dallagnol exageraram, mas a materialidade dos crimes
continuou incólume. Confissões, acordos, devoluções, provas; nada deixou de
existir.
Os depoimentos que incriminaram os
presidentes peruanos são os mesmos que citam autoridades brasileiras, assim
como os acordos assinados. No entanto, o Ministro Toffoli anula provas e cancela
devoluções; o Ministro Gilmar se orgulha de ter acabado com
a Lava-Jato e a chama de criminosa.
No Peru tem sido o inverso: os
criminosos são os criminosos. E vão para a cadeia, se não forem acolhidos pelo
governo brasileiro. Aqui, o PT divulgou nota de “integral solidariedade” ao
Presidente Lula, que foi solidário com Nadine Heredia.
O Presidente do Congresso peruano
cancelou visita oficial ao Brasil, por recomendação do Ministério de Relações
Exteriores de lá. Pegou mal o governo brasileiro reagir a uma decisão da
Justiça peruana envolvendo crime comum.
Sobra a curiosidade: o que teria levado
Lula a conceder esse estranho asilo, turbinado por avião da FAB decolando de
madrugada? Apenas generosidade com espírito pascal?
O depoimento da jornalista Malu Gaspar
revela que Nadine é quem mandava na campanha do marido. E sabia de tudo. Teria
ela poder de ressuscitar a Lava-jato no Brasil, também dentro do
espírito pascal?