Surpreendido pela polícia rodoviária
nos Estados Unidos, por trafegar acima da velocidade permitida naquela estrada,
o condutor que portava uma espécie de coleira para cães disse ao policial, que
lhe pediu as documentações do veículo e do condutor, que, na verdade, ele não
era humano, pois já havia se autodeclarado como cachorro e, portanto, não
poderia ser responsabilizado ou penalizado por dirigir em alta velocidade;
afinal, animais não podem ser multados. Ele optou por ser um cão porque era
fiel, gostava de carinho e por aí vai.
O homem fardado, acostumado com
bizarrices, resolveu, para confirmar tão surpreendente justificativa, consultar
o parceiro que estava ao lado do cão em corpo de um humano no banco do carona.
Imediatamente, seu parceiro confirmou a história, crente de que aquela desculpa
iria colocar o policial em xeque-mate, resolvendo toda a questão ali mesmo. O
policial que escutara toda a história surreal não esboçou nenhuma reação de
surpresa, apenas fintou os ocupantes do carro com certa ironia na expressão.
Depois de pensar por um segundo como
fazer valer a lei, mesmo diante de tão grandes espertalhões, sentenciou: Bom se
você é um cachorro como afirma, e está vagueando em via pública, então
mostre-me sua caderneta de vacinação obrigatória. Confrontado com essa
cobrança, o motorista canino olhou para seu parceiro ao lado indagando o que
deveria fazer agora, pois fora encurralado pelo oficial de trânsito. Seu
parceiro ou dono também não tinha resposta para aquela cobrança legal.
Vendo os dois presos em suas próprias
narrativas, o policial ainda emendou: Você já foi castrado, como manda a lei,
para animais que andam em vias públicas? Com aquela pergunta, o motorista
começou a entrar em pânico, ante a possibilidade de ser emasculado por
veterinários, mas, mesmo assim, respondeu: Não sou castrado. Nesse caso, disse
o policial, irei chamar a carrocinha que recolhe animais para providenciar sua
transferência para uma clínica veterinária do estado, a fim de proceder o que
manda a lei.
Seu dono ao lado pode lhe acompanhar
se quiser. Em todo o caso, emendou, o carro e vocês ficarão detidos até a
solução desse problema. Verdadeira ou não, a história acima retrata fielmente
uma situação que, nesses últimos anos, vem surpreendendo as pessoas comuns em
todo o planeta. O fato é que, de uns tempos para cá, pessoas em todo o mundo e
aqui mesmo em nosso país vêm se autodeclarando ser o que acreditam ser ou
fingem que são. O mais surpreendente é que as regras do politicamente correto,
impostas pela onda woke, dizem que as pessoas que ouvem essa e outras
justificativas não devem contrariar ou melindrar a pessoa, mesmo que isso
pareça ser uma maluquice sem tamanho.
Em outros tempos, pessoas que
insistissem nessas narrativas seriam conduzidas, diretamente, para os hospícios,
onde os sedativos potentes e mesmo os eletrochoques iriam acalmar o doido. O
mais estranho nessa nova onda sem sentido é que as pessoas que se autodeclaram
como plantas, animais ou outra coisa qualquer, são ouvidas e até mesmo
respeitadas em sua nova personalidade. Nesse caso, fica difícil distinguir quem
realmente é o louco.
Na verdade, tanto quem aceita essas
narrativas de personificação patológica, como quem afirma ser o que não é,
estão fingindo, mesmo que não aparentem tal. O que mais assusta, nesse mundo
que parece ir ladeira abaixo nas relações humanas, é que, por força de leis
insensatas, redigidas especialmente para atender esse hospício geral, é que as
instituições do Estado acabam embarcando nessa enxurrada amalucada, criando
situações em que, francamente, a realidade se coloca de pernas para o ar, como
num conto de realismo fantástico.
É o que parece ocorrer agora com a
decisão esdrúxula de algumas universidades públicas em abrirem cotas para
indivíduos que se autodeclaram travestis, trans ou não binários. Trata-se do
que agora chamam de “política de ação afirmativa”. Para tanto, os candidatos
precisam apresentar um documento do tipo “relato de vida” ou “trajetória de
transição” ou “processo de afirmação da identidade de gênero”. É preciso confessar
de público que, até mesmo este espaço, que já cuidou de assuntos mais complexos
e sérios, surpreende-se com esse tipo de matéria. Mas como dizia também o
filósofo de Mondubim: “nada do que é humano me é estranho”.