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O governo Lula morreu dentro do Congresso

O governo Lula morreu dentro do Congresso

Não há mais base governista. A mais que previsível derrubada do decreto do IOF veio na forma de uma surra histórica. Foram 383 votos a favor e apenas 98 contrários. Já na votação anterior, que decidiu pela urgência da pauta, havia indicação de tal resultado. Foram 346 a 97. O recado dado pelos parlamentares não poderia ser mais contundente. A elevação do imposto estava condenada desde o exato instante em que foi anunciada pelo ministro Fernando Haddad, sob uma saraivada de críticas do mercado financeiro e dos setores produtivos. O que começou como uma enorme confusão terminou em uma derrota que representou, na prática, a morte política do governo Lula dentro do Congresso Nacional.


Mesmo com a oposição bolsonarista capitaneando as críticas, o saldo da votação é expressão maior de uma debandada dos partidos do Centrão e até daqueles que compõe o campo progressista. PP, MDB, PSD, União Brasil, Republicanos, PSB e PDT têm cargos em todos os escalões, incluindo ministérios importantes. Do total de 383 votos contra o decreto, 243 vieram dessas legendas. De modo que não seria possível derrubar o decreto sem que a base tivesse se amotinado.


O presidente já não é mais visto como um animal político astuto, e, sim, como um líder ultrapassado que parece aborrecido e desinteressado com a própria função


Os movimentos do governo desde o final de 2024 foram todos vacilantes, impensados ou malsucedidos. A protelada reforma ministerial resultou apenas na condução de petistas para ocupar funções estratégicas no governo. Nomear uma sectária de esquerda como Gleisi Hoffmann para comandar a articulação de um governo que precisava lidar com uma base de centro-direita só poderia dar no que deu. Ela que tinha no currículo a passagem desastrosa como ministra da Casa Civil de Dilma Rousseff e jamais poderia ser vista como solução para encontrar estabilidade no Legislativo. Ainda mais considerando a inversão na correlação de forças entre os dois poderes, com o Congresso ampliando sua participação no controle do orçamento via execução impositiva de emendas.


Só um ingênuo, entretanto, excluiria que o principal fator para a deterioração da base de sustentação é a crise de popularidade de Lula. Ninguém quer ser sócio de um governo fraco e rejeitado. Ao problema inflacionário, que já era suficientemente grave, se seguiu o escândalo do INSS, que perdurou e ganhou força durante o terceiro mandato do petista. O presidente ainda é competitivo para 2026, mas nunca esteve tão fragilizado. Seu encolhimento é evidente.


A “estratégia” que vai se desenhado nos bastidores do Planalto como reação à derrota indica que a leitura de parte do governo ignora a realidade política existente. Fernando Haddad, que estava de férias até poucos dias atrás, falou até mesmo em recorrer ao Supremo Tribunal Federal. Seria o equivalente a uma afronta à decisão do Congresso, uma declaração de guerra que geraria uma escalada ainda mais brutal no clima beligerante dos parlamentares em relação ao Executivo. Pior ainda seria deixar de lado a disposição ao diálogo e partir para a antagonização direta entre os dois poderes, buscando estabelecer uma narrativa em que o governo Lula apareceria com aquele preocupado com os pobres e os deputados e senadores como representantes das elites.


O presidente já não é mais visto como um animal político astuto, e, sim, como um líder ultrapassado que parece aborrecido e desinteressado com a própria função. Lula não está numa posição confortável a ponto de se lançar num embate político. Ainda mais no contexto de um confronto que é impossível de ser vencido. O que poderia acontecer, se prevalecer a estratégia de incendiários políticos no Planalto, é se ampliar o isolamento do governo, com mais derrotas sendo produzidas no horizonte e o risco de uma insurgência que comprometa a própria governabilidade de um terceiro mandato que se arrasta perdido em si mesmo.



Guilherme Macalossi - (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados) - Gazeta do Povo


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