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O irmão mais velho que nos defende

O irmão mais velho que nos defende

Não era para estarmos nessa situação. O movimento de resistência contra abusos, arbítrios e ilegalidades tinha de ter surgido há muitos anos, pelo menos seis. Uma revolta popular coesa, massiva, capaz de empurrar o Legislativo para suas atribuições, principalmente o Senado, o “vigia do vigia”. E os congressistas resolveram se encolher. Rodrigo Pacheco tem a maior parcela de culpa, nunca deu a mínima para os pedidos de impeachment de ministros do Supremo. E, como ele fez seu sucessor, seguimos na mesma. Davi Alcolumbre potencializou o absurdo, a revolta, quando resolveu inventar que o Senado “não é órgão de correção do STF” e que “abrir um processo de impeachment de um ministro da corte seria criar mais um problema para o Brasil”.

Fomos abandonados por aqueles que, de alguma forma, deveriam trabalhar arduamente para manter o país em ordem. Em vez disso, eles resolveram se tornar cúmplices dos togados que gritam por aí que foi necessário rasgar as leis para “salvar a democracia”. Para piorar, tamanho absurdo passou a ser defendido por grande parte da imprensa. Agora, sem arrependimento nenhum, essa turma travestida de jornalista anda por aí dizendo que, como a democracia foi salva, está na hora de voltar a respeitar a Constituição, o devido processo legal, os princípios mais básicos do Direito. Chega a dar nojo de gente assim, capaz de adulterar os personagens das histórias reais, fazer do inocente um criminoso, fazer do criminoso a vítima, o acusador, o investigador, o julgador, quase um super herói.

"Os alunos que tinham um irmão mais velho e mais forte na mesma escola sempre podiam encontrar nele uma proteção para as horas de sufoco. E o nosso “big brother”, no sentido original da expressão, é a América"

Nessa situação, o socorro ao Brasil de verdade pode estar vindo de fora, dos Estados Unidos. É como aquela história dos tempos de colégio... Os alunos que tinham um irmão mais velho e mais forte na mesma escola sempre podiam encontrar nele uma proteção para as horas de sufoco. E o nosso “big brother”, no sentido original da expressão, mais do que nunca, é a América. Portanto, aqueles que reclamam da demora na adoção de sanções contra Alexandre de Moraes por meio da Lei Magnitsky não pararam para pensar... Donald Trump reassumiu a presidência americana há apenas cinco meses... Controlem a ansiedade, por favor. Nos Estados Unidos, as leis são cumpridas, todos os trâmites legais; nada é feito de acordo com a cachola de um poderoso de ocasião qualquer, e muito menos cumprindo prazos alucinados de 48 horas.

Se ainda não dá para abrir uma contagem regressiva para que sejam despejadas sobre Alexandre de Moraes as pesadas punições previstas na Magnitsky, já dá para contar os dias para a adoção de outra reação americana direta contra o bárbaro ministro do STF. O Tribunal do Distrito Médio da Flórida expediu uma nova citação contra Moraes, depois de um pedido do grupo de mídia do Trump e da plataforma de vídeos Rumble. As empresas movem uma ação contra o magistrado, que é acusado de censurar conteúdos publicados nessas redes. A nova notificação foi determinada depois que a primeira tentativa de citação, feita em março, foi frustrada. Agora o ministro do Supremo recebeu um prazo de 21 dias para apresentar uma resposta formal à ação ou uma petição para contestar o processo. Se ele nada fizer, será processado (e provavelmente condenado) à revelia.

A Rumble e a Trump Media alegam que Moraes violou a Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos, que garante a liberdade de expressão, ao ordenar a remoção de contas de influenciadores conservadores brasileiros e por outras “tentativas de censura”. As duas empresas pedem que a Justiça americana declare as ordens de Moraes “inexequíveis” em território americano, por violarem a Constituição dos Estados Unidos, que ainda é respeitada, ao contrário da brasileira. Solicitam também indenização financeira – por “prejuízos à reputação, perda de receita e oportunidades de negócio” – e a responsabilização pessoal do ministro brasileiro. Em seguida, os próprios censurados poderão igualmente pedir ressarcimentos ao magistrado brasileiro. Na primeira petição também foi citado o inquérito aberto por Moraes, “a pedido da PGR”, contra o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro como exemplo de “abuso de autoridade”.

E não acabou... O processo aberto por Filipe Martins nos Estados Unidos para identificar quem inseriu o registro falso de um desembarque dele em Orlando, na Flórida, em 30 de dezembro de 2022, está caminhando. Uma testemunha com acesso técnico aos sistemas da agência responsável pela segurança alfandegária e migratória dos Estados Unidos deve depor em julho. A falcatrua envolvendo o nome do ex-assessor de Jair Bolsonaro embasou sua prisão... Filipe Martins ficou na cadeia preventivamente por seis meses. Seria surpresa para alguém se a ordem para a execução da fraude tivesse partido de um certo gabinete de um certo ministro do Supremo? Sim, a pergunta pode ser retórica, é o que se espera. Vamos aguardar. E não tenhamos vergonha de depender da ajuda externa para tentar dar um jeito no Brasil. Um movimento doméstico, interno ainda será essencial, mas ninguém encurralado num canto da escola por colegas malvadões vai dispensar a ajuda do irmão mais velho musculoso e bom de briga.


Luís Ernesto Lacombe - Foto: Imagem criada utilizando Whisk -Gazeta do Povo


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