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Haddad, o pombo

Haddad, o pombo 

Há um antigo ditado — daqueles que revelam mais sobre a vida do que muitos tratados de filosofia — segundo o qual não vale a pena discutir com um idiota. A imagem é conhecida: debater com ele é como jogar xadrez com um pombo. O pombo desce, derruba as peças, suja o tabuleiro e ainda sai batendo asas como se tivesse vencido a partida. É uma parábola simples, mas de utilidade inesgotável no Brasil de hoje.

 

Nas últimas semanas, o ministro Haddad decidiu oferecer ao país uma demonstração prática do fenômeno. Segundo ele, a oposição teria abandonado o debate econômico para falar de segurança pública — e teria feito isso, pasmem, porque “o governo venceu na economia”. 


É uma conclusão tão desconectada da realidade que deveria constar em manuais internacionais de autoengano. Basta olhar em volta: a taxa de juros permanece entre as mais altas de nossa história recente, o endividamento explode, a dívida pública cresce sem freios, as contas se deterioram mês após mês, e a única criatividade do governo está em aumentar impostos. 


Desde 2023, já são 27 iniciativas de arrocho tributário — vinte e sete! — tirando recursos de quem trabalha e produz, e, mesmo assim, o rombo fiscal só aumenta. A economia ainda cresce, é verdade, mas empurrada pelas reformas realizadas entre 2016 e 2022 — justamente aquelas que o pombo Haddad tanto critica. E até esse fôlego começa a rarear após três anos de comando errático da política econômica.

 

E, como pombos raramente voam desacompanhados, surgiu nesta semana o mini-pombo: o secretário-executivo da Fazenda, que repetiu o mesmo discurso ensaiado. Para ambos, a economia brasileira estaria com “os problemas resolvidos”. Se não fossem pombos, poderiam tentar emprego nas lendárias Organizações Tabajara, do inesquecível seu Creisson, aquele que vendia milagres embalados pela frase “seus problemas se acabaram”. Faltou apenas o selo de garantia. 

Mas a realidade, essa velha senhora que não negocia com fantasia, mostra outra história. A segurança pública tomou o centro do debate não pelo suposto sucesso da economia, mas pelo fracasso ainda maior da política de segurança deste governo. Estudos indicam que cerca de 25% da população brasileira vive hoje em áreas controladas por facções criminosas. Em termos simples: um em cada quatro brasileiros habita um território onde o Estado não entra e onde a lei é ditada por organizações que não constam no Diário Oficial. (Governos podem ignorar fatos, mas fatos não ignoram governos.)

 

"Você pode até discutir com um pombo, mas o pombo continuará pombo — e o país continuará sofrendo as consequências de políticas equivocadas"


A incompreensão do pombo e do mini-pombo sobre a segurança pública só é menor do que a incompreensão de ambos sobre a economia. E, em 2027, quando um novo governo tiver de arrumar a bagunça que eles deixarão, veremos a mesma cena conhecida: ambos dando entrevistas, derrubando as peças, sujando o tabuleiro e batendo asas como se tivessem vencido o jogo.

 

Estatais acumulam prejuízo? Os pombos cacarejam: “é investimento”. O déficit explode? Batem asas e garantem: “é superávit”. Surge a crise fiscal? Emporcalham o tabuleiro e berram: “gasto é vida”. Pombos não aprendem nada, não entendem nada e, sobretudo, jamais admitem nada. São pombos — e acreditam sinceramente que estão jogando xadrez.



Adolfo Sachsida - (Foto: Andre Borges/EFE) - Gazeta do Povo 


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